365 DIAS DE HISTÓRIA DE MUZAMBINHO
Terça-feira, 6/1/2015
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especial para Muzambinho.Com
EDIÇÃO 6
Pedro de Alcântara fundou
Muzambinho, mas não foi o único fundador!
Otávio
Luciano Camargo Sales de Magalhães
A MUZAMBINHO DE 1874
Em
1874 Muzambinho ainda era um dos distritos de Cabo Verde, juntamente com
Conceição da Boa Vista, atual Divisa Nova, e São José dos Botelhos. Muzambinho
ainda era chamada de São José da Boa Vista.
O
Almanach Sul Mineiro de 1874 trás informações importantes sobre Muzambinho
daquela época, inclusive, a indicação de que os fundadores de Muzambinho
seriam:
-
Pedro de Alcântara Magalhães
-
Antônio Joaquim Pereira de Magalhães
-
José Garcia da Ressureição
-
José Joaquim Machado
As fontes que dizem que o único
fundador seria Pedro de Alcântara remetem ao ano de 1897, a Lei 87. A
informação de que ele seria o fundador foi repetida no livro de Moacyr Bretas
Soares no ano de 1940 e depois propalada pela cidade nos jornais “O
Muzambinho”, “O Correio do Sudoeste”, “O Impacto”, “A Folha Regional” e
“Imprensa Livre”.
Ora, temos uma fonte de 1874, de
quando Pedro de Alcântara Magalhães ainda é vivo, que apontam mais 3
fundadores. Há um jornal de 1940, edição de “O Muzambinho”, que fala em Pedro
de Alcântara, José Garcia e José Joaquim. A Wikipédia fala em Antônio Joaquim
Pereira de Magalhães, que também seria fundador de Machado, sem citar José
Garcia e José Joaquim.
A importância do texto ora
apresentado é que ele coloca luzes sore essa questão, e, ainda trás uma versão
romântica e bucólica da paisagem de Muzambinho.
Sobre o município que Muzambinho era
distrito, Cabo Verde, há várias informações importantes, fala-se da assustadora
estatística criminal do município, e culpa-se a extensão territorial (p. 382)[1]
O município sede possuía 200 casas,
sendo 2 sobrados, portanto, mais do que Muzambinho, com apenas 110 casas e 1
sobrado.
A Câmara Municipal de Cabo Verde era
composta por: Cesário Cecílio de Assis Coimbra. Elias Álvaro de Moraes Navarro.
Francisco Xavier de Paula Assis. Francisco de Paula Machado de Araújo. João
Ribeiro do Prado. Theodoro Cândido de Vasconcelos Manoel Joaquim da Rocha, e secretariada por
Agostinho Luiz Pereira Bittencourt, tendo como procurador Marcelino Aurélio de
Mendonça e Fiscal Cândido Bueno de Moras Navarro. O primeiro nome da lista era
residente no distrito de S. José da Bôa Vista, na sede da freguesia.
DR. SEVERINO EULÓGIO E ARY BARROSO
O juiz municipal listado no Almanach
era o Dr. Severino Eulógio Ribeiro de Rezende[2],
e tinha como substituto o Tenente Coronoel Luiz Antônio de Moraes Navarro, o
Barão de Cabo Verde, pai do Cel. Francisco Navarro.
Uma curiosidade sobre Severino
Eulógio Ribeiro de Rezende, nascido em 1842, é pai de Angelina de Resende,
nascida em 1887 e morta em 1909 de tuberculose. Angelina é mãe de um dos mais
célebres cantores brasileiros, Ary Evangelista Barroso, o Ari Barroso.
Angelina
de Resende, filha de Severino Eulógio e mãe de Ary Barroso
Fonte de
Geni.Com
Apesar de ter nascido em Ubá, Ary
Barroso é muito importante para nossa região por três motivos:
- Seu avô foi o
primeiro juiz de Cabo Verde (citado nesse Almanach)
- Ele se apresentava
em Poços de Caldas no início de sua carreira
- Ele foi juiz
municipal em Nova Resende, tendo tomado posse em Muzambinho, mas, por lá, ficou
pouco tempo – por sinal, depois que pediu exoneração do cargo efetivo de juiz,
nunca mais atuou na área.[3]
Ary
Barroso
Fonte de
Geni.Com
AINDA SOBRE OS FUNDADORES
Mesmo que a Lei 87 de 1897 fale apenas de Pedro de Alcântara, há algo
revelador no túmulo do mesmo, que é citado na Lei.
Numa
das faces da lápide, está escrito:
Pedro de Alcântara
Magalhães
28 de outubro de 1800
18 de fevereiro de 1878
Homenagem
Da Câmara
Municipal
1898
Veja que isso diverge da informação do genealogista
Isoldi de que ele teria falecido em 17 de fevereiro de 1877, podendo qualquer
uma das duas informações serem verdadeiras, pois, a lápide foi feita vinte anos
depois do falecimento do fundador
Agora, a surpresa! No mesmo túmulo, na outra face está escrito:
Capitão
José Joaquim Machado
Nascido 22 de Maio
De 1816
Falecido em 29 de
Julho de 1856
Outro fundador de Muzambinho no
mesmo túmulo construído pela Câmara Municipal! Será que havia uma outra lei
desaparecida sobre os ossos deste? Ou não haveria lei, tendo em vista que ele
não estava enterrado na Igreja, como estava Pedro de Alcântara? Ou a Câmara
homenageou um, mas resolveu manter na mesma tumba o outro fundador? Ou não
haveria ali corpo algum, apenas homenagem?
Não sabemos! Mas concluímos que este
é o mesmo nome que aparece no Almanach Sul Mineiro, e é o mesmo nome que
aparece em outras fontes como fundador de Muzambinho!!!
Qual seria a lógica dele estar lá,
se Pedro de Alcântara fosse o único fundador?
O túmulo
dos fundadores
CONCLUSÃO
Os fundadores de Muzambinho foram:
- Pedro de Alcântara Magalhães
- Antônio Joaquim Pereira de Magalhães
- José Garcia da Ressureição
- José Joaquim Machado
Também
disponibilizamos a íntegra do Almanach Sul Mineiro.
Freguezia do S. José da
Bôa-Vista
Almanach
Sul Mineiro[4]
As montanhas da Suissa não tem cenas
mais encantadoras, nem sítios mais pitorescos, que os que se vê em muitos
pontos do sul de Minas.
Visitai a freguesia de S. José da
Bôa-Vista, colocada no alto de um monte, cercada de majestosos pinheiros, tendo
aos pés vales profundos, imensas quebradas e lindas planícies e vereia que
naquela parte da Europa não há lugares que causem maior admiração.
Como toda povoação que está situada
no cume de um monte esta freguesia é vista de longe, e portanto gozão seus
habitantes do espetáculo grandioso que oferecem horizontes sem fim, serras e
vales que parece se acabam junto ao céu.
Consta a povoação de um extenso
largo[5]
em que está a igreja matriz, consagrada à S. José, e de 9 ruas perfeitamente
alinhadas, e tem 110 casas sendo uma de sobrado.
O clima desta localidade é
magnífico, pois até hoje nenhuma epidemia a invadiu, e embora longe de recursos
médicos, a mortalidade aí é menos que regular.
Foi elevada a distrito de paz pela lei
n. 1095, de 8 de Outubro de 1860, fazendo parte da paróquia de Cabo-Verde, e
promovida à freguesia pela lei n. 1277, de 2 de Janeiro de 1866.
José Moreira Braga e João Vieira
Homem, já falecidos, foram os doadores do terreno que constitui o patrimônio da
freguesia de S. José da Bôa-Vista, e tomarão interesse pela criação desta
localidade, Pedro de Alcântara Magalhães, Antônio Joaquim Pereira de Magalhães,
José Garcia da Ressureição e José Joaquim Machado.
Cultiva-se cana, café e cereais, e
as necessidades do lugar que reclamão mais urgente satisfação são as seguintes:
factura do cemitério, construção de um pequeno aqueduto para se ter na povoação
boa água potável, provimento da cadeira pública de primeiras letras, já criada,
e uma agência de correio.
Satisfeitas estas necessidades,
pode-se deixar ao esforço e hábito de trabalho dos habitantes da freguesia de
S. José a Bôa-Vista, seu desenvolvimento e progresso.
Distâncias
– Dores de Cabo-Verde, 3 ½ léguas; de Caconde, em S. Paulo, 4; de Dôres de
Guaxupé, 4; de Santa Rita do Rio-Claro[6],
6; de S. Joaquim da Serra Negra[7],
10; do Areado, 7; da Campanha, 25; do Rio, 90; de Ouro Preto, 80; da estação da
Bôa-Vista, na estrada de ferro de D. Pedro II, 47.
Eleitores
– Dá 8 eleitores, tendo qualificados 400 votantes[8].
Correio
– Não tem agência de correio; - para Cabo Verde deve-se remeter a
correspondência dirigida para a freguesia de S. José da Bôa-Vista.
Juízes de paz, José
Maximiano Villas-Bôas da Gama. Luiz Antônio Pinto. Carlos Antônio da Silva
Gomes. José Lino do Prado.
Escrivão:
Manoel José de Abreu.
Suplentes do subdelegado. 1 Francisco Antonio de Figueiredo. 2 Francisco Boeno
de Azevedo. 3 Vago.
Fiscal. Francisco
Silvério de Araújo.
Instrucção pública. Delegado, Francisco Antônio Boeno. Professor, Vago.
Culto publico. Vigário da egreja, Padre Valencio Palladino.
Eleitores geraes, João Candido Marques. Miguel Custhodio de Bastos. Francisco Antonio
Boeno. João Januário de Magalhães. Vigilato José de Souza Vasconcellos. Cezario
Cicilio de Assis Coimbra. Joaquim Moreira da Motta. José Maximiano Villas-Bôas
da Gama.
Ditos especiaes, Não se procedeu á eleição.
Fazendeiros mais importantes. D. Anna Joaquina de Jesus. Antônio José Corrêa. Carlos
Antônio da Silva Gomes. Domingos José Gomes. Francisco Antônio Ferreira.
Francisco Antônio de Figueiredo. Francisco Antônio Boeno. Francisco Alves de
Araujo. Francisco de Paula Ferreira. Francisco Antonio da Silva. João Januário
de Magalhães. João Ferreira de Araujo. Joaquim Pedro de Figueiredo. Joaquim
Antonio de Rezende Primo. Joaquim Antonio Boeno. Joaquim Theodoro de Almeida.
José Tristão de Carvalho. José Antonio da Silva. Luiz Antonio Pinto. Manoel
Garcia Pinto. Quintino Ribeor de Souza. Raphael Antonio Marques.
Commercio. Capitalistas, D. Anna Joaquina de Jesus. Cezario Cicilio de Assis
Coimbra. Prospero Paoliello. Quintino Ribeiro de Souza. Vigário Valencio
Palladino.
Negociantes de fazendas, ferragens, armarinho, etc. Antonio Gomes de Oliveira. Coimbra & Coimbra.
Francisco Boeno de Azevedo. Joaquim Moreira da Motta. José Maria Paoliello.
José Lino do Prado e Filho. José Maximiano Villas-Bôas da Gama. Paoliello &
Moura.
Ditos de molhados, gêneros da terra, etc, Francisco Alves de Araujo. Joaquim Antonio de Souza
Goes. João Candido Carneiro. João Antonio Marques. Quirino de Assis Ribeiro.
Profissão. Dentista. João Candido Carneiro de Araújo.
Indústria, artes e ofícios. Tem 2 alfaiates, 1 funileiro, 18 carpenteiros, 1
ferrador, 3 ferreiros, 1 fogueteiro, 4 olarias, 2 rancheiros, 1 hotel, 4
sapateiros, 1 selleiro, 1 florista e 2 fabricas de cera.
Tem 5 engenhos de
cana e 5 de serra.
[1]
Há o célebre
personagem, “matador”, Nenem Cabo Verde. Além disso, a Av. N. S. da Assunção já
foi chamada de “Rua Linha de Tiro”.
[2]
Informações do site
Geni.Com, atualizados em 5 de setembro de 2014, mostram determinado Severino
Eulógio Ribeiro de Rezende era nascido em 22 de abril de 1767, na Freguesia de
Nossa Senhora da Conceição dos Prados, onde foi enterrado na Igreja Matriz ao
falecer em 1842. As informações se repetem no site BarrosBrito.com. Não é o
mesmo! O Almanak Sul Mineiro de 1884 (a edição mais nova disponível, talvez a
última), mostra um Severino Eulógio Ribeiro de Rezende, Dr., como um dos
eleitores da Freguezia de Sant’Anna do Sapucahy. O Direito: Revista de
Legislação, Doutrina e Jurisprudência, Ano II - 1871, apresenta nas páginas 376
e 377 uma sentença do juiz de Caldas, em 2 de outubro de 1873 com o nome
Severino Eulogio Ribeiro de Rezende. Verificamos que há dois severinos.
[3]
A maioria de seus
biógrafos diz que apenas foi nomeado e não tomou posse nesse cargo.
[4]
De 1874, páginas 390
e 391.
[5]
O Largo é a atual
Av. Dr. Américo Luz.
[6]
Atual Nova Resende
[7]
Atual Alterosa.
[8]
As eleições na época
do Império eram indiretas, semelhante aos colégios eleitores norte-americanos.
Os eleitores são escolhidos pelos votantes, mas somente eles votam em eleições
estaduais e federais.