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Muzambinho, o martírio de uma cidade: série de artigos do jornalista Carlos Lacerda sobre a demissão de Antônio Magalhães Alves

            Trata-se de uma série de artigos escritos pelo próprio  jornalista Carlos Lacerda,  maior nome da UDN nacional, que anos depois se tornaria governador do Rio de Janeiro. Carlos Lacerda, para atacar Juscelino Kubitscheck, toma partido dos Tucanos, que por COINCIDÊNCIA eram udenistas (e isso depois eu provo).
            Nesses artigos há sérias críticas contra Lauro Campedelli, Ismael Coimbra, Jane Cipriane, José Januário de Magalhães, e, principalmente, contra Frei Querubim, que ele chega a dizer que era santo no nome, mas um demônio na atitude.
            O artigo enaltece Salatiel de Almeida, Antônio Magalhães Alves, Lycurgo Leite, José Maria Armond, Messias Gomes e outros tucanos.
            Devemos tomar muito cuidado ao nos posicionarmos contrários aos nomes relacionados, pois trata de uma crítica editorial, com posicionamento político definido.
            É evidente que, nos episódios narrados sobre o fechamento do Ginásio Mineiro (Lyceu) em 1937 e na expulsão de Salatiel de Almeida de Muzambinho, eu concordo que os pica-paus agiram de forma absurda, mas, precisamos olhar o contexto, que coincide com o mesmo mês foi deflagrada a ditadura do Estado Novo.
            Também concordo que algumas atitudes de José Januário de Magalhães eram absolutamente inadequadas, mas, ele agiu apenas pela busca de poder, e, fez também coisas positivas para cidade. Quanto ao Frei Querubim, também era ganancioso e totalitário, porém, tem também suas parcelas de contribuições.
            Ressalto isso, pois, apesar de me posicionar em algumas situações de forma simpática aos tucanos, não vejo os pica-paus da forma que são narrados. Houveram pica-paus brilhantes que muito fizeram por nossa cidade, e, no plano nacional, eles estavam com o lado mais a esquerda (apesar de estarem mais a direita no sua própria visão de mundo). De igual forma, é obvio que sou mais simpático a Getúlio do que a Carlos Lacerda.
            Precisamos tomar muito cuidado, pois, nem tudo que Lacerda narra é verdadeiro – há muita fantasia, há muita versão tucana, sem possibilidade de defesa. Da mesma forma que precisamos tomar cuidado com a versão narrada pelo Vonzico da morte de Saint Clair, colocando o “professor de desenho” que ele não nomina como vilão.
            O contexto da morte de Saint Clair era um regime de exceção. Tanto que já recebi cartas do filho dele onde ele cita o nome de José Maria Armond se fazer qualquer crítica. José Maria Armond, como vocês poderão ver, não era vilão ou mal, tanto que  ele foi absolvido do processo, não ficou preso, e, foi reconduzido ao cargo público no Colégio Estadual de Muzambinho após o fim da Ditadura Vargas. Além disso, seu advogado foi o próprio irmão do morto, o Prof. Antônio Magalhães Alves.
            Sem contar que ambos foram companheiros na revolução de 1932, e, há uma edição de “O Muzambinhense” onde José Maria Armond, que era diretor e colunista do jornal, elogia Saint Clair.
            A versão de Vonzico nos dá um tom de vilania ao professor de desenho José Maria Armond, o que é falso. Felizmente, Geraldo Vanderlei Falcucci, com um livro maravilhoso, aquela da história das ruas, resgata a história retirando o caráter de vilão de Armond. Vonzico alega que estava lá, era uma criança de 11 anos, assistindo tudo, e, sabemos, que os adultos não contam tudo que acontece para uma criança de 11 anos, e, sequer é possível alguém saber tudo que está acontecendo com essa idade e fora do contexto.

            Em primeiro lugar, antes de iniciar a leitura, 3 apontamentos são importantes:

1º Carlos Lacerda era o maior adversário de Vargas e o pivô do suicídio de Vargas em agosto de 1954. Vargas estava sendo ameaçado de impeachment pois sua guarda pessoal e seu irmão estavam envolvidos com a tentativa de assassinato de Carlos Lacerda na Rua Tonelero.
Vale a pena assistir o filme “Getúlio”, onde Carlos Lacerda é representado por Alexandre Borges. Esse personagem de Borges é o mesmo Lacerda que escreve esse artigo sobre Muzambinho.
Lacerda também aparece em muitos outros filmes. No seriado JK ele foi representado por José de Abreu, no filme “Flores Raras” foi Marcelo Airoldi e no filme “Bela Noite para Voar” foi Marcos Palmeira. Este mesmo que é o autor desses textos que transcrevemos.

2º A Tribuna da Imprensa era o principal veículo no Brasil que atacava Getúlio Vargas e todos seus companheiros, inclusive Juscelino Kubitschek. O diário existe até hoje.
O jornal também aparece no filme “Getúlio” e no seriado JK nominalmente citado, “vejam agora o que saiu na Tribuna da Imprensa”, é algo recorrente.
É importante repetir que esse jornal era de propriedade e de direção de Lacerda.

3º Carlos Lacerda não tinha compromisso com a verdade, mas sim com atacar o adversário e destruir todos que fossem dos partidos de Getúlio Vargas. Isso significa que o que está escrito é mentira? Não! Os artigos trazem importantíssimas contribuições para a História de Muzambinho.

JORNALISTA CARLOS LACERDA
Foto da Revista Época
TRIBUNA DA IMPRENSA – 26 de fevereiro de 1951
Anuncio das reportagens
DIAS DE AGONIA em Muzabinho
                O ginásio ocupado pelos soldados por ordem do governador – Benedito e a Inconfidência – O Frei Querubim, o Rasputine pessedista – A história de uma cidade do sudoeste mineiro que perdeu o direito de existir porque ali o povo derrotou o partido oficial.
                A partir de amanhã, na TRIBUNA DA IMPRENSA, as reportagens do nosso enviado especial sobre o drama de Muzambinho.


TRIBUNA DA IMPRENSA – 27 de fevereiro de 1951
PARTE I – Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
Muzambinho, ou o martírio de uma cidade

Depois que o avião desce em Guaxupé, a cerca de duas horas de São Paulo, entramos numa dessas trilhas que em Minas chamam-se estradas. Cerca de três horas depois chagamos a Muzambinho. A cidade tem uns oito mil habitantes, o município 22 mil. A renda municipal é de Cr$ 1 milhão. O Estado arrecada três vezes mais. Ali o ministro Daniel Carvalho fez construir uma escola agri-industrial que, se for concluída, dará impulso à região.
                Mas a cidade anda triste. A imensa praça ao fim da qual assenta a igreja matriz, assistida pelos franciscanos holandeses que tanto serviço ali têm prestado, as ruas de barro, sujando as casas que ao levantando, novas e teimosas, abrigam uma população atormentada.
                Uma estranha maldição caiu sobre Muzambinho. Todos estão contrafeitos. Fala-se nas esquinas, murmura-se – e ninguém pode fazer coisa alguma para que a cidade volta a sair do esponto que a atordoa.
                Pela segunda vez, em treze anos, a cidade querida no que ela tem de mais necessário e mais ilustre. Ferida ela foi na própria fonte de toda a sua alegria.
                É uma historia que não parece daqui. Parece um relato das aldeias sobre as quais Hitler impôs penalidades arrasadoras para puni-las por sua altivez.

O COMEÇO
                Em 1937, o governador Benedito Valadares fechou o Ginásio e Muzambinho e mandou ocupar o prédio por um batalhão da Força Pública, então especialmente criado. Nos pátios já não circularam crianças, mas soldados – os pobres praças, miseravelmente pagos, da Força Pública mineira, e um árdego capitão que ao sair, em 49, jurou voltar para tirar vingança.
                Depois de sair Valadares e voltar a Constituição, o ginásio foi reaberto. Em 1949, tudo voltou a ser como dantes. Apenas, para que isto acontecesse, dois reitores morreram e um professor matou.
                E o povo de Muzambinho sofreu. E gente do sudoeste mineiro não teve mis ginásio de graça. E isto que agora volta. E isto que tira o sono do povo de Muzambinho.

O FIM
                Agora, quem manda é Juscelino Kubitschek.
                Então o Ginásio de Muzambinho está para ser novamente fechado. E de novo ali se instalam os soldados do novamente criado Batalhão da Força Pública. Já lá estão 20 praças. O resto chegando. E o capitão troveja. Ele se vingou, o capitão.

O COMEÇO DO GOVERNO
                Em 1896, um jovem professor mineiro, Salatiel Ramos de Almeida, filho de Campanha, chegou a Muzambinho e fundou uma escola, quem em 1902 se transformou em ginásio.
                Não sei se compreendem o que era, então, como até hoje, um ginásio no interior do Brasil. Em resumo, um ginásio na região significa a possibilidade de mandar os filhos estudarem sem ter que pagar internamentos no Rio, em São Paulo, em Belo Horizonte. E para toda a população, mesmo os que não tem filhos, um ginásio representa tanto ou mis que a luz elétrica.
                Salatiel Ramos de Almeida foi um reitor digno da dignidade de sua obra. O povo ajudou-o, é verdade. Ele formou uma elite, que se espalhou por todos os cantos. Nóe de Azevedo, de São Paulo, saiu das mãos de Salatiel de Almeida. E Carlos Góis. E Mário Magalhães, da Academia Mineira.

GINÁSIO GRATUITO
                No governo do Estado, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada fêz, ponto de vista administrativo, um dos dois ou três grandes governos de Minas – talvez o maior. Ao perceber o alcance da obra de Salatiel de Almeida, o presidente Antônio Carlos encampou o Ginásio. Com isto, a região passou a ter ensino ginasial gratuito. E para garantir a continuidade do esforço, o governo fez de Salatiel de Almeida o reitor do Ginásio Estadual.

AS TERTÚLIAS DE JACKSON
                Um dia Jackson de Figueiredo foi, como parte da banca examinadora do Pedro II argüir alunos em Muzambinho. Apaixonou-se pela cidade. Ali converteu Hamilton Nogueira, o senador. Ali se empenhou naquelas grandes conversas da farmácia, na qual citava, com sua espantosa memória, os versos dos poetas que a ronda do acaso ia evocando. Um centro literário, a par da consciência profissional, formou-se em Muzambinho.

PROFESSOR NÃO PODE PROFESSAR
                Mas em 1937 abriu-se o problema da sucessão presidencial. O sr. Getúlio Vargas já estava há muito tempo no poder, parecia enjoado. Acreditaram que ele quisesse eleições. O presidente de São Paulo, Armando de Sales Oliveira, candidatou-se. Do outro lado, lançado â rua pelo governador de Minas, surgiu um candidato oficioso, o sr. José Américo de Almeida.
                Os professores do Ginásio Estadual de Muzambinho não se filiaram os partidos que então se formaram. Mas simpatizavam abertamente com a UDB, que assim se designava o partido de Armando de Sales Oliveira. Todos os professores, menos três.

A REPRESÁLIA
                Benedito Valadares, então, ainda não era o autor de “O Espiridião”. Era apenas pouco mais que analfabeto e odiava com a força de um primário. Um dia, a leitura de certa carta irritou-o tanto que ele atirou a cara de seu secretário de Educação uma bandeja de café. O secretário era o sr. Cristiano Machado.
                A notícia eu os professores do ginásio estadual de Muzambinho pareciam inclinados a votar em Armando de Sales Oliveira despertou em Benedito Valadares aquele impulso, bem – chamemo-lo o ímpeto da bandeja de café.
                Valadares demitiu o Reitor do Ginásio. Nomeou um substituto.

OS ESTUDANTES NÃO QUERIAM
                Salatiel de Barros, demitido, tinha então, quase 70 anos de idade. Além da idade, tinha de seu, de quando havia dado ao sudoeste de Minas, onde é visto como uma espécie de apóstolo, uma pequena Escola Normal, que era ainda sua, e uma chacrinha, onde morava com a família.
                Os estudantes, meninos e meninas choraram quando Salatiel foi demitido. E resolveram reagir. Entrarem em greve.

EXPULSÃO DE SALATIEL
                Mas não basta demiti-lo. É preciso expulsar da cidade o reitor tangido da escola que havia fundado. Como, porém, intervir na sua vida privada? Como desarmar, de todo a quem armas não tinha senão o amor dos alunos que formara?

FREI QUERUBIM TOMADO DE PAIXÃO
                Frei Querubim, de nacionalidade holandesa, entre os franciscanos da casa paroquial de Muzambinho é o que mais se destaca – porque é o vigário.
                Mas frei Querubim não é apenas o vigário. Ele se deixou formar pela paixão política. Frei Querubim era o chefe, por assim dizer a alma do domínio de Benedito Valadares em Muzambinho.  
                Na campanha eleitoral de 45, no domingo, 2 de dezembro, dia da eleição, violando portanto o Código Eleitoral, mas sobretudo violando outras leis a que não deva faltar, frei Querubim afirmou, dentro da Igreja, do púlpito, que ninguém deveria votar no Brigadeiro Eduardo Gomes, porque este é comunista. E há pouco, na campanha eleitoral, falando num comício ele disse: “A oposição aqui está reduzida a seis bestas.”
                A violência da linguagem corresponde, segundo a descrição de cerca de quarenta pessoas que ouvimos em Muzambinho, a violência de seus sentimentos. É um homem digno de admiração, pelos serviços que prestou ao seu rebanho. Mas está tomado pela paixão política.

SALATIEL CERCADO E VENCIDO
                Perdendo o ginásio, Salatiel de Almeida ainda possuía a pequena Escola Normal e sua chacrinha. E uma resignação de bom católico.
                Mas Salatiel possuía também uma dívida. De 50 contos de réis, era a dívida, na Caixa Econômica de Minas Gerais. Lá de cima, de Belo Horizonte, começaram a apertar o devedor. E Salatiel não tinha com que pagar..
                Frei Querubim ofereceu-se para comprar a Escola Normal. Por 40 mil cruzeiros. Foi ao  Banco de Crédito Real e trouxe o dinheiro para pagar a Salatiel. Era menos 10 contos do que a dívida do velho reitor.
                Mas na hora de pagar suscitou-se um problema: a chácara. De lá vinha a água para a Escola Normal. Logo, ela era essencial para Escola. Logo, devia ser compreendida na venda.
                Salatiel conformou-se. Ia receber o dinheiro para pagar a dívida que fizera ensinando a mocidade mineira.
                Surgiu, porém, outra dúvida. E frei Querubim, que a suscitou, resolveu-a logo com a seguinte cláusula, que figura no contrato de venda da Escola Normal:
“e ainda se obrigam os outorgantes vendedores a não mais fundarem estabelecimento de ensino nesta cidade”.
                Esta cláusula consta do contrato de venda escritura, lavrada a 1 de dezembro de 43, no 2º tabeliã, livro 83, folhas 54 a 58, em Muzambinho.

DESTERRADO
                     Assim Salatiel de Barros saiu da terra que fizera sua, pelos colégios que lá fundara. Não podendo, por sua idade, ser nomeado, foi imediatamente contratado pelo governo de São Paulo (1943), para dirigir o ginásio de São Simão.
                Sozinho ficou frei Querubim, que fundou e dirige um ginásio franciscano, com mensalidades pagas.

ARRAZADO
                Quanto ao Ginásio Estadual, gratuito estava parado, com os alunos em greve.
                  Mas o que houve depois foi ainda mais triste. Pois, não se iludam, está uma história muito, mas muito triste.
                A história de uma cidade do sudoeste mineiro onde a paixão política se apossa dos homens e os devora a ponto de um governo não poder suportar a idéia de que tenha um ginásio a cidade em que ganha a oposição.
                O novo governador, Juscelino Kubitschek, que acaba de mandar soldados ocuparem o ginásio, declarou a pessoa idônea, cujo nome vamos divulgar, que tem compromissos eleitorais com frei Querubim e com o bispo de Guaxupé, dom Hugo Bressane, para exterminar o ginásio (hoje colégio) estadual, fazendo desaparecer dentro do ginásio de frei Querubim que seria nomeado Reitor. Se é mentira é do governador.
                Mas o que está antes de tudo isso precisa ser contado. Os dramas do interior têm de ser conhecidos na capital para que o Brasil conheça a si mesmo, para que o povo saiba que estão fazendo com seus irmãos.
                O ginásio foi arrasado, em 1937. Mas deixemo-lo como estava então: em greve. Amanhã veremos a história do tiroteio, o argentino naturalizado e a acidentada [ilegível] entrega das chaves.

CARLOS LACERDA

PS: Será possível explorar, contra os franciscanos, o fato de um deles ter-se deixado  absorver sua piaxão facciosa da politicagem? Será possível, contra êle próprio lançar apodos? Creio que não. Mas também julgo que a mais elementar prudência recomenda ação no sentido de transferir o fardo que esta afastando da igreja de Muzambinho as famílias católicas, cujos chefes, como é do seu direito, pertencem à oposição política. A UDN, ao partido, em suma, do Prefeito livremente eleito. – C. L.


A escola agri-industrial citada é a futura Escola Agrotécnica Federal, hoje IFSULDEMINAS.



Os franciscanos administraram a paróquia durante muito tempo, a partir dos anos 30 até 1988, quando entraram os padres Francisco e Guaraciba. Os franciscanos que mais se destacaram foi o Frei Florentino, nos anos 30, que tinha visão revolucionária e humanista, fundando uma escola para meninos pobres; o Frei Rafael, mais recente que ajudou a fundar a Escola Superior de Educação Fisica; e, mais antigo, o Frei Querubim Beumelhof, bastante citado nessa reportagem, que era proprietário na época de três escolas na cidade, o Ginásio São José, a Escola Normal e a Escola Paroquial Frei Florentino. Importante dizer que esse ano de 1951 foi o último ano de funcionamento do Ginásio São José, e, nos anos seguintes a Escola Paroquial foi estadualizada e se tornou a EE Frei Florentino, e, a Escola Normal foi incorporada ao Colégio Estadual de Muzambinho (futura EE Prof. Salatiel de Almeida). Frei Querubim também foi embora dessa cidade neste ano.








Na realidade, Salatiel de Almeida chegou em Muzambinho depois disso, em 1899 ou 1900.



NOÉ DE AZEVEDO (Foto da OAB-SP)
Noé de Azevedo, jurista e professor universitário de Direito,  é presidente emérito da OAB-SP, e teve a mais longa gestão da entidade no estado de São Paulo, entre 1939 e 1965. Ele inaugurou a sede da OAB na praça da Sé. Participou da elaboração do ante-projeto do Estatuto da OAB, Lei Federal 4215/63. Fez o ginásio em Muzambinho.




JACKSON DE FIGUEIREDO
Foto de “O Camponês”
Jackson de Figueiredo Martins, filósofo cristão, considerado de extrema direita. Fundou o Centro Dom Vidal no Rio de Janeiro e tem uma obra vastíssima. Foi ele que converteu Tristão de Ataíde (Alceu Amoroso de Lima) ao cristianismo.

Carlos Góis, filólogo e poeta, foi promotor e professor e Muzambinho. Escreveu muitos livros e gramáticas, é citado no poema “Aula de Português” de Carlos Drummond de Andrade. Foi membro de várias academias de letras, entre elas, a mineira.

Mário Magalhães Gomes, poeta, membro da Academia Mineira de Letras. Foi professor do Lyceu do Prof. Salatiel de Almeida.

Hamilton Lacerda Nogueira, foi deputado federal e senador da república. Era médico e escrevia sobre medicina, ajudando a fundar a Academia Brasileira de Medicos Escritores. Estudou no Lyceu. Foi senador entre 1946-1955 e deutado federal entre 1959-1967 (dois mandatos).

Apenas três professores apoiavam o candidato de Getúlio Vargas e Benedito Valadares! O motivo era simples. Getúlio Vargas foi eleito pela Aliança Liberal com apoio de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, mineiro. Os tucanos, liderados por Dr. Lycurgo Leite, apoiaram Getúlio, por ser candidato de Antônio Carlos. Já os pica-paus, liderados pela família Coimbra, apoiaram o paulista Júlio Prestes, candidato oficial de Washington Luís. Só que Getúlio rompeu com Antônio Carlos, que seria sucessor natural de Getúlio, e lançou o poeta José Américo de Almeida para candidato.  Lycurgo Leite seria fiel com Antônio Carlos, mas morreu em 1936 – e todos os tucanos acompanharam Antônio Carlos, desta vez, contra Getúlio, apoiando Armando de Sales Oliveira. Nesse meio tempo, o prefeito José Januário de Magalhães, que era tucano, migrou para o grupo dos pica-pau, pois, queria continuar com o apoio de Valladares, que era o interventor do estado. Essa inversão de grupos políticos (leia mais em minha dissertação de mestrado e outros textos) foi problemática e fez com que Salathiel ficasse com Antônio Carlos também, e levou à sua demissão.


 BENEDITO VALADARES
Foto de “Ser Mineiro Uai”



Em 1929 foi estadualizado o Lyceu, que se transformou em Ginásio Mineiro de Muzambinho, mas, Salatiel continuou proprietário da Escola Normal, que não foi encampada pelo governo do Estado. Esse fato é importante! Salatiel era ao mesmo tempo reitor do Ginásio oficial e dono de uma escola particular paga, a saber: a Escola Normal.



FREI QUERUBIM (Foto do acervo municipal)






















O texto realmente fala em Salatiel de Barros.









São Simão era a cidade do vereador Antônio Borelli, pai de dois futuros vereadores (Caio Duílio Borelli e Almirio Borelli) e avô de outro (Fernando Cláudio Borelli), Caio Duílio e Fernando Cláudio foram presidentes da Câmara. Geraldo Vanderlei Falcucci nos conta que foi Antônio que providenciou a vaga para Salatiel em São Simão. Antônio era picapau (UDN).


















TRIBUNA DA IMPRENSA – 28 de fevereiro de 1951
PARTE I – Muzambinho, ou o martírio de uma cidade



Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
II

O tiroteio na porta do ginásio – O rigoroso inquérito, abafado – A morte do Reitor substituto – Transferência do ginásio para a terra de Benedito – Extinção do ginásio – Dispersão do arquivo e do mobiliário – Entra triunfante, o 10.ºB. da Fôrça Pública

                No sudoeste de Minas, a ocupação militar do Ginásio de Muzambinho, em 1937, como em 1951, foi como um tiro no peito. O Reitor, o velho Reitor que havia fundado o ginásio e fora mantido no posto pelo presidente Antônio Carlos, ao oficializar aquela casa da praça principal, construída pelo seu esforço, foi substituído, em 1937, pelo governador Valadares, porque acusado de simpatizar com a candidatura de Armando de Sales Oliveira. “Ele está muito velho!”, era a desculpa. Sim, ele envelhecera ensinando meninos. Mas não tão velho que não pudesse ser contratado para dirigir um ginásio oficial em São Paulo.
                Os meninos entraram em greve, para reclamar a volta do velho Reitor. Para eles, Salatiel de Almeida não estava assim tão velho. Para Benedito Valadares, estava até caduco: onde se viu professor ter opinião? Onde se viu professor professar?
               Os professores estavam todos com o Reitor – menos três. Assim também os alunos. Todos estavam em greve. Menos quatro. Entre estes, o filho de um argentino naturalizado, que era um dos chefes da política de Benedito Valadares na cidade de Muzambinho e hoje é um dos chefes da política de Juscelino Kubitschek no município de Muzambinho.
               Os quatro alunos dissidentes procuraram entrar no ginásio. Os colegas tentaram impedi-los.

O PROFESSOR DE DESENHO
               Então vem lá de dentro José Maria Armond, o professor de desenho, e procura apaziguar os alunos.
               Eis que vem chegando João Vicente Cipriano. Este é um argentino que se naturalizou brasileiro e tem filho no colégio, um dos que não querem a greve porque o pai é do Benedito. A uns vinte metros do ginásio, por lhe parecer que estava agredindo o seu filho, ou por impulso de prevenção que explore em cólera – a cidade estava fervendo com esses acontecimentos – Cipriano começou a insultar o professor de desenho.
               - Vou entrar nesse colégio nem que seja à bala! gritou, entre um e outro impropério.
               Empunhou o revolver e atirou contra o colégio.
               Deu o primeiro tiro, atravessou a rua correndo e entrou na casa do prefeito, que era amigo do governador Valadares e morava defronte do ginásio.
               O pessoal da oposição reagiu. Eles dizem: “a população”. Afinal, também fazem parte dela. Começou um tiroteio da calçada para a casa do prefeito, o médico José Januário de Magalhães. Da janela do prefeito chovia bala sobre a calçada do ginásio. O Prefeito não teve nada. Mora hoje em Poços de Caldas, onde entrou para o partido de Ademar, que o fez candidato a deputado federal, mas foi derrotado.
               Tiroteio bravo, aquele! Mas não houve mortos nem feridos. Foi tudo rápido. A cidade esquentou-se, ficou em brasa.
               Lá, de Belo Horizonte, Benedito Valadares viu que estava no ponto para esmagar a oposição. Mandou um delegado especial abrir inquérito. Chegou a Muzambinho o delegado Moretzohn. Ouviu todo mundo e toda gente. Voltou para Belo Horizonte, onde concluiu o seu relatório.
               O inquérito? Nunca mais se ouviu falar nele. Conclusão lógica: o delegado concluiu pela culpabilidade do pessoal que apoiava o governo. Não é lógico? Onde está o inquérito contra o Cangurú, que o general Mendes de Morais empreitou na Polícia Municipal? Onde está o inquérito do coronel da Diretoria do Material, empregada no SESC, do fornecedor da Diretoria? Ele tirou 6 meses de licença na Aeronáutica – e o inquérito é que foi licenciado. Não é sempre assim? Pois foi assim em Muzambinho? Já vê que não é só no interior...
               Cristiano Machado era o secretário da Educação. Vivia no temor do Benedito, que tinha uma grande inveja dele, e um medo horrível de que, vindo ao Rio, o antigo revolucionário de 30 reatasse relações com o “doutor Getúlio” e voltasse a Belo Horizonte com um diploma de governador, de interventor, de qualquer coisa capaz de substituí-lo. Então, vivia sequestrado em Belo Zorizonte, na Secretaria de Educação.
               Telegrafou Cristiano para Muzambinho suspendendo por 15 dias as aulas do Ginásio até os ânimos se acalmarem.
               Passaram-se os 15 dias. Chegou o dia de receber dinheiro. Em Minas, os professores do Estado não recebem diretamente. O reitor do ginásio fornece um atestado de exercício, dizendo que eles deram aulas e com esse atestado eles vão à coletoria, conversam um pouco, toam um cafezinho e recebem o ordenado. (Vão ver que ordenado. É de matar um cristão!).

A MORTE CAI SOBRE A CIDADE
               Lá foram os professores à coletaria. Ali havia uma supresa. Eles estavam descontados nos 15 dias em que o colégio estivera fechado por ordens do secretário de Educação. Metade de mês, metade do pão, metade da manteiga, metade de tudo, é de amargar, pensou o professor de desenho José Maria Armond. Aí, porém, ele viu que um dos três professores que tinham ficado com o governador estava recebendo o ordenado integral.
               - Isso, não! Não pode ser! Êle disse. (Ele era da oposição sistemática, como dizia o Jafet local).
               Foi ao ginásio. O reitor estava lá. Interpelou-o. O reitor discutiu. Aqui, aliás, as versões variam. Há quem diga o contrário. Ambos já morreram. O reitor de Benedito, instantaneamente. O professor de desenho, de morte natural, algum tempo depois. O fato é que José Maria Armond, o professor, compareceu a dois juris e em todos dois foi absolvido. Não ali em Muzambinho, onde todos estavam apaixonados, extenuados por tanta luta. Mais longe, em Varginha. Creio que isso prova a seu favor, não parece? Em todo caso, respeitemos os dois, que estão mortos.

BENEDITO QUER “EXEMPLAR”
               Benedito Valadares mandou abrir inquérito contra todos os professores. Condenou-os como insufladores da greve dos alunos. Sem provas. E sem defesa. Ele quer “exemplar” a cidade.
               Mas, e o ginásio?
               O prédio lá estava. Os meninos e as meninas comeavam a voltar. Tudo passa, ainda que devagarinho. Afinal, as crianças precisam estudar. E Muzambinho só tinha esse ginásio. E a região só tinha esse ginásio. E era grátis!
               Mas Benedito não vai nisso. Aí já o Estado Novo cantava feio e forte. Benedito, por decreto, transferiu o ginásio estadual de Muzambinho para Pará de Minas, que é onde Benedito foi dado à luz. Reversão à infância, pensou um psiquiatra. Queria ele matricular-se, afinal, no ginásio?
               Não. Benedito queria dispersar o arquivo do ginásio, a história cultural de uma população, gerações que desde 1896 sucediam-se naqueles bancos, aprendendo com Salatiel e, entre tantos outros, com aquele moço de 16 anos, Magalhães Alves, que hoje encontra em Muzambinho, aos 5, feito reitor do ginásio novamente ocupado pela força policial.
               Arquivos, só? Não. Cadeiras também. E mesas. E bancos. Tudo foi levado para aí afora, e nunca chegou a Pará de Minas. Pois, no caminho, Benedito emitiu outro decreto.
               Este extinguia o ginásio estadual.

O 10º OCUPA O COLÉGIO
               Dias depois entrava em Muzambinho, recém-criado, especialmente para aquela cerimônia, o 10º Batalhão de Caçadores da Força Pública de Minas Gerais. Com a corneta. E o tambor chamado surdo.
               Quanto ao mudo, já estava ali mesmo. Era o prédio do ginásio, deserto mas acuado, possuído, violentado por 600 solados que acamparam nas salas de aula, e por falta de verbas nunca recolocaram um vidro partido, nunca pintaram uma parede encardida.
               Estava feita a humilhação de Muzambinho. Era o ano de 1937. Dez longos anos de mágua iriam escorrer sobre a cidade.

SALATIEL NÃO TINHA PAZ
               Salatiel de Barros, o reitor demitido, sofria. A Caixa Econômica apertou-o, para pagar 50 contos que ele devia. Para pagá-los vendeu a sua pequena Escola Normal a frei Querubim, o vigário local, amigo do Benedito. Na transação foi-se tabém a sua pequena chácara. E para receber o dinheiro, que frei Querubim levantou no Banco do Crédito Real de Minas Gerais, Salatiel teve de assinar um contrato se comprometendo a NUNCA MAIS ABRIR ESTABELECIMENTO DE ENSINO EM MUZAMBINHO.
O governo de S. Paulo chamou Salatiel, contratou-o para dirigir o ginásio de S. Simão. Estava expulso da terra onde fundara, em 1896, o seu primeiro colégio.
               Frei Querubim, de porta em porta, com um zelo exemplar, levantou, por subscrição pública, um novo ginásio, já que o outro estava fechado. “Não podemos ficar sem ginásio!” ele dizia. E em 1940 abriu, com mensalidades e matrículas pagas, o ginásio de S. José, que passou a dirigir. Três anos depois, pobre, velho e triste, Salatiel era desterrado.
               Dez anos se passaram....
CARLOS LACERDA

P.S. – A culpa não é minha se isso ganha um jeito de folhetim. Também não é minha a culpa se os fatos e até as datas, assim como os contratos, depõe contra frei Querubim. Estimo e prezo a obra dos franciscanos. Mas detesto a idéia de um franciscano de paixão partidária, servir a Benedito, Kubitschek ou a quem quer que seja.
               Por outro lado, não sei se todos estarão de acordo comigo em trazer para aqui esta história de uma luta política no interior. Para muitos, talvez isto não tenha importância. Mas é dessas lutas, e dos exemplos de resistência humilde, ignorada, obstinada, que se faz a grande resistência ao abuso e à iniquidade.
               E assim que se luta contra a injustiça. Nada é demasiado pequeno para ela, ou tudo será suficientemente grande para fazê-la sucumbir. Por mim, gostaria de ter tempo para imitar Silone e escrever, à sua maneira, o processo do facismo reduzido Às proporções da aldeia de Fontamara.
               Não abandonem, desdenhosos ou incrédulos, o caso de Muzambinho. Ali está crescendo a planta da iniquidade, no esterco do ódio. – C. L.



O Ginásio, de fato, foi fechado em 1937, e transformado na sede do 10º Batalhão de Caçadores de Minas Gerais, mas, em 1951 não houve fechamento. O que fechou foi o Ginásio do Frei Querubim, o Ginásio São José, no final do ano. Aliás, Querubim queria evitar a todo custo a manutenção do colégio público, pois prejudicava seu colégio



ARMANDO DE SALES OLIVEIRA
Foto Wikipédia



JANE CIPRIANI (Foto do acervo municipal)
O argentino citado é João Vicente Cipriani, o Jane, e o filho dele é o prof. Walter Cipriani, o seu “Títio”, que foi diretor do Colégio Estadual anos depois.









José Januário de Magalhaes foi embora de Muzambinho em 1945 e nada sabemos de seu destino, a não ser que se tornou médico extranumerário do estado de São Paulo, na divisão de combate à tuberculose, nomeado por Jânio Quadros, em 11 de setembro de  1956.



Vasculhando os artigos historiográficos da Polícia Militar, só pode se tratar do delegado Orlando Moretzohn (ou Moretzsohn) que dá nome para uma rua de Belo Horizonte, no bairro Buritis. Tem uma foto dele no Arquivo Público Mineiro, mas é classificado como documento restrito.



CRISTIANO MACHADO
Foto de “Cinco Meia Sete”





Foto do acervo municipal




ANTÔNIO MAGALHÃES ALVES
Foto cedida por Graco Magalhães Alves, seu filho.








Em 1951 foi demitido Magalhães Alves, por motivos obviamente políticos. Magalhães Alves já tinha saído da cidade durante o Estado Novo. Como presidente da Câmara, que assumiu assim que faleceu o Dr. Lycurgo Leite, ele moveu um processo de impeachment de José Januário de Magalhães, tudo em conformidade com a Constituição Federal de 1934, e concluíram pela cassação, no final de 1936, por sinal, tida como a primeira do país. Ocorre que José Januário não saiu, e recorreu, até que foi deflagrado o Estado Novo e nada mais poderia ser feito. Humilhado, Magalhães Alves, que seria nomeado prefeito pelos vereadores, vai embora da cidade. E volta em 1948 como diretor do colégio onde estudou, foi bedel, professor e vice-diretor na época de Salatiel.




Na realidade, o 10º Batalhão já viria para Muzambinho, inclusive tendo sido elogiado pelos tucanos a iniciativa de trazê-lo para cidade. Porém, não havia local definido onde ele funcionaria, e, a decisão de ocuparem o Ginásio foi posterior.










JUSCELINO KUBITSCHEK
Fonte: Isis Renault







TRIBUNA DA IMPRENSA – 1º de março de 1951
PARTE III – Muzambinho, ou o martírio de uma cidade


Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
III
O PERFIL DO CHEFE DO POLÍTICO
Pecuária sem boi nem vaca – As dívidas de Campedelli – Stockler de Queiroz e a fortuna do café – Fôrças na ocupação do ginásio pela Fôrça Pública

               O governador Juscelino Kubitscheck está no Rio contando que Minas não tem dinheiro, o que é verdade, mas sem dizer que Minas não tem dinheiro porque foi saqueada pelo governador Benedito Valadares, que a deixou nos cascos por Juscelino Kubitschek, o medicozinho da Força Pública mineira que, tendo sido apenas prefeito de Belo Horizonte e deputado faz agora donativo de centenas de contos de réis às campanhas do sr. Assis Chateaubriand. De onde vem o dinheiro para os donos de Minas Gerais?

PECUÁRIA SEM GADO VACUM
               Quando estava no auge a repulsa dos mineiros ao sr. Benedito Valadares, corria Minas inteira essta quadra:
               “Minas tem gado vacum
               Muitas raças cavalares
               Benedito Valadares
               Minas, porém, só tem um”.
               Mas Lauro CAmpedelli, o presidente do PSD em Muzambinho, ex-prefeito do município, foi além do que a quadra permitiria. Pois conseguiu apresentar-se como pecuarista devendo cerca de 40 milhões de cruzeiros de gado, sem ter sequer 300 reses, que ao preço médio de mil cruzeiros representariam – se existissem – [ilegível] mil cruzeiros.
               Este [ilegível] o sr. Campedelli, acompanha o de outros próceres locais, esteve em Belo Horizonte, onde foi cobrar do sr. Kubitschek as suas promessas eleitorais, que para Muzambinho se resumem no fechamento do colégio estadual e restabelecimento do 10º Batalhão da Força Pública.
               Mas o sr. Campedelli tem, além disto, outro assunto pessoal a tratar com o governador. Ele deseja, em troca do apoio que lhe dá, que o governador se interesse no Rio pelo destino do seu processo de candidato aos benefícios da lei de reajustamento da pecuária. Pois o sr. Campedelli está endividado e precisa que os brasileiros paguem a sua dívida.
               O sr. Campedelli endividou-se com café. Mas pretende safar-se com leite, isto é, com o leite da vaca do Estado.

O SÓCIO POLÍTICO
               Ele tem um sócio em política. Um curioso sócio. É o sr. Antônio Stockler de Queiroz, o famoso “depositário” ou “liquidante” do Departamento Nacional do Café, que enriqueceu ao mesmo tempo em que era vendido, clandestinamente, o stock de café em mãos do DNC.
               O sr. Stockler de Queiroz foi candidato a deputado pelo sudoeste de Minas. Gastou o que normalmente não se gastaria. Financiou a campanha do PSD e Muzambinho. Mas foi derrotado, dentro do próprio PSD, pelo sr. Osvaldo Costa.

FICHA DE CAMPEDELLI
               A ficha do presidente do PSD, o homem que comanda a manobra para obter a ocupação militar do colégio de Muzambinho, é a seguinte:
               Ele tem três fazendas, num total de 630 alqueires, um prédio em Santos (Avenida Bartolomeu de Gusmão 12) valendo 600 mil cruzeiros, e 3 casas em Muzambinho, valendo 120 mil.
               O seu passivo declarado é de Cr$ 27.125.059,90, fora juros acumulados, que elevam esse total a cerca de Cr$ 40 milhões.
               Ao Banco de Crédito Real, ele deve cerca de 12 milhões.
               Ao Banco do Distrito Federal, 5 milhões.
               Ao Banco Comércio e Indústria de Minas, 6.900.000 cruzeiros.
               A Pedro Rufino de Carvalho, de Campos, Estado do Rio, 275 mil cruzeiros. A Cia. União de Armazens Gerais, de Santos, 390 mil.
               A Antônio Stocker de Queiroz, avalista de 2 letras, ele deve 350 mil cruzeiros.
               Este comerciante e proprietário agrícola, registrado como criador a 17 de janeiro de 1941, no ministério da Agricultura, figura na Coletoria Estadual de Muzambinho como tendo de pastagens apenas 1/3 (um terço) de suas propriedades. Quer dizer: 210 alqueires. Nessa região é um boi para cada alqueire, o que significaria, na melhor das hipóteses, um rebanho de 210 rezes.
               Como essa área de pastagens, ele diz que contraiu 29 milhões de cruzeiros de dívidas coo pecuarista...
               E requereu os benefícios da lei do reajustamento da pecuária. No processo aberto no Banco do Brasil, apenas três credores não se habilitaram: o Banco do Distrito Federal, Pedro Rufino de Carvalho e Stockler de Queiroz.  O resto está tudo contestando a Campedelli o título de pecuarista.
               Pois, afinal, em 210 alqueires ninguém cria gado bastante para ter prejuízo de 29 milhões de cruzeiros. Onde, então, Campedelli, o dono do governador Kubitschek, o domador do urso, o dono da enchente, pode arranjar essa dívida?
               Ele fundou armazéns de café em Santos. Negociou em café e foi mal sucedido – daí uma parte do débito. Comprou a Pedro Rufino de Carvalho, uma usina de açúcar em Campos. Daí outra parte da dívida. O boi não tem nada com isso. Mas em nome dos boizinhos que pastavam numa terça parte de suas terras, ele quer que a Nação pague as suas dívidas aos bancos.
               O seu processo consta de certidões assim: “é nosso fornecedor de leite em regular quantidade”, diz uma usina. Não pleiteou o reajustamento no tempo devido. Habilitou-se em 1950. Diz o Promotor de Muzambinho, opinando no processo:
               “Os débitos não são oriundos de transações propriamente, pecuaristas, mas ao contrário, procedem de altos negócios nas praças de Santos e São Paulo, no comércio de café e de açúcar do Estado do Rio. O seu movimento pecuarista neste Município não comparta em absoluto tão vultosas dívidas”...
               “.... A Lei Pecuarista (do reajustamento ou absorção das dívidas dos criadores pela União) foi criada para proteger os pecuarista, mas dá margens à burla e explorações. Não é, entretanto, o pobre do Promotor de Justiça local que vai montar guarda e dique aos cofres da Nação. Assim, sugiro ao Juiz se digne converter estes autos em diligência...”
               O processo foi com cópia ao Procurador da República em Minas Gerais. O governador Juscelino Kubitscheck é assediado para que o café de Campedelli vire leite.






LAURO CAMPEDELLI, O LALAU
Foto do Museu de Muzambinho
































Nas eleições de 1950, Antônio Stockler de Queiróz, comerciante de café, foi candidato à Câmara Federal pelo PSD de Minas Gerais e ficou em 34º lugar entre 37 candidatos do partido, com 4.999 votos (TRIBUNAL, 1952). Ficou na 17ª suplência. Não há notícia de que tenha se candidatado em qualquer outra ocasião.











Leis de Reajustamento da Pecuária, são as Leis 1.002, de 28 de dezembro de 1949, 209, de 2 de janeiro de 1948 e 457, de 29 de outubro de 1948.



TRIBUNA DA IMPRENSA – 2 de março de 1951
PARTE IV– Muzambinho, ou o martírio de uma cidade


Muzambinho, ou o martírio de uma cidade

Muzambinho, ou o martírio e uma cidade
IV
UM RAIO CAI SOBRE A PAINEIRA
Milton Campos reabre o ginásio – Triunfo e morte do Reitor – Juscelino Kubitschek e seus compromissos

                Lauro Campedelli, hoje chefe do PSD, um ano antes de ser prefeito de Benedito Valadares em Muzambinho avalizou a letra com a qual frei Querubim levantou dinheiro para comprar os últimos bens de Salatiel de Almeida a cidade, depois que Benedito Valadares fechou o ginásio e demitiu Salatiel, o reitor, e os demais professores – “a bem do serviço público”.
                Para muitos que apreciam os esforços de frei Querubim para fundar outro ginásio, depois de fechado o do Estado, o seu afã demonstra a sua boa fé. Para outros, mais diretamente situados no lado que apanha, isto é, do lado que está por baixo; isto apenas demonstra a sua conivência.
                Não temos elementos para decidir entre as duas opiniões. Nós nos cingimos aos fatos, fugindo a interpretações. Fato, por exemplo, é que frei Querubim, já está engolfado na política, em 1945, e convidado a apoiar o brigadeiro Eduardo Gomes, disse a quem lhe fizera este apelo em nome do interesse público que não podia porque já tinha posição tomada ao lado da candidatura Dutra, junto com Benedito Valadares, e isto porque o governador de Minas que era Valadares, lhe havia dado 200 mil cruzeiros com os quais se safou dos compromissos financeiros assumidos para a construção de suas obras no município, a compra da Escola Normal, etc.
                Um ano depois de avalizar a letra pela qual financiou a compra dos bens de Salatiel de Almeida, Lauro Campedelli, o falso “pecuarista”, tornou-se prefeito do sr. Valadares. E hoje é o chefe do PSD em Muzambinho

MUDA O GOVERNO
                Arrastam-se os anos. Uma luta feroz, de parte a parte, separa as duas velhas facções do município, os “tucanos” e os “picapaus”, agora, respectivamente, na UDN e no PSD. Frei Querubim engaja-se a fundo na luta ao lado do PSD, a ponto de não cumprimentar grande parte da população que vota com a UDN.
                Nem com o movimento de 29 de outubro Muzambinho se libertou. O interventor Alcides Lins não pode extingui-lo devido a dificuldades com o Conselho Administrativo.
                Em 1947 o sr. Milton Campos ganha a eleição de governador e a UDN conquista, no município, a Prefeitura.

A DIFERENÇA
                Imediatamente os udenistas locais apelam para o sr. Milton Campos, a fim de que reabra o ginásio e retire dali o batalhão da Força Pública que fora, durante aqueles anos todos, desde 1937, aassombração da cidade, como se ali estivesse para lembrar-lhe a inutilidade de qualquer resistência e o abandono de quaisquer veleidades de voltar a ter um ginásio.
                O sr. Milton Campos, porém,não acedeu à pressa, a final bem compreensível, dos vitoriosos.
                Primeiro reuniu-se o Comando da Força Pública de Minas e examinou a questão do 10º Batalhão.
                A existência de muitos claros nas unidades espalhadas pelo território do Estado, e a inutilidade da presença de um batalhão em Muzambinho, fez com que o Comando da Força recomendasse ao governador a extinção daquela unidade, completando com os seus elementos os claros nos outros batalhões do Estado.
                Saiu, então, a força de ocupação, ali sediada ostensiva e exclusivamente para marcar a vingança do governador contra o Ginásio.

INUTILIZADO
                Mas o prédio estava em ruínas. Havia ainda um companhia do batalhão em Muzambinho, que só depois foi retirada, livrando completamente a sede do ginásio. A Secretaria de Educação celebra, então, com a Prefeitura de Muzambinho, um contrato para a restauração do prédio, a ser efetuada pela Prefeitura.

RESSURGE O GINÁSIO
                Finalmente, em 1948, o governador Milton Campos envia à Assembléia Estadual mensagem pedindo o restabelecimento do ginásio estadual de Muzambinho. A assembléia aprova o projeto, o governador sanciona-a.
                E ressurge O ÚNICO GINÁSIO GRATUITO DE TODO O SUDOESTE INEIRO, logo promovido a Colégio Estadual de Muzambinho.

VOLTA DE SALATIEL
               Milton Campos nomeia Reitor o desterrado de S. Simão: o velho Salatiel de Almeida, o fundador. Ei-lo que então volta de S. Paulo para participar daquela festa, com imensa alegria da cidade.
               Ele tem, então, quase 75 anos de idade. Chega, para ele, o fim da vida na plenitude da justiça que lhe fizeram. Os professores, ao seu redor, estão todos reintegrados por Milton Campos. De toda parte chegaram avós e que foram alunos, pais conduzindo as crianças, para saudar Salatiel de Almeida, o colégio, o antigo ginásio, o primitivo liceu “da paineira”, como lhe chama, comovidamente, em carta a um amigo, o reitor Salatiel, em memória daquela grande paineira, que por lá havia.

A PAINEIRA
               Dias antes de ser fechado o ginásio, em 1937, uma faísca elétrica desceu sobre a paineira e rachou-a do alto a baixo, a velha árvore a que se referia. Salatiel numa carta, “com os olhos marejados de lágrimas” e uma letra trêmula, já como uma despedida.

MENSAGEM
               A 7 de abril de 1949 ele escreve aos ex-alunos:
               “No momento em que retorno à cidade de S. Simão, em gozo de licença, endereço a todos os meus amigos e aos meus ex-alunos um convite e um apelo para que nos reunamos todos em Muzambinho por ocasião das projetadas e grandiosas festividades com que a sociedade pretende comemorar dignamente a vitória da justiça e do direito representada pela volta do seu tradicional estabelecimento de ensino e educação”.

UM TREM ESPECIAL
                Mas em S. Simão, em novembro do ano passado, Salatiel morreu. Um trem especial vai buscá-lo, porque o povo não quer que ele fique para sempre longe daquele ginásio; a cidade quer guardá-lo, morto, para resgatar as injustiças que em vida lhe fizeram.
                O povo chorava nas ruas de terra batida, quando chegou o trem que trazia à cidade pela qual vivera, o Reitor de Muzambinho.

NOVO REITOR.              
                Para substituí-lo, o governador Milton nomeou um veterano do colégio, o professor Magalhães Alves, que ali começou aos 16 anos, trabalhando e estudando. Vimo-lo agora em Muzambinho, aos 55 anos, muito discreto, tímido embora firme, evitando declarações para não acirrar os ânimos e não parecer que está se insurgindo.

CHEGA JUSCELINO
                A 31 de janeiro, toma posse do governo do Estado o candidato eleito, Juscelino Kubitschek.
                Muzambinho ainda estava entregue ao pesar da morte do Reitor. Nas conversas, nas esquinas, nos serões, lembram os que passaram pelo Ginásio e aí estão, por toda parte, brilhando.
                Odilon Azevedo, o ator. Orlando M. Carvalho, o professor. Marcelo Ulisses Rodrigues, que foi secretário do governo Ademar, Gabriel Costa Carvalho, advogado no Rio, tantos nomes desfilam – e tantas recordações, naquela zona de velhos cafezais e terras escalavradas pela erosão.
                Em Belo Horizonte, porém, desembarca uma comissão do PSD de Muzambinho, com Campedelli à frente. Inflexíveis, decididos, certos de que cumprem o mais sagrado dos deveres.
                Vão cobrar de Juscelino os seus compromissos eleitorais.
                O compromisso de criar novamente o 10º Batalhão da Força Pública.
                O compromisso de mandá-lo novamente ocupar o ginásio.
                O compromisso de extinguir novamente o colégio estadual, gratuito, de Muzambinho.
                E Juscelino?
                Veremos amanhã o que fez – e como fez – Juscelino.
                Mas foi uma coisa feia. Um ato capaz de envergonhar um homem e de marcar, para sempre, o governo que não tiver o coragem de corrigir a tempo o erro a que foi induzido, e a bravura, enfim, o alto valor de aceitar um bom conselho.
CARLOS LACERDA











SALATHIEL DE ALMEIDA
Foto do Acervo Municipal







As eleições de 1950 tiveram como primeiro colocado em Muzambinho o brigadeiro Eduardo Gomes, em segundo lugar, Cristiano Machado. Getúlio Vargas ficou em terceiro lugar.





MILTON CAMPOS
Foto do Jornal da Parnaíba

















































ORLANDO MAGALHÃES DE CARVALHO

Orlando Magalhães de Carvalho, importante cientista político brasileiro, formado em Direito, foi reitor da UFMG. Em 2010 a Assembléia Legislativa de Minas Gerais fez sessão especial para comemoração de seu centenário.













Marcelo Ulisses Rodrigues, advogado e consultor jurídico foi secretário de estado em São Paulo. Tentou se eleger em 1950, mas ficou na 10ª suplência da UDN.





ODILON AZEVEDO
Foto: Museu da TV Brasileira

Odilon Azevedo, artista de teatro e TV, foi o responsável pelo lançamento de várias pessoas na TV brasileira, inclusive Nicete Bruno, Mauro Mendonça e Fernanda Montenegro.



                Abaixo da gravura acima, consta o seguinte texto:
Soldado não é Bedel
Eis a sentinela a porta do Colégio Estadual de Muzambinho ocupado militarmente pelo governado Juscelino Kubitschek em sinal de vingança por ter a oposição obtido maioria no município. Em 37, Benedito Valadares fez a mesma coisa. Dentro do colégio já estão 20 soldados. Os outros estão a caminho. E assim fecha-se o colégio estadual de Muzambinho.             CARLOS LACERDA





Sobre o texto acima, tive disponível o xeróx de uma ata que diz o seguinte, em livro numerado, na página 184 e data 8-2-51:
Espalhou-se na cidade o jornal Tribuna da Imprensa com artigo político atacando falsamente o frei Querubim, assinado pelo jornalista Carlos Lacerda. Há uma semana o mesmo fez uma visita rápida na cidade. Em um livro de ata numerado com 184, e data 8-2-51.

TRIBUNA DA IMPRENSA – 6 de março de 1951
PARTE Final – Muzambinho, ou o martírio de uma cidade

IMPORTANTE: Não sabemos se foi publicado algum artigo nos dias 3, 4 e 5 de março.


Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
FINAL
O FECHAMENTO DO GINÁSIO E O DEPOIMENTO DO REITOR

               Fechado em 1937, o ginásio estadual, gratuito, de Muzambinho foi reaberto pelo governo Milton Campos, que dali retirou a Força Pública, com plena aprovação do comando desta Força.
               O reitor que fora demitido “a bem do serviço publico” pelo sr. Benedito Valadares, voltou a Muzambinho e reassumiu a reitoria. Mas, doente, velho e amargurado, morreu pouco depois. De São Lourenço, então, foi chamado um antigo aluno e professor do velho Liceu, depois Ginásio, atualmente Colégio de Muzambinho. O professor Magalhães Alves, depois de 25 anos no Liceu fundado por Salatiel de Almeida, mais oito no ginásio estadual, assumiu a direção do Colégio Estadual.
               A matrícula em 1950 foi de 222 alunos, inclusive 50 do curso de admissão. Aos poucos, refeitos os pais do traumatismo das crises sucessivas por que passou o ginásio, matrícula subia tendendo a voltar ao antigo apogeu, quando chegou a ter 600 alunos matriculados.

ENTREGUE A CHAVE!

               No domingo, 11 de fevereiro último, o reitor Magalhães Alves chegou a Muzambinho e já na segunda-feira estava no seu gabinete, no Colégio, quando entrou o capitão-médico Ismael, do extinto 10º B. C. da Força Pública, e candidato pelo PSD à Prefeitura Municipal, tendo sido derrotado.
               O capitão Ismael entrou e disse ter em casa um radiograma do Comando para receber, das mãos do reitor, as chaves do Colégio Estadual de Muzambinho.
               O sr. Messias Gomes de Melo, ex-prefeito, atual vice-presidente da Câmara local, disse que a chave do colégio já não estava com ele, mas se estivesse não a daria, pois a Prefeitura tem contrato com a Secretaria de Estado da Educação, para efetuar as obras no prédio do Colégio; e como a Secretaria não pagou, a Prefeitura não poderia entregar as chaves.
               Mas o capitão Ismael mostrou, já em sua casa, o radiograma que dizia: “Deveis receber as chaves”...

UMA EXTREMA PRUDÊNCIA
               
               O reitor do colégio recusou-se a fazê-lo sem ordem de autoridade superior, que no caso é o secretário de Educação. Mas até essa data (agora é que se fala na solução da crise, em Belo Horizonte) o sr. Juscelino Kubitschek não conseguira nomear um secretário de Educação. O capitão disse que ia comunicar-se com o comando da Força. O reitor, por sua vez, comunicou-se com o chefe do gabinete do secretário da Educação. Eis a resposta, de ordem do Palácio da Liberdade:
               “Radiograma do Serviço Radiográfico do Estado de Minas, n. 119, de 14-2-51, 10 horas:
               “Reitor Magalhães Alves, Muzambinho: De ordem do sr. Secretário (da Educação inexistente), fiscais autorizado a entregar as chaves do edifício onde estava alojado o 10º B.C. ao capitão Ismael Coimbra. Aguardo comunicação. Saudações cordiais. (a) Luiz Melo Viana Sobrinho, chefe do gabinete”.
               O edifício em que “estava alojado” o batalhão é o do Colégio Estadual de Muzambinho.

TROPELIAS

               Nos dias de carnaval, chegou a Muzambinho um delegado especial, militar, Mário Cardoso. Um grupo de retirantes empregados em obras do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem procurou invadir a sede da Associação Operária local, aos gritos de
               “Viva o dr. Juscelino!”
               - Viva, que é meu irmão de leite, respondeu o presidente da Associação Operária.
               - Viva o dr. Getúlio Vargas! gritavam os capangas.
               - Viva, que é o novo presidente, respondeu o presidente da Associação Operária.
               - Mas nós “viemos” aqui para escurecer isso de bala. Vamos quebrar o retrato daquele bugio lá (e mostravam o retrato do sr. Gabriel Passos, candidato da UDN, derrotado, à presidência do Estado, e patrono da Associação Operária de Muzambinho, que foi inaugurada quando de sua visita ao município).
               - Isto, não! disse o presidente.
               Os capangas mostraram as armas. Começaram a insultar os presentes, numa provocação crescente.
               A mulher do presidente conta-nos detalhes da história que  toda a população de Muzambinho conhece. Ela conta que foi comunicar ao Prefeito que a Associação Operária estava em risco de ser assaltadas pelos “baianos” (assim chamam os retirantes empregados na rodovia).
               O Prefeito (então da UDN) disse a ela que comunicasse ao delegado. Procurou o delegado. Não queriam deixa-la falar com ele, no Automóvel Clube, onde também se dançava. Na confusão do carnaval, ela sentia que ia haver bala. “Que é que você quer?”, perguntou o delegado especial, quando afinal ela o localizou.
               “Os nortistas foram lá quebrar a Associação, dizendo que é ordem sua”.
               “Quem toma conta daquilo lá?” perguntou o delegado.
               - Nós.
               - Vocês não são dignos de tomar conta de uma sociedade!
               E a jovem mulher do presidente da Associação Operária, no contar desse episódio, refez a atitude de dignidade com que ela repeliu o insulto desse delegado “especial”:
               - Se é por eu ser preta, o sr. não tem o direito de falar assim.
               Ela chorava e dizia que a provocação ia acabar mal. O delegado, afinal chamou o cabo João e disse-lhe: “Vai lá, fala para eles dançarem direitinho, não prenda ninguém”.
               - Então o sr vai deixar aqueles desordeiros lá?
               Em torno dela, no Automóvel Clube, uma rede do delegado vaiava: “Acaba mesmo, acaba mesmo com aquilo!”
               Dois dias depois o engenheiro Lincoln do DNER, recebeu a queixa contra os diaristas da rodovia, apresentada por José Ernesto, o presidente da Associação Operária, cujo crime é ter votado pelo Brigadeiro, e sua mulher, d. Celina Ernesto, a quem o delegado disse:
               “Se não ficar do jeito que eu quero, eu fecho aquilo lá!”.

AMOSTRA

            Isso é apenas uma amostra do que vai ser de Muzambinho, com as represálias adotadas pelo governo estadual para se vingar de sua derrota no município...

NO AEROPORTO

               O dr. Samuel de Assis Toledo, ex-presidente da Câmara local, procurou o governador Kubitschek em Belo Horizonte, mas não foi recebido. Avistou-o, porém, no aeroporto, quando chegava o ministro da Justiça e o dr. Samuel embarcava para o Rio. Abordou o governador, que é seu antigo condiscípulo. Expôs, rapidamente, a situação de Muzambinho. O ambiente de apreensão, a grave ofensa e o prejuízo do fechamento do ginásio gratuito.
               O governador Juscelino pôs as mãos na cabeça e disse:
               - Que horror! Mas que é que vou fazer? Tenho compromisso com o frei Querubim! Prometi fechar o ginásio para oficializar o de frei Querubim, fazendo dele o Reitor!
               Em Belo Horizonte, na ocasião, estava uma comissão de próceres do PSD, instando com o governador para que ele cumprisse o “compromisso”. Compunha-se de Lauro Campedelli, cuja ficha vimos outro dia, e que foi tratar com o governador, de passagem, da sua tentativa de fazer pagar, pelo Tesouro Nacional, passando por pecuarista, os prejuízos que deu à praça como especulador em café; João Vicente Cipriano, parente de Campedelli, argentino, naturalizado, autor do primeiro tiro contra o Ginásio, em 1937, que desencadeou o tiroteio partido da casa do Prefeito de então.
               E na penumbra, o frei Querubim, contra o qual posso agora formular uma acusação direta e formal, PORQUE TENHO PROVAS.

“ANJO NO NOME, DEMÔNIO NA AÇÃO”
              
               Até aqui tenho-me abstido de envolver diretamente o frade Querubim na trama de corrupção e opróbrio com que se cobre o sudoeste mineiro.
               Citei a seu respeito, fatos, apenas fatos. Por exemplo:
                1. Ele comprou todos os bens que restavam ao Reitor demitido por Valadares, de acordo com um contrato onde foi incluído uma cláusula pela qual o Reitor nunca mais poderia abrir estabelecimento de ensino em Muzambinho.
               2. Ele levantou o dinheiro para esse negócio no Banco do Crédito Real, numa letra avalisada por Lauro Campedelli, falso pecuarista, que um ano depois já era prefeito de Valadares em Muzambinho e hoje é o grande homem do PSD local.
               3. Chefe político “doublé” de franciscano, ele alegou não poder apoiar o Brigadeiro, em 45, por haver recebido 200 contos de Valadares para atender às suas obras.
               4. Tomado de uma paixão político-partidária fora de toda medida, ele está causando grave dano aos sentimentos religiosos da população. Sendo, além do mais, a maioria da população udenista, é fácil imaginar o que acontece à religião numa cidade onde a sua principal figura eclesiástica recusa o cumprimento, vira o rosto na rua quando passa por alguém, homem ou mulher, que pertence a partido diferente do que dá prestígio e fortuna a seu protetor financeiro, Campedelli.
               5. Ele insulta, dentro da igreja, os adversários políticos, a ponto das famílias desses adversários não mais frequentarem a Igreja para não sofrerem esse constrangimento.
               Eis alguns fatos. Fatos, entenderam? Irretorquíveis.
               Restava, porém, uma dúvida.

A DÚVIDA

               Teria o frei Querubim tocado para fora de Muzambinho o reitor do ginásio que Benedito Valadares fechou? Não teria sido apenas para ajuda-lo a compra de sua pequena Escola Normal, de sua humilde chacrinha, e aquela cláusula inócua – mas por isso mesmo duplamente imoral, já por mim citada?
               Como apurar esse fato, em torno do qual as opiniões variam? Frei Querubim, quando cheguei a Muzambinho, foi correndo a Guaxupé conferenciar com o Bispo, por isso não pude vê-lo, embora procurasse. Quanto a Salatiel, está morto.

A CERTEZA

               Eis que agora tenho a certeza. E quem a não terá, à vista da prova?
               Esta nos vem, por assim dizer, do outro mundo.
               Salatiel de Almeida, o reitor demitido, banido de Muzambinho, e que morreu logo após a sua consagração pelo povo e pelo governo de Milton Campos, estava em S. Simão, dirigindo o ginásio estadual daquele município paulista, quando a 23 de setembro de 1948 – cinco anos após os fatos que temos relatado, três anos antes da nova ocupação militar pelas tropas do sr. Juscelino Kubitschek -, ele, com a sua assinatura, escreveu a um amigo de Muzambinho uma carta cujo original está hoje em meu poder.
               Esta carta dá a certeza de que tudo quanto afirmamos é pouco e nos autoriza a concluir pela inconveniência da ação de frei Querubim em Muzambinho, depois dos testemunhos que temos citado e dos fatos que temos coligido.
               Dizia, na sua carta, o professor Salatiel, católico praticante – diga-se para melhor evitar qualquer sofisma:

               “Não concordarão com a abertura de um estabelecimento que irá prejudicar o seu e hostilizarão a idéia e, vencedora que fosse esta, haveria o Ginásio de suportar uma luta tremenda movida pelo seu atual diretor, o frade Cherubim, anjo no nome e demônio na ação.
               ... Este é o meu modo de ver, suscetível de estar enganado, pelo fato de há quase cinco anos viver fora de Minas, de que, aliás, sinto profunda saudade. Em sua carta, Maria Corina fêz sentir que não temos desejo de residir novamente naquela cidade, de que conservamos gratíssimas recordações. Temos receio de se repetirem as injustiças e ingratidões de que fomos vítimas, partidas, exatamente, daquele que fora fiador de uma paz feita em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo”.

               Essa carta é de tal ordem que mais vale coloca-la à disposição daqueles que tenham a menor dúvida sobre essa conclusão a que chegamos, inclusive das autoridades eclesiásticas.
               Mas quero apenas destacar mais um trecho, que serve de confirmação, gravada pela solenidade da morte, do que aqui foi por mim relatado:

               “Quando me lembro de que fui forçado pelas circunstâncias a assinar uma escritura de venda da Escola Normal em que figurava um imóvel que não fora vendido: que fora forçado a assinar uma escritura em que figurava a cláusula pela qual me comprometia a não mais exercer o magistério em Muzambinho, quando me lembro de tudo isso, dessa coação material e moral de que era conhecedor o bispo da minha Diocese, um dos intermediários do negócio, sinto-me desencorajado de voltar a Muzambinho e, principalmente, para exercer uma função pública.”
               “Almejo tornar a Muzambinho como simples visitante, para rever bons amigos que incontestavelmente ali deixei e, sobretudo, para beijar as sepulturas no cemitério, onde lá pousam as cinzas de tantas pessoas de minha família e de tantos amigos”....

               Ele de fato voltou, mas não como visitante. Lá está ele, naquele cemitério, entre “pessoas da família e tantos amigos”. Afrontado, perseguido, escorraçado em vida, novamente lhe fazem agora afronta e perseguição, com a reocupação militar do ginásio, do seu ginásio, tramada pelo frei Querubim, pelo solerte Campedelli e alguns outros, à sobra da autoridade do governador de Minas Gerais.
               O sr. Benedito Valadares, que tem no prelo o seu romance “O Espiridião”, nunca se limpará da culpa de haver fechado o ginásio estadual de Muzambinho e perseguido, ou deixado que perseguissem, até a morte, o fundador, o professor, o reitor, o criador desse único ginásio gratuito do sudoeste mineiro. O martírio de Muzambinho tornou-se, por isto mesmo, um símbolo.
               Pretende o sr. Juscelino Kubitschek disputar-lhe essa glória?
              Os seus antecedentes não indicam isto. Ele será do tipo leviano, mas não parece do tipo sinistro. Esvoaça, como um dançarino. Politicamente, é um bom pé de valsa. Será, quando muito, segundo os seus inimigos um ótimo pé de cabra.
               Mas não parece, até agora que seja um pé de pato.
               Vejamos o que ele é capaz de fazer, ou antes, de não fazer, nesse caso de Muzambinho.
               As coisas, no Brasil, dificilmente têm consequências. Já não faltou quem dissesse ser absurdo um jornal do Rio preocupar-se com Muzambinho.
               Ora, nós nos preocupamos com a justiça.
               E esta não tem lugar certo nem incerto, grande ou pequeno, próximo ou remoto. A justiça contra a qual se atenta em Muzambinho é ferida, ao mesmo tempo, por isso mesmo em toda parte. E aí de quem não souber defende-la em Muzambinho! Esse a não defender jamais, verdadeiramente, em parte alguma, senão na medida em que ela não prejudique os amigos e atenda a uma série de pequeninas condições, bem pequeninas, para ser suficientemente notória e, ao mesmo tempo, suficientemente inócua.
               Justiça para os alunos e os pais e os professores de Muzambinho. Que se retire do colégio estadual a tropa que lá está posta à espera do restante da força de um batalhão. Que se contenham os impulsos do frade desmandando, induzindo-o a ter mais respeito pela dignidade dos seus semelhantes e concitando-o a se arrepender da sua falta de caridade e de justiça.
               O ginásio estadual de Muzambinho deve ser reaberto. No país em que o ministro da Educação faz do Ministério alvo de ódios pessoais, não admitira que se fechem escolas, em tempo de paz e calmaria, para abrir casernas.
               Em tudo isso, há uma trágica minúcia, a guisa de epílogos:
               - O Estado de Minas Gerais paga ao reitor do Colégio Estadual, Cr$ 2.300,00. E aos professores, Cr$ 1.200,00.
               E ainda se julga com direito a meter soldados da Força Pública entre os meninos, no pátio do ginásio.
CARLOS LACERDA
















ISMAEL DE OLIVEIRA COIMBRA
Foto do Acervo Municipal


MESSIAS GOMES DE MELO
Foto do Acervo Municipal










Aqui é importante dizer que o batalhão continuou instalado em parte do prédio do antigo Ginásio, e, funcionava concomitantemente o Colégio e o Batalhão, e, pelo que dá para inferir, a Prefeitura fazia obras em alguma das partes. O museu tem as fotos da reforma, que construiu onde hoje são as salas de 9 até 16. É importante dizermos que as chaves solicitadas podem ser apenas as que o batalhão utilizava na época. Não investiguei.










Ressalte que em Muzambinho Getúlio Vargas ficou em 3º lugar na eleição, com cerca de 20% dos votos válidos, na eleição de 1950 (Em 1930, foi o contrário). Entre 1930 e 1964 os tucanos ganharam todas eleições, para todos os cargos, e Muzambinho, inclusive quem eles apoiavam para o governo federal e estadual, sempre eram os mais votados na cidade.





JOSÉ ERNESTO
Foto do Acervo Municipal

ASSOCIAÇÃO OPERÁRIA
Foto do Acervo Municipal



GABRIEL PASSOS

Foto do Acervo Municipal

















SAMUEL DE ASSIS TOLEDO
Foto da Galeria da Câmara Municipal



































































































TRIBUNA DA IMPRENSA – 8 de março de 1951
CARTA DOS LEITORES – Saudade de Muzambinho

SAUDADES DE MUZAMBINHO

                Venho lendo com saudade e emoção suas crônicas sobre Muzambinho, a graciosa cidade mineira do Liceu Municipal de Muzambinho, o velho estabelecimento fundado por Salathiel Ramos de Almeida, o saudosíssimo e queridíssimo Beca.
                Tudo verdade, tudo certo. Reuniu, no começo do século, Salathiel, esse educador extraordinário, uma verdadeira plêiade de mestres: Carlos Góes, Júliio Bueno, G. A. Nixon, Max Heine, Mário Duarte, Vilhena de Moraes, Atanásio Saltão, João Baptista (que me ensinou o b-a-ba) Ernani Domingos, Lycurgo Leite, Fernando Corrêa, J. Tocqueville e muitos e muitos outros cujos nomes agora não me ocorrem.
                Fui para lá em 1908 e nessa época o Liceu era incontestavelmente a primeira Escola do Sul de Minas. De todos os pontos chegava aluno para  o Internato. Por ele passou uma verdadeira legião de estudantes que, hoje, honra o colégio onde estudaram.
                Em São Paulo, Noé Azevedo, meu companheiro de carteira até o sexto ano, Francisco e Antônio Azevedo, Luiz G. do Prado, Gustavo Corrêa, José Avelino, Mário Coutinho, Domingos Cerávolo, Honório Soares, Aristóteles Martins, Antenor Magalhães; em Minas, Antônio Magalhães Alves, o legítimo sucessor de Salathiel, os Coimbra da Luz, Luiz Introcaso,  os Paolielo, os Navarro, os Bandeira de Melo, Jeremias Zerbini, José Barbosa de Figueiredo, Luiz Cassiano da Silva, Lélio de Almeida, Ary de Almeida (filhos de Salathiel) engenheiros, advogados, dentistas, médicos; aqui, no Rio, José Cândido de Souza, José Barbosa da Luz, Domingos Vômero, Mário Falleiros, Talcídio de Oliveira, todos médicos; na Câmara Federal, Jalles Machado, Lycurgo Leite Filho.
                A lista é muito grande; cito apenas alguns nomes entre as centenas de estudantes que até hoje cultuam e veneram a memória de Salathiel e se indignam, tenho certeza, contra o mais nefando crime perpetrado em 1837, por esta pústula maligna que durante tanto tempo maculou o Palácio da Liberdade e espalhou a sua malignidade por todo o Estado de Minas.
                A transformação do Liceu Municipal e mais tarde Ginásio de Muzambinho, em quartel de polícia, marca uma época e define a mentalidade dêsse home, cujo nome não é preciso citar e que, nas últimas eleições, chefiou a traição contra seu próprio companheiro de partido, o inocente Cristiano Machado, seu ex-secretário de Educaão.
(Conclui na 6ª pág.)

SAUDADES...

(Conclusão da 4ª pág.)
                Mas, que o senhor Juscelino Kubitschek, um médico, tendo por secretário de Saúde, outro médico, reedite esta façanha e transforme o Ginásio de Muzambinho em novo quartel, é de pasmar! Eu não poderia acreditar nessa proeza, mas vejo que deve ser verdade, pois estou sabendo que na minha segunda cidade de adoção (a primeira é Muzambinho), Santa Rita do Sapucaí, onde a UDN venceu as eleições de ponta a ponta, fez dois deputados: Bilac Pinto e José Cabral, fez o prefeito Pedro Rennó Moreira, seus dignos filhos, já começou a derruba e remoção de seus funcionários.
                Cito apenas um nome: meu colega, José Alcides Mendes, diretor do Porto local, filho de Santa Rita, rapaz decente e trabalhador, removido daquela cidade para Sabará.
                E a lista de outros removidos é grande.
                Milton Campos ... Juscelino Kubitschek ... um advogado-moralidade, decência, escrúpulo, honradez, justiça.
                Outro médico ... mas em política, discípulo e cria de quem?
                Ai do meu glorioso Estado. Vae victs! Pobre Minas Gerais! – Joaquim Barbosa Figueiredo. Rua Itaipava, 99”






JÚLIO BUENO
Foto do Acervo Municipal


JOSÉ ARY DE ALMEIDA
Foto da EE Prof. Salatiel de Almeida


JALES MACHADO
Foto da empresa da família

LYCURGO LEITE FILHO
Foto do acervo municipal

















FOLHA DO POVO – 8 de abril de 1951
(Jornal de Guaxupé)

A PEDIDOS

Muzambinho, ou o Martírio de uma Cidade

C.P.

                Com esse título, gênero capa e espada, vem o jornalista Carlos Lacerda publicando em sua << Tribuna da Imprensa >> uma novela sensacionalista, de lances épicos, que pretende mais tarde radiofonizar por todo o pais.
                Novela inteligente e imaginoso, mistura de D’Artagnan e Tartarin, o seu folhetim está ganhando público e fazendo sucesso. Já apareceram em letra de forma os cinco primeiros capítulos, de títulos vistosos: - <<O Começo do Fim, Ou o Fim do Começo>>; <<A Morte Cai Sobre a Cidade>>; <<A Represália>>; <<O Raio e a Paineira>>; <<O Trem da Morte>>...
                O título é o homem... Por aí se vê.
               















                O texto prossegue falando sobre Carlos Lacerda, porém, sobre fatos de Guaxupé.




REFERÊNCIAS (APENAS AS CITADAS – HÁ VÁRIAS OUTRAS)

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Dados Estatísticos (2º Volume). Eleições Federais e Estaduais realizadas no Brasil em 1950. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1952.


OS TUCANOS CITADOS




DR. LYCURGO LEITE, MESSIAS GOMES, MAGALHÃES ALVES, SALATIEL










DR. SAMUEL DE ASSIS TOLEDO, JOSÉ MARIA ARMOND, JOSÉ ERNESTO









ARMANDO DE SALES OLIVEIRA, GABRIEL PASSOS, MILTON CAMPOS













OS PICA-PAUS
 





FREI QUERUBIM, LALAU CAMPEDELLI, JANE CIPRIANI








DR. JOSÉ JANUÁRIO DE MAGALHÃES, DR. ISMAEL COIMBRA


 





BENEDITO VALADARES, JUSCELINO KUBITSHECK

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citando como autor Otávio Luciano Camargo Sales de Magalhães

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