As Tertúlias de Jackson – “Athenas Sul
Mineira”
Algo que merece destaque ainda é o
título “Athenas do Sul de Minas”. Este nome, atribuído ao filósofo
fundamentalista católico e catedrático do Colégio Pedro II, Jackson de Figueiredo.
Pelo que os historiadores e poetas de
antigamente contam, Jackson sempre estava por Muzambinho e tinha uma certa
paixão pela vida cultural da cidade, que tomava de Campanha o título de centro
cultural do Sul de Minas no início do século.
O site do CPDOC nos dá algumas
informações sobre o filósofo:
Jackson de Figueiredo
Jackson de
Figueiredo Martins nasceu em Aracaju, em 1891.
Bacharel em direito,
dedicou-se à política e ao jornalismo. Seu nome é ponto de referência na
história do catolicismo brasileiro como organizador do movimento católico
leigo. Entre 1921 e 1922, fundou o Centro Dom Vital e a revista A Ordem, através dos quais
combateu o comunismo, o liberalismo e a revolução de modo geral. A sua proposta
era reunir leigos e religiosos que se dedicassem aos estudos da doutrina
católica. Foi através de sua obra que o pensamento conservador, tradicionalista
ou reacionário foi introduzido no Brasil.
Em 1921 defendeu
a candidatura de Artur Bernardes, identificando-o com os
princípios da autoridade, religião e ordem, em detrimento de Nilo Peçanha, como demagogo, revolucionário e
ligado à maçonaria.
Colaborador em
vários jornais e revistas, como a Gazeta de Notícias e O Jornal,
produziu, entre outras obras, Afirmações (1921), A reação do bom
senso (1922) e A coluna de fogo (1925).
Faleceu em 1928. [1]
O texto “Extrema direita? Onde?” de
autoria de Pedro Sette Câmara, publicada em http://oindividuo.com/pedro/pedro23.htm,
acessado em janeiro de 2006, associa o filósofo com a extrema direita
brasileira:
Um amigo me repassou um texto enviado para a lista
“Carpe Diem”, de pessoas ligadas a um extinto jornal da Escola de Comunicação
da UFRJ. O texto começa pretendendo fazer um histórico da suposta
“extrema-direita” no Brasil, colocando no mesmo saco personagens tão díspares
como Jackson de Figueiredo, Plínio Salgado, Gustavo Corção, Plínio Correia de Oliveira, Olavo de Carvalho e até mesmo
Diogo Mainardi, e termina propondo uma grande aliança para combater a
face mais nova desta “extrema-direita.
Muzambinho,
até hoje, tem preferência na votação em candidatos de tendência de direita. A
influência do filósofo teria contribuído algo para isso? Ou o filósofo teria se
atraído por esse motivo?[2]
Jackson converteu Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde) ao cristianismo após
longos debates e o substituiu na direção do Centro Dom Vidal e da revista “A
Ordem”.
Paulo Ghiraldelli Jr., em seu texto
“Introdução à História da Educação Escolar Brasileira: História, Política e
Filosofia da Educação” (versão prévia), disponível em http://www.miniweb.com.br/Educadores/Artigos/Introdu-Edu-Bra.pdf,
acessado em janeiro de 2006, fala sobre Jackson de Figueiredo, Padre Leonel
França e outros no tópico “Ideário Católico”.
A relação do filósofo Jackson com
Muzambinho é amplamente discutida em vários documentos.
Jackson de Figueiredo
(site vivabrasil.com.br)
Primeiro, se atribui a ele o título de “Athenas do Sul de Minas” (ou “Athenas Sul-mineira”,
ninguém sabe):
O ensino ministrado era de elevado padrão. O diretor
era inovador e atualizado. As bancas examinadoras eram compostas de
catedráticos do Colégio Pedro II do Rio. Muzambinho se tornou o centro de
cultura a ponto de merecer do escritor Jackson de Figueiredo o apelido de
“Atenas do Sul de Minas”, e ao Prof. Salathiel como sendo “O maior dos
educadores de seu tempo”. (MONTANARI)
Soares (1940) também atribui o
título de “Atenas do Sul de Minas” à Jackson. Talvez, seja a primeira fonte a
falar sobre isso.
Afonso de Araújo e Almeida,
em 1940 fez uma palestra em Muzambinho, como mostra o jornal “O Muzambinho”
deste ano, com o título “Athenas Sul Mineira”, não cita Jackson é entre seus
trechos fala: “A Muzambinho é a Sul
Mineira Athenas” “Glória aos artistas
da Mineira Athenas que é a cidade mais cândida de Minas”.
A passagem de Jackson de Figueiredo
por Muzambinho é amplamente coberta por Soares (1940), alguns trechos:
Sobre Jackson de Figueiredo “Fez bem o sr. Brêtas
Soares em evocar as
figuras de um Amadeu Amaral e de um Jackson de Figueiredo tão
queridas em Muzambinho.
O melhor elogio que se pode fazer à cidade sul-mineira é
denunciar essa capacidade de admiração pelas personalidades ilustres e já hoje
nimbadas de glória que um dia a visitaram.
Lembramo-nos
com viva emoção de ter ouvido aí as conferencias do imortal poeta de “Espumas”,
uma delas em casa de Camillo Paolielo. Lembramo-nos que nos coube a honra de saudar o
prosador soberbo, no baile que lhe ofereceu a sociedade muzambinhense, quando o
saudoso escritor e jornalista foi à antiga São José da Boa Vista batizar uma
folha do estudioso jurista Pinto Pereira.
E Jackson?
Este é quase muzambinhense germanissimamente aliançado à sua sociedade.
(Almeida Magalhães) (SOARES, 1940)
O grande filósofo brasileiro, JACKSON DE FIGUEIREDO, o
tinha em conta de um homem extraordinário pela sua cultura, pela sua bondade e
pela sua admirável envergadura moral, ao ponto de fazer eloqüentes referências
sobre a sua personalidade no seu livro “Humilhados e Luminosos”. (SOARES, 1940)
Jackson fez um poema para Camillo
Paolielo e Max Heine. Escritos em Muzambinho 4 e 5
de dezembro de 1916, duas da madrugada, e foi publicado em Soares (1940).
Não é apenas Soares que destaca
Jackson em
Muzambinho. Também , Carlos Lacerda:
AS TERTÚLIAS
DE JACKSON
Um dia Jackson de Figueiredo foi, como parte da banca examinadora do Pedro II argüir alunos em Muzambinho. Apaixonou-se
pela cidade. Ali converteu Hamilton Nogueira, o senador. Ali se empenhou naquelas grandes conversas
da farmácia, na qual citava, com sua espantosa memória, os versos dos poetas
que a ronda do acaso ia evocando. Um centro literário, a par da consciência
profissional, formou-se em Muzambinho. (LACERDA, 1951ª)
E não é só de Jackson que vive
Muzambinho[3]. A
exaltação da cidade pela sua cultura intelectual e pela mudança da capital
cultural do Sul de Minas de Campanha para Muzambinho é destacada por vários. Dois
poemas célebres, “A Decantada”, de Júlio Bueno, e “Auri-Cerulea” de Almeida Magalhães, falam
sobre Muzambinho de forma apaixonada. Ambos poemas do primeiro quarto de
século, da época áurea do Lyceu.
Texto Auri-Cerulea, de Almeida Magalhães, 19/09/1926 –
“Modesta princesa orgulhosa” “O mais belo jardim do Sul de Minas, plantado no
ponto mais alto e na praça mais soberba da urbes” “Muzambinho representa na
inspiração dos artista novo e perfeito suplício de Tântalo. É por isso
naturalmente que sendo, embora uma terra de poetas, não foi ainda cantada num
soneto, numa quadra, num verso sequer” “Muzambinho, modesta princesa orgulhosa
esconde-se toda e se retrai na própria opulência, quando se trata dos poetas e
os seus encantos” (O Muzambinho – 1940)
Soares teoriza sobre a
intelectualidade em Muzambinho:
a primorosidade do meio social de Muzambinho era muito
mais causa do que efeito de sua vida ativa e fecunda vida escolar. (SOARES,
1940)
A influência da vida escolar da
Muzambinho da época do Lyceu influenciou até mesmo o brasão e bandeiras municipais. Raríssimas cidades do país e do
mundo colocam estudantes em sua bandeira:
Lei 1158, de 22/09/1983 –
Dispõe sobre a forma e a apresentação dos Símbolos do município de Muzambinho e
dá outras providências. Seção II – Da Bandeira Municipal. Art 6º: “... a quarta
figura, também em forma de triângulo, de extremo a extremo ligada por um arco
com um bico na base, tendo o campo branco e no centro desse, três figuras de
estudante contornadas em preto, assim classificadas, a da esquerda de quem
observa, representa o estudante do primeiro grau, o do meio, o estudante do
segundo grau e o da direita, o universitário, simbolizando, assim, a educação
do município.” Repete-se o texto no Art. 18. (Do Brasão Municipal)
A professora de história, Lúcia
Cardoso coloca o seguinte trecho, que bem representa o
que hoje Muzambinho pensa de sua história, de Atenas Sul Mineira:
A história de Muzambinho sempre esteve ligada a fatos
relacionados com a sua política Nacional: O movimento abolicionista liderado
por Américo Luz, a luta de sues líderes políticos, a vinda da estrada de ferro
para a cidade, a criação do Lyceu Municipal em 1901, através da qual mereceu o
título “Atenas Sul Mineira” (cuidando da educação dos jovens de todo o país,
que posteriormente figurariam em importantes setores da vida pública nacional).
Muzambinho sofreu as conseqüências da revolução de 1930 e 1932, quando a cidade
foi ocupada por tropas paulistas gerando confrontos armados. (OLIVEIRA, 2001)
Uma interessante comparação é feita:
“Toda essa greide como o Atenas de Minas,
que não, temia o valor monacal de um Caraça.” (PEREIRA FILHO, 1991), em
relação ao tradicional Colégio Caraça, um dos mais antigos do
estado de Minas.
Uma metáfora que ouvi pela primeira
vez do prof. Marcos Navarro Miliozzi
(bisneto do Cel. Francisco Navarro, professor da faculdade de
Educação Física), que hoje, Muzambinho era “Apenas Sul Mineira”, uma
brincadeira com o nome da cidade, que perdeu muito de sua pureza educacional.
(Metáfora esta repetida pelo sr. Benjamim Ribeiro em cartazes espalhados pela
cidade, com críticas sociais e apelos pela reabertura do Clube Recreativo
Local).
[1] Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/htm/biografias/ev_bio_jacksondefigueiredo.htm.
Acessado em janeiro de 2006.
[2] Pica-paus ou Tucanos, ambos, tinham tendências
políticas conservadoras e altamente religiosas. João Marques de Vasconcelos, um político que entrou em cena depois dos anos 50 foi
vice-governador biônico de Minas Gerais nomeado pelo regime militar. O primeiro
político de esquerda em Muzambinho foi Marco Régis de Almeida Lima,
eleito em 1988 para prefeito de Muzambinho com o lema “Socialismo e Liberdade”
ou “Solidariedade e Progresso” pelo Partido Socialista Brasileiro, com forte
inspiração marxista. Marco Régis foi eleito deputado 2 vezes pelo Partido
Popular Socialista, e, em 3 eleições (a 3ª derrotada) teve mais de ¾ dos votos em Muzambinho. Foi
eleito prefeito novamente em 2004 com um discurso mais conservador, aliado com
os líderes locais da Igreja Católica e com o lema “Humanimo, Confiança e
Trabalho” e menos ênfase marxista.
[3] Para saber mais sobre Jackson de Figueiredo, consulte
o site, inclusive com foto do filósofo católico e com biografia completa de sua
vida e obra: http://www.vivabrazil.com/jackson_de_figueiredo.htm,
acessado em janeiro de 2006.