HONÓRIO ARMOND

#31 O poeta do além Honório Armond, o “Príncipe dos Poetas Mineiros” e sua psicografia por Chico Xavier
Otávio Luciano Camargo Sales de Magalhães

O poeta do além: Honório Armond
 
Honório Armond (Diário de Minas 3/11/1957)

Num fundo azul rubro e jade
olha o velho uma criança
chama-se o velho saudade
chama-se a outra    esperança"
===
pedindo licença para dependurar nesse varal
poesia de
Honório Armond
========
helena armond[1]

           


Honório Armond é considerado o “Príncipe dos Poetas Mineiros”. O homem, que viveu grande parte da vida em Barbacena, além disso, após sua morte, foi amigo do médium Chico Xavier (é o que o líder espírita dizia).
            O professor do Lyceu, irmão de José Maria Armond, atuou provavelmente muito pouco tempo na escola de Salathiel, talvez nunca tenha atuado no Ginásio Mineiro, apenas no Lyceu.
            Honório Armond nasceu em Barbacena em 27 de junho de 1891. Fez os estudos primários e secundários no Colégio Militar de Barbacena. Foi catedrático de português do Colégio Estadual de Barbacena (Ginásio Mineiro?) e da Escola Agrotécnica. Foi sargento e jornalista.
            Escreveu “Ignotae Deae” (1918), “Perante o Além” (1922), elogiado por Humberto de Campos, “Les Voix et lês Bonheurs” (1921), em francês, “Caminhos da Vida do Destino”.
Quando se instituiu e Minas o certame do primado da poesia mineira, organizado pelo “Diário de Minas”, na sua primeira fase, foi Honório Armond consagrado Príncipe dos Poetas Mineiros, recebendo considerável sufrágio na época. (OLIVEIRA, 1957)
 
Honório Armond (LYCEU, 1924)

            Em entrevista com o médium Chico Xavier, disponível em: http://revistainformacao.anderung.com.br/edicoes/2000/Setembro.pdf (acessado em janeiro de 2006) :
Vivendo desde a infância entre dimensões ou mundos paralelos, Chico tem relatos de experiências estraordinárias, muitas delas registradas em livros organizados por amigos e pesquisadores. Algumas destas envolveram escritores, poetas, Espíritos que enquanto encarnados mantiveram contato com o médium. Suas lembranças, serão objeto de sua apreciação neste mês.
            Um destes poetas foi Honório Armond. A revista “Informação” pergunta ao líder espírita Chico Xavier quais espíritos de poetas que lhe vem conversar.
Chico, acerca dos poetas amigos que teriam regressado da Vida Espiritual, depois de entendimento com você, lembra-se de alguns?
Chico Xavier – De imediato recordo-me de quatro amigos queridos: Honório Armond, Cornélio Pires, Maria Dolores e Jesus Gonçalves.
Você conheceu Honório Armond? Ele era espírita?
Chico Xavier – Ao que sei não era ele espírita mas um grande poeta – um grande homem, pela cultura e pela bondade. Encontrei-me com ele algumas vezes, em grande cidade mineira, para onde me deslocava a serviço de exposições pecuárias. Fui apresentado a ele pelo Dr. Durval Nascimento, grande professor barbacenense e, logo depois das primeiras palavras, disse-me haver lido o “PARNASO DE ALÉM-TÚMULO”, comentando com respeito e simpatia os poemas psicografados. Desde então, quando nos víamos declarava-me, mais por bom-humor do que por outra coisa, que se desencarnasse antes de mim, voltaria a escrever por meus dedos. E voltou mesmo. Ao lado daquilo que compõe, por nosso intermédio, costuma dizer-me que vem se adaptando à Vida Maior e que não dispõe de palavras para escrever o que sente agora, perante o Universo.
            Chico Xavier publicou poemas psicografados de Honório Armond. Talvez inspirado em sua poesia metafísica. Honório Armond, nas palavras de Júlio Bueno, era “incomparável investigador do Além”.[2]

            Honório Armond entrou para a Academia Mineira de Letras. Ocupou a cadeira 38, cuja patrona é Beatriz Brandão e o fundador é Paulo Brandão, morto em 1928. Após a sua morte, e, 1958, o sucedeu Vivaldi Moreira (morto em 2001) e Pedro Rogério Couto Moreira.
Honório Armond (Foto da foto no Museu Municipal de Barbacena)

            Vários documentos citam Honório Armond como professor do Lyceu.
Honório Armond, bacharel em letras, poeta de renome, ator do “Perante o Além”, “Ignotae Deae”, “Sombra e Saudade”, “Sunt Vocês”, “Os Caminhos da Vida e do Destino”, latinista, professor de matemáticas e francês. (LYCEU, 1924)

PROF. HONÓRIO ARMOND, membro da Academia Mineira de Letras e “Príncipe dos Poetas Mineiros”, (SOARES, 1940)


            Foi redator e redator chefe do jornal “O Muzambinho”, pelo menos entre 1921 e 1924.
Seu pai também chamava-se Honório, como indica o jornal “O Muzambinhense” em virtude de seu falecimento (do pai):
Falecimento do pai de J. Maria Armond, Honório F. Armond (O Muzambinhense – 18/05/1930)

            A Biblioteca Pública de Barbacena leva o nome do poeta.
O filho de Honório Armond, com nome Honório Armond Filho foi presidente da Câmara de Sabará de 1960 a 1963, conforme indica o site: http://sabara.net/conteudo.asp?id_item=2305&OPCAO=item (acessado em janeiro de 2006).
            Suas poesias podem ser encontradas na Internet e em Soares (1940): http://www.secrel.com.br/jpoesia/@ha01.html (“Palavras a um crente”). Trechos em: http://www.jornaldoposte.com.br/materias/absinto.htm. Textos acessados em janeiro de 2006.
            Na Internet também tem uma foto sua, e de seu casamento em 1919 com Dona Marieta Liberal, em péssima resolução, disponível em: http://www.barbacenaonline.com.br/museumunicipal/republicana/museu_%20073.htm. Acessado em janeiro de 2006.
Também é interessante o trecho disponível na Internet, acessado em janeiro de 2006, (http://viareal.com.br/revista/aclcl.php):
Dia 17, no auditório da 2ª Subseção da OAB de Lafaiete, na praça Barão de Queluz, aconteceu a sessão solene, quando a acadêmica Zilda de Castro, da Academia Barbacenense de Letras, proferiu a conferência “Visão Filosófica do Homem e do Mundo na Poética de Honório Armond”.A acadêmica transmitiu com sentimento profundo toda uma política de pensamentos de Honório Armond.    
            Informação sobre Honório Armond, que repete seu título de “Príncipe dos Poetas Mineiros” em: http://www.academia.org.br/revista/memoria13.pdf, acessado em janeiro de 2006. O título de “príncipe” ao é apenas um elogio ou homenagem, mas um título honorífico oficial, feito em eleição em 1927.
Honório Armond no dia do seu  casamento (Foto da foto do Museu Municipal de Barbacena)

            Soares (1940), em seu livro, em 18 páginas fala dos quatro principais poetas relacionados com Muzambinho, segundo ele, Pedro Saturnino, Honório Armond, Uriel Tavares e Michelet Navarro. Cita também Alfredo de Assis e Luna de Miranda Couto apenas de passagem.
            Fala que Honório Armond viveu em Muzambinho por 14 anos.
Apesar de sua linhagem remontar a uma ilustre família francesa, por parte do barão de Pitangui, é digna de apurada menção a sua conduta como homem: É gentilíssimo, de encandilada educação moral, de inteligência fulgurante e de um coração profundamente bondoso. Muito afetuoso, modesto, simples, sociável, amigo certo dos humildes e dos pobres, quanto avesso, renitente e até atrevido diante da impáfia vazia e fofa da estupidez e da vaidade humana, bem como ante qualquer insólita arrogância, como a da prepotência do dinheiro; é, por isto mesmo, um caráter irresvalável de cidadão patriota, portador, sem dúvida alguma, dos mais belos predicados do povo montanhês, sempre independente e altivo como os píncaros das suas montanhas; rijo como as suas fragas; honrado, afável, hospitaleiro e bondoso como os remansos que correm ao sopé das serrarias, como alfombra verdejante, cheirosa e macia dos seus prados e dos seus bosques.
                Como professor, foi dos mais competentes e produtivos entre os que desfilaram pelo Liceu Municipal de Muzambinho. Nasceu professor. Adorado pelos seus alunos e mestres, seus colegas. Culto e erudito, dominando vários idiomas, probo e justo, generoso e fidalgo, tanto no âmbito social comum como nas fileiras do magistério, é professor que honra sobremodo a cátedra do ensino em Minas Gerais. (SOARES, 1940)
            A biografia de Honório Armond em Soares descreve detalhadamente as obras do poeta, “O cidadão é modelar”, “O professor é paradigma”, “O intelectual é poeta, e é poeta do sentimento e do pensamento.”
            Veio para Muzambinho, segundo Soares em 1916, na época que publicou seu primeiro livro de versos Ignotae Deae, com influencia de Augusto dos Anjos (como outras de suas obras, segundo Soares). Soares ainda aponta semelhanças de sua poesia com Antero de Quental.
CICLO[3]

I
NASCER...

Nascer... é a sensual volúpia, acesa,
de um casal que não pensa no que faz...
São as forças vitais da Natureza
agindo num instante astro e fugaz.

É a atração mentirosa da Beleza
que, em repulsão, mais tarde se desfaz...
Ronda a morte ao redor... e não vos peza,
o Pais, o vosso gozo tão falaz?...

E, após isso acordais tontos e pasmos...
Descobris, afinal, que andou por entre
vossos assomos loucos de Prazer

A Dor a regular vossos espasmos...
... nove meses depois abre-se um ventre...
mais um para este inferno! E é tal nascer!...

II
VIVER...

Viver... rolar a pedra encosta acima
esperando a eminência ou o apogeu,
em que a Glória reluz e o Sonho prima
pelas forças ideais que à alma nos deu...

Descer sem lá chegar... há quem exprima
o horror de quem, sem culminar, desceu?
e a dor aquele que, ao chegar lá em cima,
teve o abutre? Ou Sipho ou Prometeu!

Viver... sem Ódio, Amor, Ânsia, Luxuria...
sentir a asa colhida e baldo o surto
que são grilhões de bronze Honra e Dever

Crer, amar, esperar... tríade espúria!
Ver o pomo a fulgir e o braço é curto,
ó Tântalos do Sonho... e é tal viver!...

III
MORRER...

Morrer... é continuar, de novo, a rota
para um longínquo e tenebroso Além...
é ser flor... animal... ou pedra imota...
a Morte um só instante a Vida atém...

Da ignóbil podridão a vida brota
e, com ela, ódio... amor... o mal e o bem!
Morrer! partir para uma terra ignota
que os meus olhos, mortais, longe, entreveem...

É uma circunstância a Vida, em suma...
De qualquer ponto que tu partas, Homem,
has de encontrar, um dia, esse teu Ser!

Ou num sol ou num flóculo de espuma
as dores que, hoje em dia, te consomem
terás sempre contigo!... e é tal morrer!...

OBRAS COMPLETAS (POESIA)
 
Referência do Livro: ARMOND, Honório.   Poesia completa (com apresentação, estudos críticos e notas das organizadoras). Org. Eliana Scotti Muzzi e Nancy Maria Mendes.  Belo Horizonte: Veredas & Cenários, 2011.  324 p. (Coleção Obras em dobras)  14 x 21 cm. Capa, projeto gráfico e arte final: Marcos Lourenço Vieira.    ISBN 978-85-61508-21-0   Col. A.M. (EA)


Antologia Poética
Honório Armond



UMA NUVEM NO OCASO

Viste, acaso um suavíssimo Poente
de cinza e rosa, em gamas merencórias,
iluminar-se inesperadamente,
numa rajada de clarões e glórias?

uma nuvem pequena, alta e morrente,
lembrando auroras, madrugadas flóreas,
foi tocada do Sol subitamente,
e eis que rutila em chamas ilusórias.

Há de, em breve, apagar-se ao vir a treva
que, a lento e lento, coleante adensa,
amortalhando o céu crepuscular.

Mas, ao sumir-se, no bulcão que a leva,
que sonhos trouxe!... que ternura imensa!...
quanta saudade refletindo ao luar.

PALAVRAS A UM CRENTE


— "Que vem a ser o Bem?" — perguntas.  Digo
que nunca, até hoje, francamente, eu pude
entre o joio do mal achar o trigo.
O pecado é irmão-gêmeo da virtude...

Chamas a todos - Meu fraterno amigo!
A tua alma ingênua, meu irmão, se ilude...
Faze como eu que, há muito, já não sigo
fogos-fátuos brilhando na palude...

Leva este mundo tal como é... Mascara
as tuas emoções, o ódio, a alegria,
cerra o teu coração, aguça o olhar,
que hás de ver entre a turba ingrata e ignara
o Mal, que de virtude se fazia,
rir-se de gozo ao ver alguém chorar...



Uma voz que ainda soa: Honório Armond, poesia reeditada[4]
Nilze Paganini[5]
Luiz Antônio Paganini[6]

O poeta Honório Armond, nascido em Barbacena, Minas Gerais, em 1891, e falecido em 1958, publicou três livros durante sua vida, cada qual com apenas uma edição. O primeiro deles, Ignotae deae, foi publicado em 1917. Quatro anos depois, saiu Perante o além e, em 1932, foi ao prelo o volume com o título em francês Les voix et les bonheurs. Armond, porém, continuou a divulgar seus poemas de forma esparsa em diversos periódicos. No ano de 1991, a Academia Barbacenense de Letras reuniu os três livros em um só volume e, em 2011, como parte das comemorações do centenário do poeta, foi lançada a Poesia completa de Honório Armond aos cuidados das pesquisadoras Eliana Scotti Muzzi e Nancy Maria Mendes. As organizadoras desta mais recente edição desenvolveram carreira acadêmica na Universidade Federal de Minas Gerais e têm várias publicações em periódicos especializados na área dos estudos literários. Doutora em Letras Modernas pela Université de Besançon, França, Eliana Scotti Muzzi é estudiosa do teatro francês, do barroco e da obra dos poetas mineiros setecentistas, especialmente de Cláudio Manuel da Costa, tendo participado da edição da poesia completa deste autor que faz parte do livro A poesia dos inconfidentes, publicado pela Nova Aguilar. Já Nancy Maria Mendes é Doutora em Literatura e Cultura Francesas pela Université Sorbonne-Nouvelle – Paris III. Entre seus trabalhos estão o livro Uma galeria de pintores holandeses no romance proustiano, da editora Annablume, e a organização do volume O barroco mineiro em textos, da editora Autêntica.
Além de poeta, Honório Armond foi professor, tendo trabalhado em instituições de ensino de algumas cidades do interior de Minas. Em sua biografia, há um episódio interessante ocorrido em 1927. Os jovens modernistas mineiros, liderados por Carlos Drummond de Andrade, decidiram realizar um concurso para escolher o “Príncipe dos Poetas Mineiros” por meio do jornal Diário de Minas, de Belo Horizonte. A ideia era a de criar algo para afastar a monotonia e o tédio da vida literária da capital mineira. Segundo as memórias poéticas drummondianas publicadas em Boitempo III, os poetas Augusto de Lima, Belmiro Braga e Mário Matos receberam votos, mas quem ganhou o título foi Honório Armond. No ano seguinte, Armond entrou para a Academia Mineira de Letras, passando a ocupar a cadeira número 38. Ele teve dois importantes admiradores no campo literário: Abgar Renault e Guimarães Rosa, com quem manteve correspondência. Armond enviou ao romancista dois poemas em francês, um dos quais a ele dedicado.
Armond não seguiu a corrente modernista predominante na primeira metade do século passado, mas produziu uma obra eclética, caracterizada pela combinação de elementos do Parnasianismo, do Decadentismo e do Simbolismo. É preciso observar que, no início do século 20, era bastante comum o ecletismo literário em Minas e em outros estados brasileiros. Muitos exemplos de diálogos com o Decadentismo podem ser encontrados na obra do poeta barbacenense. Eles aparecem bem evidentes nos versos de “Amor”, que faz parte do livro Perante o além: “Para o lirismo desses decadentes / – os Arautos do Reino da Utopia – / O Amor não passa de Melancolia, / de Sonhos e Luares lactescentes...” (MUZZI; MENDES, 2011, p. 163) e, se tomarmos o poema “Visão Noturna”, escrito no último ano de vida de Armond, percebe-se que ele ainda continuava muito próximo dessa corrente literária já na segunda metade do século 20: “O mal, o eterno mal, o Mal em suma / – que tentou Cristo e enfureceu Caim – / noites atrás, bolsando fel e escuma, / juro-te, irmão! passou o Mal por mim!” (MUZZI; MENDES, 2011, p. 255).
Permanecendo dentro de um ambiente poético que remetia à Europa do final do século 19 e início do 20, apesar de ter assistido a várias mudanças mundiais, inclusive no campo do fazer poético, Honório Armond manteve um diálogo constante com a poesia francesa, tanto é assim que publicou um livro todo escrito em francês. Os ecos da poesia de Baudelaire estão muito evidentes nos livros de Armond, do mesmo modo como a de outros poetas franceses, como destacou Muzzi, que discorreu justamente sobre essas reverberações. No texto “Conflito e conciliação: bilinguismo na poesia de Honório Armond”, a pesquisadora mostrou os pontos de convergência e de distinção entre o poeta mineiro e Baudelaire, mas ressalvou que Les voix et les bonheurs não é um livro de homenagens e dedicatórias a outros escritores. A língua francesa teria sido pensada especialmente para esse livro, estruturado simetricamente em duas partes compostas por sete poemas cada uma, criando um espaço em que o poeta teria se expressado de forma menos suave do que nos outros livros escritos em português.
Outra característica da poesia de Armond também é evidente: uma educação literária baseada na herança clássica, permeada fortemente por elementos do cristianismo. Os títulos em latim de vários poemas apontam para a formação religiosa do poeta. Já no poema “Solvent saecula”, objeto do estudo introdutório de Nancy Maria Mendes, “Afinidades eletivas: intertextos na poesia armondiana”, nota-se a interlocução do escritor barbacenense com a obra de Edgar Allan Poe, Antero de Quental, Hermes Fontes e Augusto dos Anjos. As ressonâncias da poesia de Augusto dos Anjos, por exemplo, podem ser observadas ainda nos versos de “Credo de um monista”, de Perante o além: “Creio na Vida Universal que emana / do protoplasma de onde o Ser deriva... / Creio na Eterna Essência informe e esquiva / Que o Fungus fez e fez a Espécie Humana...” (MUZZI; MENDES, 2011, p. 143). No entender de Mendes, todos esses poetas com os quais Armond dialogou teriam em comum, na sua poesia, a questão da morte, o tormento existencial, a dúvida religiosa e ausência de alívio para um sofrimento persistente. Em alguns momentos, as dúvidas, os questionamentos sobre o sentido da vida, o desânimo e o sofrimento levam o sujeito poético a um desejo de morte. Em “To Die... To Sleep... To Dream...”, citação de Shakespeare, o sujeito poético imagina o próprio suicídio: “Nas minhas noites lúgubres eu penso / em trespassar o coração a bala. / Salta-me à gorja um desespero intenso, / um ódio surdo a vida me avassala...” [...] (MUZZI; MENDES, 2011, p. 154). Além desses traços intertextuais, pode-se perceber uma relação da obra de Honório Armond com a teoria evolucionista, com a corrente da poesia científica e cogitações de ordem esotérico-religiosa provenientes de tradições judaico-cristãs e também não cristãs, como demonstra a epígrafe do soneto “A grande ilusão”, extraída da obra do filósofo indiano Sankara, e várias referências ao budismo.
Honório Armond manteve certa constância em suas temáticas e dedicou toda a sua existência aperfeiçoando-se na composição de sonetos. É interessante a explicação de Eliana Scotti Muzzi para a preferência de Armond por esta forma poética. De acordo com a estudiosa, a divisão entre dois quartetos e dois tercetos ofereceria um espaço agônico para a exposição do embate vivenciado pelo eu poético, dividido entre “sentimento e razão, ciência e fé, espírito e matéria” (MUZZI; MENDES, 2011, p. 28). Esta edição traz também um prefácio de Melânia Silva de Aguiar, no qual a especialista em Literatura Brasileira indaga os motivos que fariam com que um autor reconhecido por seus pares, como Honório Armond, fosse colocado no esquecimento depois de algum tempo.
Para Aguiar, uma conjunção de fatores externos à obra de um escritor poderia explicar a sua situação de relativo ostracismo na literatura brasileira. Entre outros, ela menciona o desinteresse do próprio autor em republicar e divulgar seus escritos, a sua falta de prestígio social e o seu não-pertencimento a um grupo literário em expansão.
Resultado de uma pesquisa em arquivos e bibliotecas nacionais, a presente edição tem o mérito de disponibilizar aos leitores contemporâneos os livros de Honório Armond, seus vários poemas que se encontravam dispersos em periódicos e mais três inéditos, além de relembrar a sua história.
A Poesia completa de Honório Armond traz ainda uma série de notas explicativas, um glossário de termos de uso mais raro em português utilizados nos poemas e outro de expressões latinas, com tradução a cargo do Professor Antônio Martinez de Resende, facilitando, assim, a aproximação do leitor ao sentido dos textos. Outras importantes contribuições deste livro para os estudiosos de literatura foram a apresentação de uma lista de variantes colocadas em apêndice e a elaboração de um elenco de referências bibliográficas, entre as quais estão todos os textos de e sobre Honório Armond encontrados pelas organizadoras.
Um ponto falho desta edição são as fotos sem legendas. Há apenas uma nota no início do livro comunicando que as imagens dos manuscritos de Honório Armond são reproduções do arquivo Guimarães Rosa, que se encontra no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, e o de Sérgio Ayres, localizado em Barbacena. Talvez tenha sido uma opção da editora e não das organizadoras, mas uma providência deste tipo enriqueceria o material apresentado e informaria melhor ao leitor. Este detalhe, porém, não obscurece o trabalho das organizadoras nem constitui um empecilho à finalidade a que se propuseram com este livro.



Genealogia de Honório Armond



34. Segundo Barão de Pitanguy Honório Augusto José Ferreira Armond [álbum] (Possidônia Eliodora da Silva , Joaquim Marques da , Damião Marques da ) nasceu em 24 outubro 1819 em Barbacena - MG - Brasil. Ele faleceu em 11 abril 1874 em Juiz de Fora - MG - Brasil e foi sepultado em Cemitério da Boa Morte - Barbacena - MG - Brasil.
Transcrição do assento de batizado:
Honório LV D22 FL 192 (numeração original)
Aos oito dias do mês de novembro de mil oitocentos e dezenove anos na Matriz de Barbacena batizei e pus os santos óleos a Honório exposto a Maria Joaquina de Souza padrinhos Honório Ferreira Armonde e a mesma Maria Joaquina.
O Vigário José Joaquim Ferreira Armonde

Ele tiveram os seguintes filhos:
+
196
F
i
Honório também casou-se com1 (2) Maria José Ferreira Lage, filha de Mariano José Ferreira Lage e Baronesa de Sant'Anna Maria José Sant'Anna, em 6 agosto 1849 em Capella do Curral - Barbacena - MG - Brasil. Maria nasceu em 8 outubro 1834 em Barbacena - MG - Brasil. Ela faleceu em 12 janeiro 1886.
Eles tiveram os seguintes filhos
+
197
M
ii
Honório Ferreira Armond nasceu em 18 março 1855.

198
F
iii
Clotilde Ferreira Armond nasceu em 1856.

199
F
iv
Leonora Ferreira Armond nasceu em 26 janeiro 1858 em Barbacena - MG - Brasil.




Leonora casou-se com Cândido Augusto Ferreira da Fonseca, filho de Capitão Cândido Ferreira da Fonseca e Baroneza de Juiz de Fora Camilla Maria Ferreira Armond. Cândido nasceu em 20 abril 1844 em Santana do Deserto - MG - Brasil. Ele faleceu em 12 dezembro 1890.
+
200
M
v
Marciano Ferreira Armond nasceu em 18 agosto 1859.

201
M
vi
Marcellino Ferreira Armond.
+
202
M
vii
Henrique Ferreira Armond nasceu em 1860.
+
203
F
viii
Alice Ferreira Armond nasceu em 12 novembro 1863 e faleceu em 29 março 1915.
+
204
F
ix

205
M
x
Dário Ferreira Armond nasceu em 1866.
+
206
M
xi

207
M
xii
Abeylard (Abelardo) Ferreira Armond nasceu em 1868.
+
208
M
xiii
Godofredo Ferreira Armond nasceu em 2 novembro 1869.

Honório casou-se com Ignácia de Almeida Borges, filha de Capitão José Inácio de Almeida Borges e Rita Fausta de Araújo, em 8 setembro 1890 em Barbacena - MG - Brasil. Ignácia nasceu em 24 novembro 1868 em Barbacena - MG - Brasil.
Eles tiveram os seguintes filhos
+
626
M
i
Professor Honório Armond (Príncipe dos Poetas Mineiros) nasceu em 27 junho 1891 e faleceu em 12 dezembro 1958.

627
M
ii
Mário Armond nasceu em 4 janeiro 1893 em Barbacena - MG - Brasil.

628
M
iii
José Maria Armond nasceu em 12 outubro 1895 em Barbacena - MG - Brasil.
+
629
M
iv
Roberto Armond nasceu em 12 abril 1897.
+
630
M
v
José Maria Armond[7] nasceu em 3 fevereiro 1899.

631
F
vi
Natimorta nasceu em 29 janeiro 1903 em Barbacena - MG - Brasil. Ela faleceu em 29 janeiro 1903 em Barbacena - MG - Brasil.

632
F
vii
Natimorta nasceu em 7 junho 1904.
626. Professor Honório Armond (Príncipe dos Poetas Mineiros) (Honório Ferreira Armond , Honório Augusto José Ferreira Armond , Possidônia Eliodora da Silva , Joaquim Marques da , Damião Marques da ) nasceu em 27 junho 1891 em Barbacena - MG - Brasil. Ele faleceu em 12 dezembro 1958 em Barbacena - MG - Brasil.
Honório casou-se com Marieta de Andrade Liberal, filha de Olympio Liberal e Maria Amélia de Andrade, em Varginha - MG - Brasil. Marieta nasceu em 29 novembro 1898 em Varginha - MG - Brasil. Ela faleceu em 9 junho 1980 em Barbacena - MG - Brasil.
Eles tiveram os seguintes filhos

1507
M
i
Honório Armond Filho (Primeiro do nome) nasceu em 10 maio 1920 em Muzambinho - MG - Brasil. Ele faleceu em 2 maio 1921 em Muzambinho - MG - Brasil e foi sepultado em 3 maio 1921 em Muzambinho - MG - Brasil.

1508
F
ii
Maria José Armond nasceu em 3 agosto 1921 em Muzambinho - MG - Brasil.

1509
M
iii
Honório Armond Filho (Segundo Armond) nasceu em 30 janeiro 1923 em Muzambinho - MG - Brasil.
+
1510
F
iv
Beatriz Armond nasceu em 28 janeiro 1927 e faleceu em 25 novembro 1992.
1510. Beatriz Armond (Honório Armond , Honório Ferreira Armond , Honório Augusto José Ferreira Armond , Possidônia Eliodora da Silva , Joaquim Marques da , Damião Marques da ) nasceu em 28 janeiro 1927 em Barbacena - MG - Brasil. Ela faleceu em 25 novembro 1992 em Barbacena - MG - Brasil.
Beatriz casou-se com Manoel de Araújo Couto em Barbacena - MG - Brasil. Manoel nasceu em 2 junho 1923. Ele faleceu em 2 fevereiro 1996 em Barbacena - MG - Brasil.
Eles tiveram os seguintes filhos

2775
M
i
Luiz Fernando Armond Couto nasceu em 16 fevereiro 1957 em Barbacena - MG - Brasil. Ele faleceu em 18 novembro 1980 em Barbacena - MG - Brasil.
José casou-se com Moema Bueno, filha de Luiz Antônio de Paula Prado e Helena Gouvêa, em 9 janeiro 1926 em Muzambinho - MG - Brasil. Moema nasceu em 26 maio 1899 em Muzambinho - MG - Brasil.
Eles tiveram os seguintes filhos

1513
M
i
Roberto Armond nasceu em 29 outubro 1926 em Muzambinho - MG - Brasil.




Roberto casou-se com Amélia Julieta Jubirajara de Almeida Carneiro em Presidente Prudente - SP - Brasil.
+
1514
F
ii
Helena Armond nasceu em 25 janeiro 1928.

1515
M
iii
Ricardo Armond (Primeiro do nome) nasceu em 27 março 1929 em Muzambinho - MG - Brasil. Ele faleceu em 1 novembro 1929 em Muzambinho - MG - Brasil e foi sepultado em 2 novembro 1929 em Muzambinho - MG - Brasil.

1516
M
iv
Ricardo Armond (Segundo do nome) nasceu em 2 novembro 1930 em Muzambinho - MG - Brasil.




Ricardo casou-se com Aracy Cherubina Spósito em 18 abril 1856 em Presidente Prudente - SP - Brasil.

1517
F
v
Sílvia Armond.

1518
M
vi
Eduardo Armond.

1519
M
vii
Henrique Armond.

1520
M
viii
Luiz Armond.
Helena casou-se com Moacyr de Oliveira em 10 dezembro 1947 em Presidente Prudente - SP - Brasil.
Eles tiveram os seguintes filhos

2776
M
i
José Maria Armond de Oliveira.

2777
M
ii
Ivan Armond de Oliveira.



Voltando ao poeta Honorio Armond
César Vanucci



Os 120 anos de Honório Armond
Danusa Bias Fortes
Prefeita de Barbacena



Em uma noite de outono com bastante frio mas muito calor humano, participei do evento de comemoração aos 120 anos de nascimento do poeta barbacenense Honório Armond, quando foi lançada a edição completa e anotada de sua obra, com o apoio da Prefeitura Municipal de Barbacena através da Fundac.  Organizada e estudada criticamente – pelas pesquisadoras doutoras Eliana Scotti Muzzi e Nancy Maria Mendes, através do selo Poiesis interlinguagens, coleção Obras em Dobras, da editora Veredas & Cenários – Educação, arte e cultura.

Honório Armond (1891-1957) é descendente do Barão de Pitangui (Marcelino Ferreira Armond) e do Conde de Prados (Camilo Maria Ferreira Armond). Foi escolhido como “príncipe dos poetas mineiros” numa eleição realizada por um jornal de Belo Horizonte, pleito que teve à frente o poeta Carlos Drumond de Andrade. Dono de uma envergadura intelectual diferenciada em sua época, o poeta escrevia em francês e dedicou sua vida à educação. Classificada como simbolista, sua obra possui um caráter universal. Honório Armond, Abgar Renault e Padre-Mestre Correia de Almeida formam a tríade mais importante da poesia barbacenense.

Foi uma noite muito especial para a Cultura de Barbacena, e me senti muito bem reunida com os amigos da Academia Barbacenense de Letras que estiveram presentes prestigiando este importante evento.

Um abraço carinhoso à família do escritor Honório Armond e à Nancy Maria Mendes e Eliana Scotte Muzzi, assim como a todos os envolvidos.



[1] Disponível em: http://www.lunaeamigos.com.br/varal/varal34ano2.htm  acessado em janeiro de 2006.
[2] Alguma poesia de Honório Armond psicografada por Chico Xavier na Internet: “Alcoólatras”: http://www.universoespirita.org.br/0_00_novos_29_07_02/variado%2009/Alcolatras.htm. Também em: http://www.geae.inf.br/pt/boletins/geae082.txt.  Poema “Trânsfuga”, recebida por outro médium: http://www.universoespirita.org.br/periodicos%20na%20integra/reformador/Reformador%20-%20novembro%201965/transfuga_honorio.htm. Todos sites acessado em janeiro de 2006.
[3] De “Perante o Além”, em Soares (1940)
[4] MUZZI, Eliana Scotti; MENDES, Nancy Maria (org.). Poesia completa de Honório Armond. Belo Horizonte: Veredas & Cenários, 2011. 324 p.
[5] Doutora em Letras: Literaturas de Língua Portuguesa pela PUC-Minas e Mestre em Letras: Estudos Literários pela UFMG
[6] Doutor e Mestre em Letras: Estudos Literários pela UFMG
[7] Também morou em Muzambinho e se envolveu na morte de Saint Clair em 1937.