#31 O poeta do além Honório Armond, o “Príncipe dos Poetas
Mineiros” e sua psicografia por Chico Xavier
Otávio
Luciano Camargo Sales de Magalhães
O poeta do além: Honório Armond
Honório Armond (Diário de Minas 3/11/1957)
Num fundo azul
rubro e jade
olha o velho uma criança
chama-se o velho saudade
chama-se a outra esperança"
===
pedindo licença para dependurar nesse varal
poesia de
Honório Armond
========
helena armond[1]
olha o velho uma criança
chama-se o velho saudade
chama-se a outra esperança"
===
pedindo licença para dependurar nesse varal
poesia de
Honório Armond
========
helena armond[1]
Honório
Armond é considerado o “Príncipe dos Poetas Mineiros”. O homem, que viveu
grande parte da vida em Barbacena, além disso, após sua morte, foi amigo do
médium Chico Xavier (é o que o líder espírita dizia).
O professor do Lyceu, irmão de José
Maria Armond, atuou provavelmente muito pouco tempo na escola de Salathiel,
talvez nunca tenha atuado no Ginásio Mineiro, apenas no Lyceu.
Honório Armond nasceu em Barbacena
em 27 de junho de 1891. Fez os estudos primários e secundários no Colégio
Militar de Barbacena. Foi catedrático de português do Colégio Estadual de
Barbacena (Ginásio Mineiro?) e da Escola Agrotécnica. Foi sargento e
jornalista.
Escreveu “Ignotae Deae” (1918), “Perante
o Além” (1922), elogiado por Humberto de Campos, “Les Voix et lês Bonheurs” (1921), em francês, “Caminhos da Vida do Destino”.
Quando se instituiu e
Minas o certame do primado da poesia mineira, organizado pelo “Diário de
Minas”, na sua primeira fase, foi Honório Armond consagrado Príncipe dos Poetas
Mineiros, recebendo considerável sufrágio na época. (OLIVEIRA, 1957)
Honório
Armond (LYCEU, 1924)
Em entrevista com o médium Chico
Xavier, disponível em: http://revistainformacao.anderung.com.br/edicoes/2000/Setembro.pdf (acessado em janeiro de 2006) :
Vivendo desde a infância entre dimensões ou
mundos paralelos, Chico tem relatos de experiências estraordinárias, muitas
delas registradas em livros organizados por amigos e pesquisadores. Algumas
destas envolveram escritores, poetas, Espíritos que enquanto encarnados
mantiveram contato com o médium. Suas lembranças, serão objeto de sua
apreciação neste mês.
Um
destes poetas foi Honório Armond. A revista “Informação” pergunta ao líder
espírita Chico Xavier quais espíritos de poetas que lhe vem conversar.
“Chico,
acerca dos poetas amigos que teriam regressado da Vida Espiritual, depois de
entendimento com você, lembra-se de alguns?
Chico Xavier – De imediato recordo-me de quatro
amigos queridos: Honório Armond, Cornélio Pires, Maria Dolores e Jesus
Gonçalves.
Você
conheceu Honório Armond? Ele era espírita?
Chico Xavier – Ao que sei não era ele espírita
mas um grande poeta – um grande homem, pela cultura e pela bondade.
Encontrei-me com ele algumas vezes, em grande cidade mineira, para onde me
deslocava a serviço de exposições pecuárias. Fui apresentado a ele pelo Dr.
Durval Nascimento, grande professor barbacenense e, logo depois das primeiras
palavras, disse-me haver lido o “PARNASO DE ALÉM-TÚMULO”, comentando com
respeito e simpatia os poemas psicografados. Desde então, quando nos víamos
declarava-me, mais por bom-humor do que por outra coisa, que se desencarnasse
antes de mim, voltaria a escrever por meus dedos. E voltou mesmo. Ao lado
daquilo que compõe, por nosso intermédio, costuma dizer-me que vem se adaptando
à Vida Maior e que não dispõe de palavras para escrever o que sente agora,
perante o Universo.
Chico
Xavier publicou poemas psicografados de Honório Armond. Talvez inspirado em sua
poesia metafísica. Honório Armond, nas palavras de Júlio Bueno, era
“incomparável investigador do Além”.[2]
Honório
Armond entrou para a Academia Mineira de Letras. Ocupou a cadeira 38, cuja
patrona é Beatriz Brandão e o fundador é Paulo Brandão, morto em 1928. Após a
sua morte, e, 1958, o sucedeu Vivaldi Moreira (morto em 2001) e Pedro Rogério
Couto Moreira.
Honório
Armond (Foto da foto no Museu Municipal de Barbacena)
Vários
documentos citam Honório Armond como professor do Lyceu.
Honório Armond, bacharel
em letras, poeta de renome, ator do “Perante o Além”, “Ignotae Deae”, “Sombra e
Saudade”, “Sunt Vocês”, “Os Caminhos da Vida e do Destino”, latinista,
professor de matemáticas e francês. (LYCEU, 1924)
PROF. HONÓRIO ARMOND,
membro da Academia Mineira de Letras e “Príncipe dos Poetas Mineiros”, (SOARES,
1940)
Foi redator e redator chefe do
jornal “O Muzambinho”, pelo menos entre 1921 e 1924.
Seu
pai também chamava-se Honório, como indica o jornal “O Muzambinhense” em
virtude de seu falecimento (do pai):
Falecimento do pai de J.
Maria Armond, Honório F. Armond (O Muzambinhense – 18/05/1930)
A Biblioteca Pública de Barbacena
leva o nome do poeta.
O
filho de Honório Armond, com nome Honório Armond Filho foi presidente da Câmara
de Sabará de 1960 a
1963, conforme indica o site: http://sabara.net/conteudo.asp?id_item=2305&OPCAO=item (acessado em janeiro de 2006).
Suas poesias podem ser encontradas
na Internet e em Soares (1940): http://www.secrel.com.br/jpoesia/@ha01.html (“Palavras a um crente”). Trechos em: http://www.jornaldoposte.com.br/materias/absinto.htm. Textos acessados em janeiro de 2006.
Na Internet também tem uma foto sua,
e de seu casamento em 1919 com Dona Marieta Liberal, em péssima resolução,
disponível em: http://www.barbacenaonline.com.br/museumunicipal/republicana/museu_%20073.htm. Acessado em janeiro de 2006.
Também
é interessante o trecho disponível na Internet, acessado em janeiro de 2006, (http://viareal.com.br/revista/aclcl.php):
Dia 17, no
auditório da 2ª Subseção da OAB de Lafaiete, na praça Barão de Queluz,
aconteceu a sessão solene, quando a acadêmica Zilda de Castro, da Academia
Barbacenense de Letras, proferiu a conferência “Visão Filosófica do Homem e do
Mundo na Poética de Honório Armond”.A acadêmica transmitiu com sentimento
profundo toda uma política de pensamentos de Honório Armond.
Informação sobre Honório Armond, que
repete seu título de “Príncipe dos Poetas Mineiros” em: http://www.academia.org.br/revista/memoria13.pdf, acessado em janeiro de 2006. O título
de “príncipe” ao é apenas um elogio ou homenagem, mas um título honorífico
oficial, feito em eleição em 1927.
Honório
Armond no dia do seu casamento (Foto da
foto do Museu Municipal de Barbacena)
Soares (1940), em seu livro, em 18
páginas fala dos quatro principais poetas relacionados com Muzambinho, segundo
ele, Pedro Saturnino, Honório Armond, Uriel Tavares e Michelet Navarro. Cita
também Alfredo de Assis e Luna de Miranda Couto apenas de passagem.
Fala que Honório Armond viveu em
Muzambinho por 14 anos.
Apesar de sua linhagem
remontar a uma ilustre família francesa, por parte do barão de Pitangui, é
digna de apurada menção a sua conduta como homem: É gentilíssimo, de
encandilada educação moral, de inteligência fulgurante e de um coração
profundamente bondoso. Muito afetuoso, modesto, simples, sociável, amigo certo
dos humildes e dos pobres, quanto avesso, renitente e até atrevido diante da
impáfia vazia e fofa da estupidez e da vaidade humana, bem como ante qualquer
insólita arrogância, como a da prepotência do dinheiro; é, por isto mesmo, um
caráter irresvalável de cidadão patriota, portador, sem dúvida alguma, dos mais
belos predicados do povo montanhês, sempre independente e altivo como os
píncaros das suas montanhas; rijo como as suas fragas; honrado, afável,
hospitaleiro e bondoso como os remansos que correm ao sopé das serrarias, como
alfombra verdejante, cheirosa e macia dos seus prados e dos seus bosques.
Como professor, foi dos mais competentes e produtivos
entre os que desfilaram pelo Liceu Municipal de Muzambinho. Nasceu professor.
Adorado pelos seus alunos e mestres, seus colegas. Culto e erudito, dominando
vários idiomas, probo e justo, generoso e fidalgo, tanto no âmbito social comum
como nas fileiras do magistério, é professor que honra sobremodo a cátedra do
ensino em Minas Gerais. (SOARES, 1940)
A biografia de Honório Armond em
Soares descreve detalhadamente as obras do poeta, “O cidadão é modelar”, “O professor é paradigma”, “O intelectual é
poeta, e é poeta do sentimento e do pensamento.”
Veio para Muzambinho, segundo Soares
em 1916, na época que publicou seu primeiro livro de versos Ignotae Deae, com
influencia de Augusto dos Anjos (como outras de suas obras, segundo Soares).
Soares ainda aponta semelhanças de sua poesia com Antero de Quental.
CICLO[3]
I
NASCER...
Nascer... é a sensual volúpia, acesa,
de um casal que não pensa no que faz...
São as forças vitais da Natureza
agindo num instante astro e fugaz.
É a atração mentirosa da Beleza
que, em repulsão, mais tarde se desfaz...
Ronda a morte ao redor... e não vos peza,
o Pais, o vosso gozo tão falaz?...
E, após isso acordais tontos e pasmos...
Descobris, afinal, que andou por entre
vossos assomos loucos de Prazer
A Dor a regular vossos espasmos...
... nove meses depois abre-se um ventre...
mais um para este inferno! E é tal nascer!...
II
VIVER...
Viver... rolar a pedra encosta acima
esperando a eminência ou o apogeu,
em que a Glória reluz e o Sonho prima
pelas forças ideais que à alma nos deu...
Descer sem lá chegar... há quem exprima
o horror de quem, sem culminar, desceu?
e a dor aquele que, ao chegar lá em cima,
teve o abutre? Ou Sipho ou Prometeu!
Viver... sem Ódio, Amor, Ânsia, Luxuria...
sentir a asa colhida e baldo o surto
que são grilhões de bronze Honra e Dever
Crer, amar, esperar... tríade espúria!
Ver o pomo a fulgir e o braço é curto,
ó Tântalos do Sonho... e é tal viver!...
III
MORRER...
Morrer... é continuar, de novo, a rota
para um longínquo e tenebroso Além...
é ser flor... animal... ou pedra imota...
a Morte um só instante a Vida atém...
Da ignóbil podridão a vida brota
e, com ela, ódio... amor... o mal e o bem!
Morrer! partir para uma terra ignota
que os meus olhos, mortais, longe, entreveem...
É uma circunstância a Vida, em suma...
De qualquer ponto que tu partas, Homem,
has de encontrar, um dia, esse teu Ser!
Ou num sol ou num flóculo de espuma
as dores que, hoje em dia, te consomem
terás sempre contigo!... e é tal morrer!...
OBRAS COMPLETAS (POESIA)
Referência do Livro: ARMOND, Honório. Poesia
completa (com apresentação, estudos críticos e notas das
organizadoras). Org. Eliana Scotti Muzzi e Nancy Maria Mendes. Belo
Horizonte: Veredas & Cenários, 2011. 324 p. (Coleção Obras em
dobras) 14 x 21 cm. Capa, projeto gráfico e arte final: Marcos Lourenço
Vieira. ISBN 978-85-61508-21-0 Col. A.M. (EA)
Antologia Poética
Honório
Armond
UMA NUVEM NO OCASO
Viste, acaso um suavíssimo Poente
de cinza e rosa, em gamas merencórias,
iluminar-se inesperadamente,
numa rajada de clarões e glórias?
uma nuvem pequena, alta e morrente,
lembrando auroras, madrugadas flóreas,
foi tocada do Sol subitamente,
e eis que rutila em chamas ilusórias.
Há de, em breve, apagar-se ao vir a treva
que, a lento e lento, coleante adensa,
amortalhando o céu crepuscular.
Mas, ao sumir-se, no bulcão que a leva,
que sonhos trouxe!... que ternura imensa!...
quanta saudade refletindo ao luar.
Viste, acaso um suavíssimo Poente
de cinza e rosa, em gamas merencórias,
iluminar-se inesperadamente,
numa rajada de clarões e glórias?
uma nuvem pequena, alta e morrente,
lembrando auroras, madrugadas flóreas,
foi tocada do Sol subitamente,
e eis que rutila em chamas ilusórias.
Há de, em breve, apagar-se ao vir a treva
que, a lento e lento, coleante adensa,
amortalhando o céu crepuscular.
Mas, ao sumir-se, no bulcão que a leva,
que sonhos trouxe!... que ternura imensa!...
quanta saudade refletindo ao luar.
PALAVRAS A UM CRENTE
— "Que vem a ser o
Bem?" — perguntas. Digo
que nunca, até hoje,
francamente, eu pude
entre o joio do mal
achar o trigo.
O pecado é irmão-gêmeo
da virtude...
Chamas a todos - Meu
fraterno amigo!
A tua alma ingênua, meu
irmão, se ilude...
Faze como eu que, há
muito, já não sigo
fogos-fátuos brilhando
na palude...
Leva este mundo tal como
é... Mascara
as tuas emoções, o ódio,
a alegria,
cerra o teu coração,
aguça o olhar,
que hás de ver entre a
turba ingrata e ignara
o Mal, que de virtude se
fazia,
rir-se de gozo ao ver
alguém chorar...
Uma voz que ainda soa: Honório Armond,
poesia reeditada[4]
Nilze
Paganini[5]
Luiz
Antônio Paganini[6]
O poeta Honório Armond, nascido em Barbacena,
Minas Gerais, em 1891, e falecido em 1958, publicou três livros durante sua
vida, cada qual com apenas uma edição. O primeiro deles, Ignotae deae, foi publicado em 1917. Quatro anos depois, saiu
Perante o além e, em 1932, foi ao prelo o volume com o título em francês Les voix et les bonheurs. Armond, porém,
continuou a divulgar seus poemas de forma esparsa em diversos periódicos. No
ano de 1991, a Academia Barbacenense de Letras reuniu os três livros em um só
volume e, em 2011, como parte das comemorações do centenário do poeta, foi
lançada a Poesia completa de Honório Armond aos cuidados das pesquisadoras
Eliana Scotti Muzzi e Nancy Maria Mendes. As organizadoras desta mais recente
edição desenvolveram carreira acadêmica na Universidade Federal de Minas Gerais
e têm várias publicações em periódicos especializados na área dos estudos
literários. Doutora em Letras Modernas pela Université de Besançon, França,
Eliana Scotti Muzzi é estudiosa do teatro francês, do barroco e da obra dos
poetas mineiros setecentistas, especialmente de Cláudio Manuel da Costa, tendo
participado da edição da poesia completa deste autor que faz parte do livro A
poesia dos inconfidentes, publicado pela Nova Aguilar. Já Nancy Maria Mendes é Doutora
em Literatura e Cultura Francesas pela Université Sorbonne-Nouvelle – Paris
III. Entre seus trabalhos estão o livro Uma galeria de pintores holandeses no
romance proustiano, da editora Annablume, e a organização do volume O barroco
mineiro em textos, da editora Autêntica.
Além de poeta, Honório Armond foi professor,
tendo trabalhado em instituições de ensino de algumas cidades do interior de
Minas. Em sua biografia, há um episódio interessante ocorrido em 1927. Os
jovens modernistas mineiros, liderados por Carlos Drummond de Andrade,
decidiram realizar um concurso para escolher o “Príncipe dos Poetas Mineiros”
por meio do jornal Diário de Minas, de Belo Horizonte. A ideia era a de criar
algo para afastar a monotonia e o tédio da vida literária da capital mineira.
Segundo as memórias poéticas drummondianas publicadas em Boitempo III, os
poetas Augusto de Lima, Belmiro Braga e Mário Matos receberam votos, mas quem
ganhou o título foi Honório Armond. No ano seguinte, Armond entrou para a
Academia Mineira de Letras, passando a ocupar a cadeira número 38. Ele teve
dois importantes admiradores no campo literário: Abgar Renault e Guimarães
Rosa, com quem manteve correspondência. Armond enviou ao romancista dois poemas
em francês, um dos quais a ele dedicado.
Armond não seguiu a corrente modernista
predominante na primeira metade do século passado, mas produziu uma obra
eclética, caracterizada pela combinação de elementos do Parnasianismo, do
Decadentismo e do Simbolismo. É preciso observar que, no início do século 20,
era bastante comum o ecletismo literário em Minas e em outros estados
brasileiros. Muitos exemplos de diálogos com o Decadentismo podem ser
encontrados na obra do poeta barbacenense. Eles aparecem bem evidentes nos
versos de “Amor”, que faz parte do livro Perante o além: “Para o lirismo desses
decadentes / – os Arautos do Reino da Utopia – / O Amor não passa de
Melancolia, / de Sonhos e Luares lactescentes...” (MUZZI; MENDES, 2011, p. 163)
e, se tomarmos o poema “Visão Noturna”, escrito no último ano de vida de
Armond, percebe-se que ele ainda continuava muito próximo dessa corrente
literária já na segunda metade do século 20: “O mal, o eterno mal, o Mal em
suma / – que tentou Cristo e enfureceu Caim – / noites atrás, bolsando fel e
escuma, / juro-te, irmão! passou o Mal por mim!” (MUZZI; MENDES, 2011, p. 255).
Permanecendo dentro de um ambiente poético que
remetia à Europa do final do século 19 e início do 20, apesar de ter assistido
a várias mudanças mundiais, inclusive no campo do fazer poético, Honório Armond
manteve um diálogo constante com a poesia francesa, tanto é assim que publicou
um livro todo escrito em francês. Os ecos da poesia de Baudelaire estão muito
evidentes nos livros de Armond, do mesmo modo como a de outros poetas
franceses, como destacou Muzzi, que discorreu justamente sobre essas
reverberações. No texto “Conflito e conciliação: bilinguismo na poesia de
Honório Armond”, a pesquisadora mostrou os pontos de convergência e de
distinção entre o poeta mineiro e Baudelaire, mas ressalvou que Les voix et les bonheurs não é um livro
de homenagens e dedicatórias a outros escritores. A língua francesa teria sido
pensada especialmente para esse livro, estruturado simetricamente em duas
partes compostas por sete poemas cada uma, criando um espaço em que o poeta
teria se expressado de forma menos suave do que nos outros livros escritos em
português.
Outra característica da poesia de Armond também
é evidente: uma educação literária baseada na herança clássica, permeada
fortemente por elementos do cristianismo. Os títulos em latim de vários poemas
apontam para a formação religiosa do poeta. Já no poema “Solvent saecula”, objeto do estudo introdutório de Nancy Maria
Mendes, “Afinidades eletivas: intertextos na poesia armondiana”, nota-se a interlocução
do escritor barbacenense com a obra de Edgar Allan Poe, Antero de Quental,
Hermes Fontes e Augusto dos Anjos. As ressonâncias da poesia de Augusto dos
Anjos, por exemplo, podem ser observadas ainda nos versos de “Credo de um
monista”, de Perante o além: “Creio na Vida Universal que emana / do
protoplasma de onde o Ser deriva... / Creio na Eterna Essência informe e
esquiva / Que o Fungus fez e fez a Espécie Humana...” (MUZZI; MENDES, 2011, p.
143). No entender de Mendes, todos esses poetas com os quais Armond dialogou
teriam em comum, na sua poesia, a questão da morte, o tormento existencial, a
dúvida religiosa e ausência de alívio para um sofrimento persistente. Em alguns
momentos, as dúvidas, os questionamentos sobre o sentido da vida, o desânimo e
o sofrimento levam o sujeito poético a um desejo de morte. Em “To Die... To Sleep... To Dream...”,
citação de Shakespeare, o sujeito poético imagina o próprio suicídio: “Nas
minhas noites lúgubres eu penso / em trespassar o coração a bala. / Salta-me à
gorja um desespero intenso, / um ódio surdo a vida me avassala...” [...]
(MUZZI; MENDES, 2011, p. 154). Além desses traços intertextuais, pode-se
perceber uma relação da obra de Honório Armond com a teoria evolucionista, com
a corrente da poesia científica e cogitações de ordem esotérico-religiosa
provenientes de tradições judaico-cristãs e também não cristãs, como demonstra
a epígrafe do soneto “A grande ilusão”, extraída da obra do filósofo indiano
Sankara, e várias referências ao budismo.
Honório Armond manteve certa constância em suas
temáticas e dedicou toda a sua existência aperfeiçoando-se na composição de
sonetos. É interessante a explicação de Eliana Scotti Muzzi para a preferência
de Armond por esta forma poética. De acordo com a estudiosa, a divisão entre
dois quartetos e dois tercetos ofereceria um espaço agônico para a exposição do
embate vivenciado pelo eu poético, dividido entre “sentimento e razão, ciência
e fé, espírito e matéria” (MUZZI; MENDES, 2011, p. 28). Esta edição traz também
um prefácio de Melânia Silva de Aguiar, no qual a especialista em Literatura
Brasileira indaga os motivos que fariam com que um autor reconhecido por seus
pares, como Honório Armond, fosse colocado no esquecimento depois de algum
tempo.
Para Aguiar, uma conjunção de fatores externos
à obra de um escritor poderia explicar a sua situação de relativo ostracismo na
literatura brasileira. Entre outros, ela menciona o desinteresse do próprio
autor em republicar e divulgar seus escritos, a sua falta de prestígio social e
o seu não-pertencimento a um grupo literário em expansão.
Resultado de uma pesquisa em arquivos e
bibliotecas nacionais, a presente edição tem o mérito de disponibilizar aos
leitores contemporâneos os livros de Honório Armond, seus vários poemas que se
encontravam dispersos em periódicos e mais três inéditos, além de relembrar a
sua história.
A Poesia completa de Honório Armond traz ainda
uma série de notas explicativas, um glossário de termos de uso mais raro em
português utilizados nos poemas e outro de expressões latinas, com tradução a
cargo do Professor Antônio Martinez de Resende, facilitando, assim, a
aproximação do leitor ao sentido dos textos. Outras importantes contribuições
deste livro para os estudiosos de literatura foram a apresentação de uma lista
de variantes colocadas em apêndice e a elaboração de um elenco de referências
bibliográficas, entre as quais estão todos os textos de e sobre Honório Armond
encontrados pelas organizadoras.
Um ponto falho desta edição são as fotos sem
legendas. Há apenas uma nota no início do livro comunicando que as imagens dos
manuscritos de Honório Armond são reproduções do arquivo Guimarães Rosa, que se
encontra no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, e o
de Sérgio Ayres, localizado em Barbacena. Talvez tenha sido uma opção da
editora e não das organizadoras, mas uma providência deste tipo enriqueceria o
material apresentado e informaria melhor ao leitor. Este detalhe, porém, não
obscurece o trabalho das organizadoras nem constitui um empecilho à finalidade
a que se propuseram com este livro.
Genealogia de Honório Armond
34. Segundo Barão de Pitanguy Honório Augusto José
Ferreira Armond [álbum] (Possidônia Eliodora da
Silva , Joaquim Marques da , Damião Marques da ) nasceu em 24 outubro 1819 em Barbacena - MG - Brasil. Ele
faleceu em 11 abril 1874 em Juiz de Fora - MG - Brasil e foi sepultado em
Cemitério da Boa Morte - Barbacena - MG - Brasil.
Transcrição do assento de batizado:
Honório LV D22 FL 192 (numeração
original)
Aos oito dias do mês de novembro de mil
oitocentos e dezenove anos na Matriz de Barbacena batizei e pus os santos óleos
a Honório exposto a Maria Joaquina de Souza padrinhos Honório Ferreira Armonde
e a mesma Maria Joaquina.
O Vigário José Joaquim Ferreira Armonde
Ele tiveram
os seguintes filhos:
+
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196
|
F
|
i
|
Honório
também casou-se com1 (2) Maria
José Ferreira Lage, filha de Mariano José Ferreira Lage e Baronesa de
Sant'Anna Maria José Sant'Anna, em 6 agosto 1849 em Capella do Curral -
Barbacena - MG - Brasil. Maria nasceu em 8 outubro 1834 em Barbacena - MG -
Brasil. Ela faleceu em 12 janeiro 1886.
Eles tiveram
os seguintes filhos
+
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197
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M
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ii
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Honório Ferreira Armond nasceu
em 18 março 1855.
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198
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F
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iii
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199
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F
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iv
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200
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M
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v
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Marciano Ferreira Armond nasceu
em 18 agosto 1859.
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|
201
|
M
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vi
|
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+
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202
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M
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vii
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Henrique Ferreira Armond nasceu
em 1860.
|
+
|
203
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F
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viii
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Alice Ferreira Armond nasceu
em 12 novembro 1863 e faleceu em 29 março 1915.
|
+
|
204
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F
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ix
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Maria Antonieta Ferreira Armond nasceu
em 1865.
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|
205
|
M
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x
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|
+
|
206
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M
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xi
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Adalberto (Dalberto) Ferreira Armond nasceu
em 1867.
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207
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M
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xii
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+
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208
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M
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xiii
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Godofredo Ferreira Armond nasceu
em 2 novembro 1869.
|
197. Honório Ferreira Armond (Honório Augusto José Ferreira Armond , Possidônia Eliodora da Silva , Joaquim Marques da , Damião Marques da ) nasceu em 18 março 1855 em Barbacena - MG - Brasil.
Honório
casou-se com Ignácia de Almeida Borges, filha de Capitão José Inácio de
Almeida Borges e Rita Fausta de Araújo, em 8 setembro 1890 em Barbacena - MG -
Brasil. Ignácia nasceu em 24 novembro 1868 em Barbacena - MG - Brasil.
Eles tiveram
os seguintes filhos
+
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626
|
M
|
i
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Professor Honório Armond (Príncipe dos Poetas
Mineiros) nasceu em 27 junho
1891 e faleceu em 12 dezembro 1958.
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M
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ii
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628
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M
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iii
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+
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629
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M
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iv
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Roberto Armond nasceu
em 12 abril 1897.
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+
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630
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M
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v
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José Maria Armond[7] nasceu
em 3 fevereiro 1899.
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631
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F
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vi
|
|
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632
|
F
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vii
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626. Professor Honório Armond (Príncipe dos Poetas
Mineiros) (Honório Ferreira Armond , Honório Augusto José Ferreira Armond , Possidônia Eliodora da Silva , Joaquim Marques da , Damião Marques da ) nasceu em 27 junho 1891 em Barbacena - MG - Brasil. Ele faleceu
em 12 dezembro 1958 em Barbacena - MG - Brasil.
Honório
casou-se com Marieta de Andrade Liberal, filha de Olympio Liberal e
Maria Amélia de Andrade, em Varginha - MG - Brasil. Marieta nasceu em 29
novembro 1898 em Varginha - MG - Brasil. Ela faleceu em 9 junho 1980 em
Barbacena - MG - Brasil.
Eles tiveram
os seguintes filhos
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1507
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M
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i
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|
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1508
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F
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ii
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M
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iii
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|
+
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1510
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F
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iv
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Beatriz Armond nasceu
em 28 janeiro 1927 e faleceu em 25 novembro 1992.
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1510. Beatriz Armond (Honório Armond , Honório Ferreira Armond , Honório Augusto José Ferreira Armond , Possidônia Eliodora da Silva , Joaquim Marques da , Damião Marques da ) nasceu em 28 janeiro 1927 em Barbacena - MG - Brasil. Ela
faleceu em 25 novembro 1992 em Barbacena - MG - Brasil.
Beatriz
casou-se com Manoel de Araújo Couto em Barbacena - MG -
Brasil. Manoel nasceu em 2 junho 1923. Ele faleceu em 2 fevereiro 1996 em
Barbacena - MG - Brasil.
Eles tiveram
os seguintes filhos
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630. José Maria Armond (Honório Ferreira Armond , Honório Augusto José Ferreira Armond , Possidônia Eliodora da Silva , Joaquim Marques da , Damião Marques da ) nasceu em 3 fevereiro 1899 em Barbacena - MG - Brasil.
José
casou-se com Moema Bueno, filha de Luiz Antônio de Paula Prado e Helena
Gouvêa, em 9 janeiro 1926 em Muzambinho - MG - Brasil. Moema nasceu em 26 maio
1899 em Muzambinho - MG - Brasil.
Eles tiveram
os seguintes filhos
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Helena Armond nasceu
em 25 janeiro 1928.
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1514. Helena Armond (José Maria Armond , Honório Ferreira Armond , Honório Augusto José Ferreira Armond , Possidônia Eliodora da Silva , Joaquim Marques da , Damião Marques da ) nasceu em 25 janeiro 1928 em Muzambinho - MG - Brasil.
Eles tiveram
os seguintes filhos
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ii
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Voltando ao poeta Honorio Armond
César
Vanucci
http://www.diariodocomercio.com.br/noticia.php?tit=voltando_ao_poeta_honorio_armond___&id=70228 (Veja o link)
Os 120 anos de Honório Armond
Danusa
Bias Fortes
Prefeita
de Barbacena
Em uma
noite de outono com bastante frio mas muito calor humano, participei do evento
de comemoração aos 120 anos de nascimento do poeta barbacenense Honório
Armond, quando foi lançada a edição completa e anotada de sua obra, com o
apoio da Prefeitura Municipal de Barbacena através da Fundac. Organizada
e estudada criticamente – pelas pesquisadoras doutoras Eliana Scotti Muzzi e
Nancy Maria Mendes, através do selo Poiesis interlinguagens, coleção Obras em
Dobras, da editora Veredas & Cenários – Educação, arte e cultura.
Honório
Armond (1891-1957) é descendente do Barão de Pitangui (Marcelino Ferreira
Armond) e do Conde de Prados (Camilo Maria Ferreira Armond). Foi escolhido como
“príncipe dos poetas mineiros” numa eleição realizada por um jornal de Belo
Horizonte, pleito que teve à frente o poeta Carlos Drumond de Andrade. Dono de
uma envergadura intelectual diferenciada em sua época, o poeta escrevia em
francês e dedicou sua vida à educação. Classificada como simbolista, sua obra
possui um caráter universal. Honório Armond, Abgar Renault e Padre-Mestre
Correia de Almeida formam a tríade mais importante da poesia barbacenense.
Foi
uma noite muito especial para a Cultura de Barbacena, e me senti muito bem
reunida com os amigos da Academia Barbacenense de Letras que estiveram
presentes prestigiando este importante evento.
Um
abraço carinhoso à família do escritor Honório Armond e à Nancy Maria Mendes e
Eliana Scotte Muzzi, assim como a todos os envolvidos.
[2] Alguma poesia de
Honório Armond psicografada por Chico Xavier na Internet: “Alcoólatras”: http://www.universoespirita.org.br/0_00_novos_29_07_02/variado%2009/Alcolatras.htm. Também em: http://www.geae.inf.br/pt/boletins/geae082.txt. Poema “Trânsfuga”, recebida por outro médium:
http://www.universoespirita.org.br/periodicos%20na%20integra/reformador/Reformador%20-%20novembro%201965/transfuga_honorio.htm. Todos sites acessado em
janeiro de 2006.
[3] De “Perante o Além”, em
Soares (1940)
[4] MUZZI, Eliana Scotti;
MENDES, Nancy Maria (org.). Poesia completa de Honório Armond. Belo Horizonte:
Veredas & Cenários, 2011. 324 p.
[5] Doutora em Letras:
Literaturas de Língua Portuguesa pela PUC-Minas e Mestre em Letras: Estudos
Literários pela UFMG
[6] Doutor e Mestre em
Letras: Estudos Literários pela UFMG
[7] Também morou em
Muzambinho e se envolveu na morte de Saint Clair em 1937.