ETTORE FEDERIGHI

        Ettore Federighi





Texto escrito por: ARAÚJO ALMEIDA

Advogado
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São Paulo - SP



Ettore Federighi é figlio d’arte  ed
é dotado de um bagaglio técnico
e    spirituale    degno    de   sua notorietá”





     Com a transcrição acima de um trecho do artigo do crítico italiano, Sr. Vice, publicado no jornal Napoli Notte, de 13/03/68, desejamos ressaltar logo de início a grandiosidade das qualidades artísticas de nosso estimado amigo de infância, Ettore Federighi, com quem tivemos a alegria de privar não só em nossa juventude, em Muzambinho, quando aí com prazer morávamos, como também aqui em São Paulo, até os seus últimos dias.
      Por ser “Figlio d’arte”, morreu sendo julgado por seus colegas pintores como o “maior pintor nacional de natureza morta”.
      Tal honroso título é do modesto mineiro Ettore, nascido em Muzambinho em 24 de agosto de 1909, filho dos antigos moradores dessa cidade, Sr.Menotti Federighi e Sra. Virgínia Forsato Federighi, e falecido em São Paulo em 3 de Dezembro de 1978, onde residiu por volta de 50 anos.
      Para nós, Ettore Federighi, que é comparado a Pedro Alexandrino, é uma das inúmeras glórias de Muzambinho. Além de notável e afamado pintor, nunca deixou de ser autêntico mineiro e em tudo se revela orgulhoso de sua querida terra natal: Muzambinho.
      Sua primeira pintura – cópia de uma paisagem – aconteceu na sua meninice: certa vez, Ettore foi casualmente a uma residência em Muzambinho, em cuja parede do alpendre havia bela pintura de uma paisagem.
       Impressionado com a sua boniteza, Ettore observou-lhe um detalhe e, correndo, foi à sua casa, onde, ainda ofegante e ansioso, traçou um quadrado na parede e dentro dele começou a reproduzir o detalhe então gravado; voltava à residência, observava outro detalhe, retornava à sua casa e o pintava. E assim, repetidamente, pode fazer a sua primeira pintura mural.
       Porém, sentia que a sua obra estava incompleta. Faltava-lhe a moldura. Seu quadro não tinha inclinação, tão do uso naquela época. Inspirado, pintou ao seu redor uma moldura com cordão e pregos, de sorte que quem olhasse tinha a impressão de que ele estivesse inclinado.
       Aliás, Donato  Pangella, crítico de arte de “A Hora na Arte” de “A Gazeta”, ao entrevistar Federighi, conta – nos como ele lhe descreveu as primeiras pinturas :
                 “Recordou Federighi as primeiras pinceladas: “Os florões                                                           
                              indecisos decorados no velho lar da terra natal”.

        Após essa feliz estréia artística, decorou outros quadros nas paredes de sua casa, o que provocava  irritações na sua bondosa mãe, D. Virgínia, que desgostava estivesse ele a marchar a casa e lhe dizia: “que faz aí, bobo ? pensa que vai ser artista ?”.
        Mas o arguto pai, Sr. Menotti (que pertencia a nobre e culta família italiana, tradicional da região Toscana -“Gino Frederighi appartenne alla magistratura nel 1.346”-, diz a genealogia dos Federighi ) vislumbrado o futuro do filho aconselhava à sua amada esposa : “deixa, deixa o menino pintar o seu futuro. Deixa estar, ele sabe o que faz .”
         E Ettore soube pintá-lo brilhantemente.
         Um circo – e que circo, daqueles circos das saudades dos nossos tempos – apareceu em Muzambinho e necessitava ampliar  um rosto de Jesus  fotografado num quadrinho. Chamaram o menino Ettore, que, sem ter estudado e aprendido nada, quadriculou o retratinho, quadriculou também o papel maior, ampliou e pintou o mesmo rosto de Jesus em tamanho grande. O pessoal do circo quis levá-lo para a Europa. Ele rejeitou.
           Essa atitude de quadricular o papel, observar proporções, estabelecer simetria, ampliar uma fotografia numa pintura é das primeiras manifestações artísticas de um pintor e não precisa de cultura – basta apenas à inspiração nata. Apenas basta a alma de pintor.
           Pois Ettore nunca teve cultura. Nunca foi bom estudante. Ficou 7 anos no primeiro ano primário. A professora, cansada com ele, disse-lhe que ia passa-lo para o segundo ano, porque “não o aguentava mais”. Conseguiu ele assim terminar somente o segundo ano primário. Todavia Ettore nem se importava com a sua ausência de erudição.
         -  Queria pintar:
         E foi pintando prédios, paredes, carrinhos de sorvetes, placas, painéis, letreiros, que começou a ganhar a vida. Tido como bom pintor de paredes e prédios, foi convidado para decorar a Igreja de Paraisópolis (MG), quando tinha uns 15 anos de idade.
            Antes de se definir somente pela pintura, seus pendores artísticos, na sua juventude, brotaram em diversas artes, como música, escultura, etc. Tocava violão, piano, flauta de bambu, gaita, clarineta e outros instrumentos. Tudo de ouvido.
            Certa  vez, quando ainda meninão, numa das ruas de Muzambinho, conversava  com Nilo Tardelli e outros amigos, quando por eles passou um caipira sobraçando uma sanfona. Ettore  perguntou- lhe:
-         “Pra”que isso ?
-         “Pra” que “tocá” música?
-          Deixa eu vê?
-         Não, “ocê” não entende.”
            Tanto Ettore insistiu, que o caipira lh’a deu.
Assentado no meio fio da calçada, sanfona no colo, ouvido encostado nela, Ettore, sem nunca ter aprendido  e tocado qualquer instrumento, começou a dedilhar uma nota... outra... e mais...mais outra...e de repente principiou a tocar as saudades do Matão.
             O Nilo e os amigos ficaram pasmados!
              Depois desse fato, naturalmente despertada a sua curiosidade musical, passou a tocar outros instrumentos com que, em companhia do Zé Tardeli, Dominguinhos Ramos, Táo Prado e outros, fazia românticas serenatas.
               Como  manifestação  artística manual, prenunciando a sua notável pintura, Ettore, com grande habilidade como se fosse um escultor, plasmava máscaras em barro e gesso, pintava-as e vendia no carnaval. E que máscaras
Bem modeladas. Adornadas artisticamente.
                A glória, entretanto estava por ser atingida por Ettore. São Paulo o acolheu e lhe deu glórias imorredouras, não obstante tê-lo feito lavar pratos em restaurantes em troca de comida, tal o seu estado de pobreza e de necessidades, quando veio para a Paulicéia.
                 Acreditamos, entretanto, que isso tenha sido um enfeite na sua vida laboriosa.
                 Um autodidata foi Ettore.Não estudava não lia.
Nunca estudou pintura com ninguém. Seus estudos e suas leituras eram outros. Também outra era a sua cultura.
                  Sua cultura era a grande sensibilidade em saber ler, compreender e interpretar o belo que existe nas coisas que nos cercam e transmitir essa visão de beleza através de sua pintura.
                  Federighi, em cujos quadros assinava E. Federighi e que pintava com exclusividade “Natureza morta”, foi o único pintor nacional comparado com Pedro Alexandrino, cuja influência acentuada notamos nas suas primeiras pinturas. Com o tempo, Federighi se agigantou e encontrou-se a si mesmo, firmando –se como o autêntico Ettore Federighi, com o seu estilo inconfundível.
                     A sua vida artística se desenvolveu em São Paulo, onde travou conhecimentos com obras de grandes pintores nacionais e europeus, freqüentando museus, pinacotecas, salões, exposições, em que participava das mostras de artes de renomados artistas e em que teve a satisfação de ver reconhecido os seus méritos, porquanto inúmeras vezes os seus quadros foram premiados.
                         Tendo iniciado em São Paulo a sua verdadeira carreira de pintor, um dia lhe veio a surpresa: conheceu o Salão Paulista de Belas Artes.
                         Daí, começou a expor os seus quadros, a dar aulas de pintura, tendo conquistado dos maiores e melhores prêmios e títulos, para , no final de sua vida artística, alcançar a glória de ser reputado por seus colegas, pintores, galerias de arte, colecionadores, expositores particulares, pinacotecas, e  pelas críticas de jornais , como “O Maior Pintor de Natureza Morta do Brasil”.
        Sob esse aspecto, transcrevemos a notícia da folha de São Paulo sobre sua morte:
                     “Ettore Federighi”
       
                 “Faleceu, aos 69 anos, nesta Capital, onde residiu por mais de 50 anos, o pintor e professor de pintura, Ettore Federighi, nascido em Muzambinho, MG”.
            Mocinho e paupérrimo veio para São Paulo, que o amparou e lhe abriu as portas para a glória artística, pois, nos últimos anos de sua vida, era aclamado por seus colegas como o melhor pintor nacional de natureza morta, ramo de pintura a que se dedicou com exclusividade.
             Seu nome artístico, além de nacional, era também internacional devido a diversas exposições que fez em Roma, Milão, Gênova, etc, onde recebeu grandes elogios da imprensa internacional.
              Era comparado a Pedro Alexandrino. Conquistou muitos e dos melhores prêmios e títulos nacionais. Deixou inúmeros alunos na melhor e mais alta sociedade de São Paulo”.
 (Folha de São Paulo, de 27-1-79, pag. 3 da Folha Ilustrada).

Não só a nacional como também a imprensa internacional ressaltavam as suas qualidades artísticas e a sua “Natura Morta”, a justificar-lhe o título de maior pintor nacional de natureza morta, pois está escrito por Piero Girace, critico artístico do Jornal Roma, -Ano 107, nº 71, de 12 de março de 1968, o seguinte: 
“O pintor Ettore Federighi que hoje expõe na galeria “ La Lucerna”                                                                                                                                                                                                                                                                                                         uma  série de naturezas mortas pertence a uma família de artistas.
Quem observa as naturezas  mortas que ele apresenta nesta exposição da Galeria “La Lucerna” vê logo que pintor é hábil e muito fino na arte.
As suas composições rústicas –com jarras, panelas de cobre, bandejas de frutas ou verduras-têm uma tonalidade de caráter local, sendo inspiradas nos costumes daquelas exóticas regiões.
É em suma um pintor que se insere na tradição Flamengo-Napolitana de “Natureza Morta”.

                A fama já internacional de Federighi, por causa das suas “Natura Morta”, despertava também aplausos de outros críticos internacionais de arte, como revela a apreciação do Sr. Vice, crítico artístico do jornal Napoli Notte, de 13 de março de 1968, pag. 3, :
           
                   Ettore Federighi
                    Alla “Lucerna”.
   “A maturidade e a habilidade deste pintor são notáveis”. As quase 30 obras
que o notório artista ítalo-Americano        expõe      na “Lacerna” de  Viale                     
      Raffaelo são de composições alucinantes. Naturezas mortas que nos Levam a um calor doméstico “arcaico” e de enredo poético digno das Fábulas de Branca de Neve; pintadas com técnica moderna toda pessoal feitas de contrastes e hábeis talhos de perspectiva.”

        Federighi herdara de seu pai a finura tradicional da nobre família dos Federighi de Florença, existente na Itália desde 1.346 com magistrados, juristas, bispos, cônsules, literatos, artistas, políticos – como também o sangue italiano cheio de amor ao belo.
          Ettore Federighi, além de grande pintor, era por natureza e hereditariedade educado e de bom caráter. Bom filho. Bom irmão. Excelente pai e esposo. De fidalguia no tratamento e de modéstia cativante. Elegância nas atitudes e sentimentos puros.
            Lecionou pintura em São Paulo, por muitos anos, onde deixou uma plêiade  de alunos de mais alta sociedade paulista.
            Dois amores teve Ettore na sua vida : Muzambinho e São Paulo.
            Muzambinho, terra natal aformoseava o seu coração.
            São Paulo, que o acolheu pobre mas que o amparou, que o protegeu e lhe estendeu as mãos para a conquista das glorias artísticas, vivia na sua constante gratidão. 

 

 

Ettore Federighi – o maior artista em 118 anos de Muzambinho



Muzambinho é terra de muitos talentos artísticos, entre eles se destaca o do pintor Ettore Federighi considerado o maior pintor de natureza morta do Brasil.
Nascido em 24 de agosto de 1909 , foi o maior artista da história da cidade. No aniversário de Muzambinho é importante lembrar de pessoas de talento como  Ettore Federighi. Toda a história e documentos do pintor estão à disposição do público na Casa da Cultura.