ELEIÇÕES 2008

A Matemática das eleições para vereador em Muzambinho
Entenda o sistema que garante a representação popular na Câmara

                        Eu, há 4 anos atrás, escrevi dezenas de artigos sobre a Matemática das eleições em Muzambinho e região, e fui impedido a escrever nesses três meses, devido ao fato de ser candidato, mas retorno, comentando sobre os resultados da eleição proporcional, curiosamente sendo eu beneficiado de um sistema de eleição que eu sempre defendi.
                        É importante ressaltar que o sistema de eleições proporcionais existe em todas democracias do planeta, não existindo outro meio de escolha de representantes do povo.
                        Vejo um questionamento grande do fato de terem vereadores eleitos com 269 votos, como é meu caso, e vereadores não-eleitos com 457 votos, que é o caso de João Pezão. O próprio João Pezão falou na reunião da Câmara que discordava do sistema e que a vontade do povo não foi atendida. (Aliás, o João Pezão anda muito bravo comigo ultimamente por coisas que eu não disse e sistemas eleitoras dos quais eu não criei, mal ele sabe que lhe estimo muito, mas, aqui isso não vem ao caso).
                        Na realidade a vontade do povo foi atendida e não apenas dos meus 269 votos ou dos 457 votos. Todos eleitores estão representados por algum vereador. Os eleitores de João Pezão têm dois representantes: Silene e Canarinho, que não foram eleitos apenas pelos seus votos, mas também pelos seus colegas, e os eleitores de vários outros candidatos, como Valdirei, Fernanda, Pelezinho, Joaquim e José Roberto, entre outros, não ficaram órfãos, tendo eu como representante deles. Aliás, a minha eleição não foi pelos meus 269 votos, mas pelos 1861 votos que minha coligação obteve.
                        Não há argumento que derrube a legitimidade da eleição proporcional. É bom que todos vereadores saibam que foram eleitos não pelos seus votos, mas por aproximadamente 1.500 eleitores cada um. Mesmo o campeão mineiro de votação em termos proporcionais, João Poscidônio, precisou de 59 votos de seus colegas para poder ser eleito vereador.
                        Aliás, vamos lembrar de Enéas, com sua votação espetacular como deputado federal, elegeu a si próprio e mais outros 6 deputados, tendo conseguido eleger deputado federal por São Paulo candidatos com 128 votos, votação atualmente insuficiente para eleger vereador mesmo em Muzambinho.

Como foram distribuídas as vagas na eleição proporcional em Muzambinho

                        Vamos explicar de forma didática, conceito por conceito.

Eleitorado: 16.402 - total de pessoas habilitadas a votar, que possuem título de eleitor na 189ª zona eleitoral, município de Muzambinho.
Abstenções: 2.386 – eleitores que não compareceram para votar, incluindo aqui eleitores falecidos não baixados, eleitores que justificaram o voto, eleitores facultativos (analfabetos, menores de 18 anos ou maiores de 70 anos).
Votos Nulos: 249 – votos em números de candidatos que não existem.
Votos Brancos: 381 – do contrário do que dizem, os votos brancos não vão para o mais votado, simplesmente tem o mesmo valor do que o voto nulo. Há sim, a simbologia de neutralidade no voto branco e de protesto no voto nulo, mas, na prática, não há diferença.
Votos Válidos: 13.386 – votos que tem valor na eleição, incluindo votos em candidatos (nominais) ou no partido (legenda). Em toda eleição proporcional, encontra-se o quociente eleitoral dividindo o número de votos válidos pelo de cadeiras na Câmara.
Votos de Legenda: 1.400 – votos em partidos. Quem votasse em qualquer um dos partidos que concorreram na eleição teria o voto computado para a coligação. Foram muitos pois muita gente engana-se ao votar para vereador, acreditando que votaria para prefeito em primeiro lugar. Ex: alguém que chegou e votou 23 em primeiro lugar, votou para a coligação do qual o PPS fazia parte. Por isso há muitos votos para as coligações do 45 (PSDB), 31 (PHS) e 12 (PDT), que haviam candidatos a prefeito.
Votos Nominais: 11.986 – votos para candidatos específicos. Para qualquer um dos 67 candidatos com nome na urna eletrônica.
Quociente Eleitoral: 1487 – divisão sem casas decimais dos votos válidos pelo número de vagas (9). Determina quantos votos cada coligação deveria obter para eleger 1 vereador. 2 vezes o quociente eleitoral atribuiriam 2 vagas, 3 vezes, 3 vagas, etc.

Votação por Coligação:

Coligação
Apoiava para prefeito
Partidos
Votos Nominais
Votos de Legenda
Votos Válidos
1
Compromisso com Muzambinho
Esquilo
DEM 25, PSDB 45, PR 22, PSC 20, PTC 36
2.831
500
3.331
2
Solidariedade com Todos
Marco Régis
PT 13, PDT 12, PCdoB 65
2.559
325
2.884
3
Política Renovada
Ivan
PHS 31, PSDC 27
2.353
374
2.727
4
Por uma Muzambinho Melhor
Esquilo
PMDB 15, PRTB 28
2.499
84
2.583
5
A Voz de Todos
Marco Régis
PTB 14, PRB 10, PPS 23, PP 11
1.744
117
1.861

Para calcular o número de vagas se procede da seguinte forma. Divisão do número de votos válidos da coligação pelo quociente eleitoral, desprezando as casas decimais.





Cálculo
Vagas
Candidatos Eleitos
Compromisso com Muzambinho
3.331 : 1487 = 2,24
2
Silene Cerávolo
Canarinho
Solidariedade com Todos
2.884 : 1487 = 1,94
1
Marquinho da Empresa
Política Renovada
2.727 : 1487 = 1,83
1
João Poscidônio
Por uma Muzambinho Melhor
2.583 : 1487 = 1,74
1
Zé Gibi
A Voz de Todos
1.861 : 1487 = 1,25
1
Professor Otávio

Seria necessário 1487 votos para eleger 1 vereador e 2974 votos para eleger 2 vereadores. Porém, pelos cálculos foram eleitos 6 vereadores, aí se faz necessário o Cálculo das Sobras. No caso, sobras para preencher mais 3 cadeiras.

Para fazer o cálculo se divide o número de votos de cada coligação pelo número de vagas conquistadas mais 1, escolhe-se o resultado da divisão maior. É matematicamente a forma mais justa de distribuir as sobras. Há outros métodos em outros países que calculam de forma diferente as sobras, mas, o método adotado no Brasil é considerado o mais justo. É uma variação do método D’Hondt, com alguns elementos peculiares.

Cálculo das Sobras

1ª Sobra
Cálculo
Candidatos Eleitos
Compromisso com Muzambinho
3331:(2+1)=1110

Solidariedade com Todos
2884:(1+1)=1442
Eleito Prof. Márcio Dias
Política Renovada
2727:(1+1)=1363

Por uma Muzambinho Melhor
2583:(1+1)=1291

A Voz de Todos
1861:(1+1)=930


2ª Sobra
Cálculo
Candidatos Eleitos
Compromisso com Muzambinho
3331:(2+1)=1110

Solidariedade com Todos
2884:(2+1)=961

Política Renovada
2727:(1+1)=1363
Eleito Gilmar Labanca
Por uma Muzambinho Melhor
2583:(1+1)=1291

A Voz de Todos
1861:(1+1)=930


3ª Sobra
Cálculo
Candidatos Eleitos
Compromisso com Muzambinho
3331:(2+1)=1110

Solidariedade com Todos
2884:(2+1)=961

Política Renovada
2727:(2+1)=909

Por uma Muzambinho Melhor
2583:(1+1)=1291
Eleito Marinho Menezes
A Voz de Todos
1861:(1+1)=930


Fica composta então a Câmara Municipal por 9 vereadores, com representação justa, democrática e proporcional das 5 coligações, sendo eleitos vereadores representando 100% do eleitorado, e não apenas os votos dos eleitos. O nome eleição proporcional é aquela eleição onde são distribuídas as vagas de acordo com o número de votos de cada coligação (vereadores, deputados estaduais e federais), diferente do nome majoritário, onde o mais votado é eleito (prefeito, governador, senador, presidente da república).

Suplentes que serão diplomados
Pela nova lei, serão diplomados 3 suplentes:
Vereadores Eleitos
Silene Cerávolo (DEM)
Canarinho (PSC)
Marquinho da Empresa (PDT)
Prof. Márcio Dias (PT)
João Possidônio (PHS)
Gilmar (PHS)
Zé Gibi (PMDB)
Marinho Menezes (PMDB)
Prof. Otávio (PPS)
Suplentes que serão diplomados
João Pezão (PR)
Luquinha (PSDB)
Cléber Marcon (PSDB)
Zé Amélio (PCdoB)
Thiago Coimbra (PDT)
Baiano (PDT)
Paulo Gelvane (PHS)
Donizetti (PHS)
Ademar Martins (PHS)
Célio do Caminhão (PRTB)
Zé Aleixo (PMDB)
Osmar Dentista (PMDB)
Valdirei Morais (PTB)
Fernanda Bevilácqua (PTB)
Pelezinho (PRB)

Curiosidades:
1) João Poscidônio teve 10,65% dos votos e 59 votos a menos do quociente eleitoral, sendo um recorde na história de Muzambinho. O antigo recordista era o sr. Esmerino Aparecido Oliveira, com 831 votos numa eleição com 11 vagas e exatamente 11 candidatos.
2) Se fossem 11 vagas na Câmara os eleitos seriam João Pezão e Zé Amélio. É a segunda vez que Zé Amélio fica de fora e poderia ter entrado se fossem 11 vagas.
3) As legendas não alteraram a votação de vereador, mas poderiam alterar. Caso não fossem computados os votos de legenda e feitos os cálculos, a única diferença é que seriam 4 sobras, sendo a primeira de Canarinho.
4) Mesmo se fosse 21 vagas na Câmara não seria eleito o atual presidente da Câmara Jota Maria, com 291 votos (mais do que eu, que fui eleito). Ele ficou numa coligação muito forte, em 6º lugar. Teria chances de ser eleito se tivesse em                   qualquer coligação.
5) Todos os candidatos na casa dos 400 votos tiveram uma votação terminada em 7. Gilmar Labanca 497, Canarinho 487, João Pezão 457, Marquinho da Empresa 437, Luquinha 427.

6) Existem diversos métodos de eleição proporcional, os mais conhecidos são os de  Hamilton, Jefferson, Adams, Webster e Huntington-Hill. Curiosamente, nos 5 métodos citados, seriam eleitos os mesmos 9 vereadores. Em qualquer sistema de eleição proporcional do mundo eu seria eleito sem cálculo de sobras.