Eleições 1950

ELEIÇÕES DE 1950 EM ÉPOCAS DE TUCANOS E PICA-PAUS
Otávio Luciano Camargo Sales de Magalhães

ELEIÇÕES DE 1950
Getúlio Vagas e Juscelino Kubitschek, fotos do Planalto

            Em 1950 aconteceram eleições gerais no país, a segunda eleição da quarta república. Foi nessa eleição que o ex-ditador Getúlio Vargas foi reconduzido “nos braços do povo”, eleito democraticamente.
            Nessa mesma eleição foram eleitos vice-presidente, governador, vice-governador, senador, deputado federal, deputado estadual, prefeito, vice-prefeito, vereador e juiz de paz. Uma eleição muito complexa, onde 10 pessoas deveriam ser escolhidas para cada eleitor, sendo permitido chegar na eleição com a cédula pronta e depositá-la na urna.
Cristiano Machado – Fonte: casadepolitica.blogspot.com e Eduardo Gomes – Fonte: revistalingua.uol.com.br
           
Para presidente foi eleito Getúlio Vargas (PTB), e para governador Juscelino Kubitschek (PSD). Os principais candidatos à presidência eram, além do eleito, Cristiano Machado, mineiro, do PSD e o Brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN. Para o governo, além do pessedista eleito, havia Gabriel Passos, udenista.

Gabriel Passos – Fonte: Ministério Público Federal

            Em Muzambinho ainda haviam acirrados dois grupos políticos, pica-paus e tucanos. Do lado dos pica-paus foi lançado para prefeito o Dr. Ismael de Oliveira Coimbra e vice Osvaldo Campedelli, do PSD. O lado dos tucanos foram lançados os eleitos prefeito e vice, respetivamente, Álvaro Martins de Oliveira e Domingos Mazzilli, ambos udenistas. O então prefeito e seu vice, também eram tucanos udenistas: Messias Gomes de Melo e Pedro I Gouveia do Prado, além do presidente da Câmara Dr. Samuel de Assis Toledo e do vice Luiz Leite (o Dr. Lulu). A UDN ainda tinha um deputado federal eleito por Muzambinho, o Dr. Licurgo Leite Filho, que era candidato para reeleição.
                       
           
Eurico Gaspar Dutra – Fonte: simplificandohistoria.blogspot.com e Milton Campos – Fonte: jornaldaparnaiba.blogspot.com

O então presidente era Eurico Gaspar Dutra, do PTB e o então governador era Milton Campos da UDN. Havia pouco tempo reaberto na cidade o Colégio Estadual de Muzambinho, dirigido por um tucano que ficara fora da cidade durante o Estado Novo, o Dr. Antônio Magalhães Alves, que, meses após a eleição de Juscelino fora ejetado do cargo, mesmo após muitos protestos de estudantes a seu favor.
Antônio Magalhães Alves – Foto de Graco Magalhães Alves

            Sabemos que foram eleitos para presidente Getúlio Vargas e para governador Juscelino Kubitschek, sendo os udenistas desfavorecidos em Muzambinho, porém, no âmbito municipal, a UDN elegeu o prefeito, o vice-prefeito, 6 dos 11 vereadores, foi a mais votada para senador e governador, teve o deputado federal mais votado de seu partido, perdendo apenas a eleição para presidente, onde o candidato do PSD, Cristiano Machado, talvez por ser mineiro, foi mais votado aqui que o Brigadeiro Eduardo Gomes, terceiro colocado. Getúlio Vargas foi o menos votado da cidade (e ainda assim, foi o único presidente no exercício do mandato a visitar Muzambinho).
Lycurgo Leite Filho
Fonte: “A Folha Regional” – Especial Muzambinho 116 anos – 30.11.1996

            Em 18 de junho de 1950, com o deputado Licurgo Leite Filho, o Brigadeiro Eduardo Gomes visita Muzambinho em caravana, conforme noticiou o “Correio da Manhã” de sexta-feira, dois dias antes do evento. O candidato da UDN visitava uma cidade por dia, sendo domingo em Muzambinho, segunda-feira em Guaranésia, terça-feira em Poços de Caldas, e, no dia 25, em Fortaleza – CE, ou seja, uma agenda bem diferente da atual, onde candidatos chegam a visitar uma dezena de cidade em um único dia.
            No dia 25 de junho, o mesmo jornal “Correio da Manhã”, de Eduardo Bittencourt, jornal diário que circulava até aos domingos, nos deu as notícias em primeira página, no canto esquerdo sob o título “A “Caravana da Vitória” entusiasma o povo mineiro”. Não encontramos até hoje qualquer documento local que fale sobre essa visita, mas o jornal conta assim:
            Telegramas chegados de Minas Gerais narram o sucesso que vem alcançando a “Caravana da Vitória”, grupo de artistas chefiados pelo locutor Carlos Frias e que atualmente vem percorrendo o interior daquele Estado. Em Guaxupé a caravana foi recebida com aclamações entusiastas e “vivas” ao Brigadeiro. Em Muzambinho, município chefiado pelo deputado Licurgo Leite os artistas receberam acolhida excepcional. Cerca de 8.000 pessoas aguardavam a chegada da comitiva do “Samba do Povo”, colocavam as palavras que enaltecem a figura do candidato udenista.
            Os artistas organizaram um espetáculo no Teatro de Muzambinho e milhares de pessoas, inclusive adeptos de outras agremiações partidárias lotaram suas dependências. Elementos do P.S.D. ovacionaram com entusiasmo os artistas quem vem fazendo propaganda do Brigadeiro por aquele Estado.
            Deixando Muzambinho a “Caravana da Vitória” seguiu para Poços de Caldas onde foi recebida também com calosas demonstrações de entusiasmo. O povo ocorreu em massa no teatro local, onde os artistas organizaram um espetáculo variado na noite de sua chegada à cidade. Cerca de 1.000 ingressos foram vendidos, número superior à capacidade de lotação do Teatro de Poços de Caldas. Num dos intervalos do espetáculo, o locutor Carlos Frias pediu que se desse um viva ao Brigadeiro, e toda a assistência, de pé aplaudia, demoradamente o nome do candidato udenista.
Sobre Carlos Fria – Fonte: aeradoradioteatro.blogspot.com

            Naquela época os jornais assumiam partidos políticos, e está óbvio o caráter panfletário desse jornal pró-UDN. Mas vejam os exageros: seria possível 8.000 pessoas aguardando o Brigadeiro Eduardo Gomes numa cidade do porte de Muzambinho? E se 10% disso estivesse no Teatro ele teria desmoronado naquela época e não em 2009! É interessante notar que o número 5.000 pessoas aparece em artigos de outros jornais da mesma época (igualmente exagerado).
            O mesmo “O Correio da Manhã” de 31 de agosto de 1950 fala da visita do candidato udenista para o governo de Minas Gerais, Gabriel Passos, para uma série de municípios mineiros, entre eles Muzambinho.
            Já no dia 9 de novembro de 1950 há uma notícia de que o TRE-MG havia julgado como legal a eleição em Muzambinho, onde o PSD impugnou alegando fraude.


Foram eleitos vereadores pela UDN os tucanos Juarez Martimiano, Luiz Leite, Antero Veríssimo da Costa, Alberto Anderson, Francisco Machado e Messias Gomes de Melo. Pelo PSD foram eleitos os pica-paus Goimy Rondinelli, José Vitor dos Santos, Antônio Borelli, Hugo Bengston e Milton Gonçalves Siqueira. Os suplentes da UDN eram Benedito Cândido Martins, que chegou a ser vereador por um tempo.
            A noite, em 6 de outubro de 1950, trás o resultado do pleito presidencial em Muzambinho:
Cristiano Machado
385
Brigadeiro
322
Getúlio Vargas
102
            Não há informações sobe os votos de João Mangabeira. Getúlio teve não mais que 12,6% dos votos na cidade, e, ainda assim, foi O ÚNICO presidente em mandato (nesse mandato) que visitou Muzambinho, em 1956.

           
Jacy de Assis também era candidato, por Uberlândia. O muzambinhense radicado naquela cidade, com brilhante carreira jurídica, era filiado à UDN:
Fonte: “O Correio de Uberlândia” de 12 de setembro de 1950


Fonte: “O Correio de Uberlândia”, de 14 de setembro de 1950, com artigo de Eurico Silva, que estudou em Muzambinho
Odilon Braga – candidato à vice-presidente da República – Fonte “A Revista da Semana”

           
Em 30 de setembro, o mesmo “Correio de Uberlândia” publica um interessante artigo sobre o Lyceu de Muzambinho, fechado por Valladares e reaberto por Milton Campos:

           
Também é curioso o periódico: “A Revista da Semana”, com fala de Licurgo Leite Filho: