O contador de histórias da terra mineira: Carlos Góes
Aula de Português - Professor Carlos Góis, ele é quem
sabe, e vai desmatando o amazonas de minha ignorância
Carlos Drummond de Andrade
Livro de
Carlos Góes. Foto tirada do site do sebo Traça Virtual em janeiro de 2006.
Rezas, postas as mãos
em súplice postura.
Pedes a Deus
perdão das faltas que deploras,
E Ele, em quem
lacrimosa o fito olhar demoras,
Sorri, por te
saber acrisolada e pura.
Há na tua atitude
mística doçura
De quem contempla
o albor de célicas auroras,
— O olhar vago de
quem se impregna e se satura
De toda a contrição que exala o Livro de
Horas...
Volves agora o
olhar à imagem de Maria,
E Maria, de cima,
a unção prodigaliza
De outro olhar,
onde a graça esplêndida irradia!
Nem sequer o
cansaço as fibras te quebranta...
E, arroubada, não
vês que assim se imobiliza
Genuflexa uma
santa em face de outra Santa...[1]
Carlos Góes
(1881-1934), “lente catedrático de
português do Ginásio Mineiro e brilhante literato” (LYCEU, 1924), nasceu no
Rio de Janeiro em 10/10/1881. Aqui, Ginásio Mineiro não é o de Muzambinho, é o
de Belo Horizonte.
Muzambinho é uma
cidade que por sua cultura, se pode chamar de universitária. Eu diria que
Muzambinho, nesse sentido se parece com a minha terra, essa Ouro Preto. (...)
Foi de Muzambinho que saiu esse extraordinário filólogo que é Carlos Góes, que,
na formosa cidade sul-mineira, armazenou a sua esplêndida cultura vernácula,
sedo ali professor e promotor de justiça. Carlos Góes, depois foi para Belo
Horizonte, onde fez aquele maravilhoso concurso para catedrático de português
no Ginásio Mineiro. Hoje, com um pence-nez luminoso, umas bolinhas de algodão
nos ouvidos e uma certa ingenuidade em matérias de cavações políticas, Carlos
Góes é o mestre supremo da língua. E há muito de Muzambinho nessa gloria
cheirando a frei Luiz de Souza. (SOARES, 1940)
Carlos
Góes foi professor primeiro no Ginásio Mineiro, nomeado aos 31 de março de 1909
(MOURÃO, 1968) como lente efetivo de Português após aprovação em concurso “tendo sido o mestre conhecido de várias gerações
de alunos do curso seriado do Ginásio Mineiro”. Mourão ainda diz, sobre o
livro “Método de Análise”: “tornou-se o
livro clássico indispensável a quantos iniciavam esta parte do aprendizado
vernáculo.” O filólogo gostava de música, mas não as tocava, e comprou uma
pianola onde, por meio de cilindros de
papel gravados, reproduzia as peças dos afamados compositores.
Ainda
sobre o professor, Mourão (1968) diz:
Dr. Carlos Góis tinha a singularidade de não trabalhar
nas noites das quartas feiras, porém, abria as salas de sua residência à rua
Ceará, na Capital, aos que o fossem visitar, divertindo, então, as pessoas, com
várias músicas da sua pianola. O curioso é que havia muita rivalidade entre os
gramáticos de então. Por exemplo, Dr. Joaquim de Paula dizia (certamente por
gracejo) que daria zero ao aluno a quem Dr. Carlos Góis desse nota dez. Dizem
alguns contemporâneos do Dr. Carlos Góis que o seu ideal, seria, depois de
aposentado, ir residir em Petrópolis. De fato, sendo-lhe concedida
aposentadoria, mudou-se para a cidade serrana, vindo entretanto a falecer pouco
tempo depois, vitimado, ao que parece, pelo clima úmido da Serra do Mar.
Nascido
no Rio, viveu em Muzambinho, como promotor público, e depois desistiu do cargo
para ser professor do Ginásio Mineiro.
O
Falecimento de Carlos Góes, em 21/05/1934, em Petrópolis. foi motivo de luto no
Ginásio, tendo solenidade com presidência de honra do dr. Antônio Francisco de
Almeida, juiz de direito do município. Falou Pedro Saturnino “ilustre escritor e professor de português
no antigo Lyceu” em nome do Lyceu. (O Muzambinhense – 12/06/1934).
Livro de
Carlos Góes (Tipografia Americana, 1930,
224 páginas). Disponível no site da nota[2]
Júlio
Bueno fala de Carlos Góes “com seu verbo
castiço”.
O
site português http://ciberduvidas.sapo.pt/antologia/carlos.html,
acessado em janeiro de 2006, além de excelente texto de autoria do antigo
professor do Lyceu dá nos as seguintes informações sobre o poeta:
Poeta e filólogo brasileiro, Carlos Góes nasceu no Rio
de Janeiro. Formado em Direito, não seguiu a advocacia. Dedicou-se ao
magistério, tendo obtido por concurso a cátedra de Português do Ginásio Mineiro
de Belo Horizonte. Escreveu: "Método de Análise"; "Sintaxe de
Concordância"; "Sintaxe de Regência"; "Sintaxe de
Construção"; "Dicionário de Afixos"; "Dicionário de Raízes
e Cognatos"; "Método de Redacção"; "Gramática Expositiva
Primária"; a tese "Da Linguagem em Suas Modalidades ";
"Crótalos"; "Cítara"; "Espelhos", entre outros.
O poeta é também
citado no site “Migalhas Gramaticais”: http://www.migalhas.com.br/mig_gramaticais.aspx?cod=7500&lista=S
acessado em novembro de 2007, onde é utilizado como fonte para discutir o uso
de pronomes de tratamento. O mesmo cite cita o poeta em outros textos.
Em setembro de
1986 foi republicado na 498ª edição da revista da Sociedade Brasileira de
Autores o seu livro “Nem uma Guimba, meu Deus...”.
Existe
uma escola municipal e uma escola estadual em Belo Horizonte com
o nome do poeta.
Também
há uma rua no Leblon com o nome Carlos Góes. O site do governo do Rio de
Janeiro faz uma pequena biografia do poeta para justificar o nome da rua
(disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/patrimonio/apac/anexos/bens_leblon/10_carlos_goes/01_carlos_goes.pdf,
acessado em novembro de 2007):
Carlos Fernandes
Góis nasceu no Rio de Janeiro, em 10/10/1881, e faleceu em Petrópolis, RJ,
21/05/1934. Bacharel em Direito pela Faculdade de Belo Horizonte. Promotor público
em Muzambinho, MG. Membro da Academia Mineira de Letras e do Instituto
Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Poeta e teatrólogo, autor de várias
peças e livros didáticos e de poesias.
Seu
livro “Histórias da Terra Mineira” foi reeditada em 2001 pela editora
Garnier, e está a venda no site: http://www.planetanews.com/produto/L/115934/historias-da-terra-mineira-carlos-goes.html
(acessado em novembro de 2007).
O
site http://www.apcl.com.br/NOTICIAS/coluna_carlosgoes.htm
acessado no dia 16 de abril de 2007, apresenta uma biografia do poeta:
O ilustre professor, escritor, poeta e filólogo Carlos
Góes, nasceu no Rio de Janeiro, filho de Domingos Góes e de Maria Eugênia
Machado Góes. Cursou Humanidades nos colégios Abílio e Externato Aquino,
formando-se em Direito pela Faculdade do Estado de Minas Gerais. Mudou-se do
Rio de Janeiro para Minas Gerais, tornando-se Promotor Público em Mozambinho,
até ingressar como Professor Catedrático de Português no Ginásio Oficial de
Minas Gerais, por brilhante concurso onde alcançou o 1º lugar, sendo muito
cumprimentado pela brilhante tese “Da Linguagem”.Publicou inúmeros trabalhos
didáticos: “Dicionário de Galecismos”, “Dicionário de Raízes e Cognotos”
(premiado pela Academia Brasileira de Letras), “Dicionário de Afixos”, “Método
de Análise”, “Sintaxe da Regência”, “Sintaxe da Construção”, “Gramática
Expositiva Primária” e “Pontos de Língua Pátria”., Apaixonado pela Literatura
e, em particular, pela poesia e primoroso diletante da bela arte, publicou os
livros “Crótulos” (1888), “Cítara” (1904) e “Espelhos” (1924). Dramaturgo,
escreveu a peça histórica “O Governador das Esmeraldas” e algumas comédias e
dramas. Foi titular da cadeira nº 11 da Academia Mineira de Letras. No ano de
1931 veio residir em Petrópolis e aqui impressionou a sociedade intelectual e
cultural com seus talentos oratórios e de escritor, ingressando na Academia
Petropolitana de Letras, na cadeira nº 38, patronímica de Casimiro de Abreu,
tomando posse a 10 de setembro de 1933. Por pouco tempo enriqueceu a Academia e
a Cultura de Petrópolis, falecendo em janeiro de 1935, recebendo homenagem
acadêmica em sessão realizada a 7 de fevereiro do mesmo ano, sendo orador o
acadêmico Álvaro Machado.
Ao
que sabemos, Carlos Góes foi o único professor de Muzambinho que também foi
professor do Ginásio Mineiro, de Belo Horizonte.
Foi
fundador da cadeira 11 da Academia Mineira de Letras, cujo patrono é o Frei
José de Santa Rita Durão. Após seu falecimento substituíram na cadeira: Lúcio
José dos Santos, Cônego Francisco Maria Bueno de Sequeira, e Dom João Resende
Costa, falecido em 2007, encontrando atualmente (02.11.2007) a cadeira vaga.
Sua
extensa bibliografia está disponível em muitos sebos virtuais, podendo nós
termos acesso à suas obras.
Muitas
vezes é necessário usar seu nome como Carlos Góis, e não como Carlos Góes, para
termos acesso à suas informações na Internet.
Livro de
Carlos Góes (Paulo Azevedo & Comp.,
1929, 192 páginas). No site Traça Sebo Virtual
Livro de
Carlos Góes (L Silva & Cia., 1932,
204 páginas). No site Traça Sebo Virtual
Figura 139 – Livro de
Carlos Góes (Francisco Alves., 1935, 168
páginas). No site Traça Sebo Virtual
O catálogo de
autores da Universidade Federal de Santa Catarina apresenta uma lista de obras do autor:
Título
da Obra
|
Gênero
|
Ano
/ Sec.
|
A minha maior
surpresa foi quando eu examinava uma prova do Exame Nacional do Ensino Médio –
ENEM e me deparei com o poema de Carlos Drummond de Andrade, denominado “Aula de Português” e encontrei o
seguinte texto:
Aula de Português
Carlos
Drummond de Andrade
A
linguagem
na ponta
da língua,
tão fácil
de falar
e de
entender.
A
linguagem
na
superfície estrelada de letras,
sabe lá o
que ela quer dizer?
Professor
Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai
desmatando
o amazonas
de minha ignorância.
Figuras de
gramática, equipáticas,
atropelam-me,
aturdem-me, seqüestram-me.
Já esqueci
a língua em que comia,
em que
pedia para ir lá fora,
em que
levava e dava pontapé,
a língua,
breve língua entrecortada
do namoro
com a prima.
O
português são dois; o outro, mistério.
Veja só, como é
interessante. Diz o poeta Carlos Drummond de Andrade – um personagem conhecido
de todos brasileiros em termos de língua portuguesa e produção de textos nesta
língua – que foi Carlos Góes que lhe serviu para “desmatar o amazonas de sua
ignorância” através de suas gramáticas.
Ou
seja, um dos maiores poetas brasileiros atribui seu conhecimento à Carlos Góes,
seu mestre à distância, um professor do Lyceu de Muzambinho.
Todo material e imagens acima são livres e podem ser utilizados de acordo com a licença:
citando como autor Otávio Luciano Camargo Sales de Magalhães
(não se aplica para o publicado daqui para baixo)
NOME DE RUA NO LEBLON - RJ
Biografia do site de nomes de ruas:
Poeta e filólogo brasileiro, Carlos Góes nasceu no Rio de
Janeiro em 1881 e morreu em 1934.
O ilustre professor, escritor, poeta e filólogo Carlos Góes, nasceu no Rio de Janeiro, filho de Domingos Góes e de Maria Eugênia Machado Góes.
Cursou Humanidades nos colégios Abílio e Externato Aquino, formando-se em Direito pela Faculdade do Estado de Minas Gerais.
Mudou-se do Rio de Janeiro para Minas Gerais, tornando-se Promotor Público em Mozambinho, até ingressar como Professor Catedrático de Português no Ginásio Oficial de Minas Gerais, por brilhante concurso onde alcançou o 1º lugar, sendo muito cumprimentado pela brilhante tese "Da Linguagem".
Publicou inúmeros trabalhos didáticos: Dicionário de Galicismos, Dicionário de Raízes e Cognatos (premiado pela Academia Brasileira de Letras).
O ilustre professor, escritor, poeta e filólogo Carlos Góes, nasceu no Rio de Janeiro, filho de Domingos Góes e de Maria Eugênia Machado Góes.
Cursou Humanidades nos colégios Abílio e Externato Aquino, formando-se em Direito pela Faculdade do Estado de Minas Gerais.
Mudou-se do Rio de Janeiro para Minas Gerais, tornando-se Promotor Público em Mozambinho, até ingressar como Professor Catedrático de Português no Ginásio Oficial de Minas Gerais, por brilhante concurso onde alcançou o 1º lugar, sendo muito cumprimentado pela brilhante tese "Da Linguagem".
Publicou inúmeros trabalhos didáticos: Dicionário de Galicismos, Dicionário de Raízes e Cognatos (premiado pela Academia Brasileira de Letras).
Fonte: http://copacabana.com/rua-carlos-gois/
[1] “Mística”, poema de Carlos Góes, disponível em: http://www.secrel.com.br/jpoesia/@cg01.html e também em http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/p00/p000189.htm
(com mais detalhes). Acessados em janeiro de 2006.
[2]http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.traca.com.br/capas/43437_mini.jpg&imgrefurl=http://www.traca.com.br/seboslivrosusados.cgi%3Fmod%3DLV43437%26origem%3Dresultadodetalhada&h=100&w=72&sz=3&tbnid=1wuxAN0mjF40UM:&tbnh=77&tbnw=55&hl=pt-BR&start=26&prev=/images%3Fq%3D%2522Carlos%2BG%25C3%25B3es%2522%26start%3D20%26svnum%3D10%26hl%3Dpt-BR%26lr%3D%26rls%3DGGLO,GGLO:2005-46,GGLO:pt-BR%26sa%3DN acessado em janeiro de 2006.