Athanázio Saltão: o
primeiro diretor do Grupo Escolar Cesário Coimbra
Otávio Luciano Camargo Sales de
Magalhães
UMA BREVE
BIOGRAFIA
Atanásio
Saltão
Fonte: Guido
Brilharino
Nessa edição vamos falar sobre
Athanázio Saltão, que ficou em Muzambinho por 1 ano e meio como primeiro
diretor do Grupo Escolar Cesário Coimbra, em 1915 e 1916. Intelectual de
primeira categoria e influente pedagogo, jornalista e poeta, tem uma história
incrível, mas cercada de lacunas.
Athanázio Ferreira Lins Saltão
nasceu em Cachoeira/MG em 1859, filho de Joaquim Luiz Saltão e Antônia Ferreira
Lima Saltão, porém, ainda garoto fixou residência na cidade de Bagagem (atual
Estrela do Sul). Filho de família influente e abonada, com 17 anos foi enviado
por seu pai para o mais famoso dos colégios mineiros, o Caraça, onde foi
matriculado sob o número 974, no dia 30 de setembro de 1876.
Prestou
exames para fazer medicina no Rio de Janeiro, mas foi enviado para Bélgica pelo
seu pai, para fazer medicina na Universidade Católica de Louvain, porém, ao
chegar naquele país trocou de curso, fazendo por 2 anos engenharia na
Universidade Livre de Bruxelas, não concluído o curso de quatro anos.
Com
curso incompleto, voltou ao Brasil, inicialmente residindo no Rio de Janeiro, Bagagem
(Estrela de Sul) e Uberaba, alternadamente. Sofreu com a rigidez de seu pai,
que quase nada lhe permitia fazer, até falecer em 1888. Nesse tempo se dedicou
principalmente ao comércio, não tendo sucesso em nenhuma empreitada, no Rio e
em Uberaba.
Antes
do falecimento de seu pai se relacionou com vários poetas, inclusive Olavo
Bilac, colaborou com o jornal “O País” no Rio e fundou em Bagagem o jornal “O
Palácio”.
Após
sua morte casou-se com Mariana Luiza Paes de Almeida, tendo como filhos Carmem,
Mariana, Antônio, Luiza, Zélia, Athanásio Almeida e mais uma filha.
Atuou
em muitas escolas, sendo
·
Fundador – Colégio Progresso (1894, Bagagem).
·
Diretor – Primeira Escola Normal de Uberaba (1905), Colégio
Renascença em Araguari (antes de 1915), Grupo Escolar Cesário Coimbra, Grupo
Escolar de Uberaba (1919).
·
Professor de Português e Francês – Colégio Uberabense (final séc
XIX), Escola Normal de Uberaba (final séc XIX), Colégio Maria Isabel (1899,
Uberaba), Colégio Santa Filomena (1923).
·
Inspetor – Escola Normal de Uberaba (final séc XIX), Araguari
(pelo menos em 1907 e 1908), Regiões de Araxá e Frutal (1909).
Foi
republicano, assinando manifesto juntamente com o senador Pena em 1890. Também
se filiou ao Partido Situacionista.
Participou,
após a morte de seu pai, como colaborador dos seguintes jornais: Lavoura e
Comércio, Gazeta de Uberaba, Cidade de Uberaba, A Vida Moderna de São Paulo,
Careta Paiz e Malho. Também compôs versos para o Carnaval de Uberaba.
Foi várias
vezes biografado, porém, ninguém conta quando e onde morreu.
Há
uma pessoa de nome Atanázio Saltão, falecido em 2006, no Mato Grosso, do qual
não conseguimos descobrir qual relação de parentesco com nosso personagem.
REFERÊNCIAS ONDE ENCONTRAMOS SALTÃO
1859
|
Nasceu em
Cachoeira/MG, tendo mudado para Estrela do Sul (então Bagagem), na infância.
|
Revista de
Uberaba (1905) apud BILHARINHO
(2014)
|
?
|
Estudou no
famoso Colégio Caraça, fazendo humanidades por 5 anos (ensino secundário)
|
Revista de
Uberaba (1905) apud BILHARINHO
(2014)
|
1876
|
Foi
matriculado em 30 de setembro, sob o número 974, no Colégio Caraça
|
Página do
Santuário do Caraça
|
?
|
Prestou
exames para fazer Medicina no Rio de Janeiro, em Ouro Preto
|
Revista de
Uberaba (1905) apud BILHARINHO
(2014)
|
?
|
Foi estudar
na Universidade Livre de Bruxelas na Belgica, onde fez 2 anos de Engenharia
(o curso eram 4 anos). Seu pai o havia enviado para estudar medicina da
Universidade Católica de Louvain.
|
Revista de
Uberaba (1905) apud BILHARINHO
(2014)
|
?
|
Estabeleceu
no Rio de Janeiro, e se empregou em escritório comercial, onde se relacionou
com Olavo Bilac e outros poetas, sendo colaborador do jornal “O País”. Ficou
por lá 2 anos e voltou para Estrela do Sul (então Bagagem)
|
Revista de
Uberaba (1905) apud BILHARINHO
(2014)
|
?
|
Fundou em
Estrela do Sul o jornal “O Palácio”
|
Revista de
Uberaba (1905) apud BILHARINHO
(2014)
|
?
|
Voltou
para o Rio de Janeiro
|
Revista de
Uberaba (1905) apud BILHARINHO
(2014)
|
1888
|
Seu pai
faleceu e ele voltou para Estrela do
Sul e posteriormente casou.
|
Revista de
Uberaba (1905) apud BILHARINHO
(2014)
|
?
|
Se mudou
para Uberaba, onde montou estabelecimento comercial. Voltou para Estrela do
Sul ao quebrar.
|
Revista de
Uberaba (1905) apud BILHARINHO
(2014)
|
?
|
Dirigiu
escola em Estrela do Sul.
|
Revista de
Uberaba (1905) apud BILHARINHO
(2014)
|
?
|
Fundou o
Colégio Progresso em Estrela do Sul
|
Revista de
Uberaba (1905) apud BILHARINHO
(2014)
|
1894
|
Fundou com
Atanásio Saltão, em Estrela do Sul (na época, Bagagem), o Colégio Progresso
Brasileiro.
|
RICCIOPPO
FILHO (2007)
|
?
|
Assumiu
simultaneamente o cargo de inspetor escolar e professor de português da
Escola Normal de Uberaba
|
Revista de
Uberaba (1905) apud BILHARINHO
(2014)
|
?
|
Lecionou
francês e foi diretor da Escola Normal de Uberaba
|
Revista de
Uberaba (1905) apud BILHARINHO
(2014)
|
?
|
Lecionou
francês no Colégio Uberabense.
|
BILHARINHO
(2014)
|
?
|
Lecionou
na Escola Normal de Uberaba as disciplinas de português e francês.
|
RICCIOPPO
FILHO (2007)
|
1889
|
Lecionou
no Colégio Uberabense
|
RICCIOPPO
FILHO (2007)
|
1890
|
Nasceu sua
primeira filha, Carmem de Almeida Saltão
|
My
Heritage
|
1890
|
Foi um dos
signatários com outros, inclusive o senador Joaquim José de Oliveira Pena, de
um manifesto republicano em Uberaba.
|
BILHARINHO
(2014)
|
1894
|
Filou-se
ao Partido Situacionista em Uberaba.
|
BILHARINHO
(2014)
|
1898
|
Era
tenente da reserva do 46º Batalhão de Reservistas
|
Diário
Oficial da União de 17 de setembro de 1898.
|
?
|
Lecionou
no Colégio Maria Isabel em Uberaba.
|
BILHARINHO
(2014)
|
1899
|
Lecionava
no Colégio Maria Isabel, em Uberaba.
|
RICCIOPPO
FILHO (2007)
|
1899
|
O
cirurgião João Teixeira operou a Sra. Maria Luiza de Almeida, extirpando o
baço, no dia 16 de dezembro, na residência de Athanázio Saltão em Uberaba.
|
Jornal “A
República”, de Curitiba, 13 de dezembro de 1902.
|
1904/
1905
|
Escreveu a
coluna “Crônica Mensal”, com pseudônimo Athas, na “Revista de Uberaba”.
|
ISOBE
(2008)
|
1905
|
Entre
janeiro e março foi diretor da Primeira Escola Normal de Uberaba (o último
diretor)
|
RICCIOPPO
FILHO (2007)
|
1906
|
Nasceu sua
filha Mariana Saltão Freitas Souza.
|
My
Heritage
|
1907
|
Era
inspetor em escola em Araguari.
|
ISOBE
(2011)
|
1908
|
Denuncia
professora em Araguari, na condição de inspetor
|
|
1909
|
Inspetor,
no 1º semestre na 27ª Circunscrição Eleitoral, em Araxá, Carmo do Parnaíba,
Patrocínio e Sacramento. No 2º semestre em Frutal, Monte Alegre, Prata e Vila
Platina.
|
GONÇALVES
(2004)
|
?
|
Autor do
Soneto “Cismando”
|
BILHARINHO
(2014)
|
?
|
Redigia
versos para o Carnaval de Uberaba.
|
BILHARINHO
(2014)
|
?
|
Colaborou
com “Gazeta de Uberaba”, foi redador do “Cidade de Uberaba”, foi redator do
“Lavoura e Comércio”.
|
BILHARINHO
(2014)
|
?
|
Foi autor
da coluna humorística em “Lavoura e Comércio” chamada e “Musa Alegre” e “Musa
Triste” com pseudônimo Jean Qui Ri ou Jean Qui Pleure
|
BILHARINHO
(2014)
|
?
|
Diretor da
Revista de Uberaba
|
PAIVA e
BORGES FILHO (2011)
|
-1916
|
Foi
diretor do Colégio Renascença em Araguari
|
Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1916.
|
1915
|
Em 1915 e
1916, em Muzambinho, dirigiu a EE Cesário Coimbra, sendo indicado pela Profa.
Amanda Rezende de Carvalho.
|
Fonte
primária.
|
1917
|
O Agente
Executivo de Araguari pede nomeação de Athanásio Saltão como diretor do Grupo
Escolar.
|
ISOBE
(2008)
|
1918
|
Publicou
em 21 de novembro, em “Lavoura e Comércio” o poema “Fim do Mundo”.
|
BILHARINHO
(2014)
|
+1918
|
Foi
diretor do Grupo Escolar de Uberaba, atual EE Brasil
|
CENTRO DE
REFERÊNCIA VIRUTAL DO PROFESSOR, 2009.
|
1919
|
Era
diretor do Grupo Escolar de Uberaba, na data de 9 de janeiro de 1919
|
Jornal
“Lavoura e Comércio”, ed. 2149, de 9 de janeiro de 1919.
|
1923
|
Lecionou
no Colégio Santa Filomena, na Colina do Fabrício, em Uberaba, as disciplinas
de educação cívica, moral e religiosa, português e francês.
|
RICCIOPPO
FILHO (2007)
|
?
|
Contribuiu
com crônicas para os periódicos “A Vida Moderna” de São Paulo e depois em
“Careta, Paiz e Malho”.
|
MORAES
(2007)
|
Sites:
-
Jornal “Lavoura e Comércio”
-
Jornal “Fom-Fom” da Biblioteca Nacional
-
Santuário do Caraça
-
Diário Oficial da União
-
My Heritage
BRILHARINHO, Guido. Estrela do Sul, Bélgica e Rio de Janeiro. In: Personalidades de
Uberaba. Uberaba, 2014.
CENTRO DE REFERÊNCIA VIRTUAL DO PROFESSOR. EE Brasil de Uberaba. In: Notícias, 27 de outubro de 2009.
Belo Horizonte, 2009.
GONÇALVES, Irlen Antônio. Cultura Escolar: práticas e produção dos
grupos escolares em Minas Gerais (1891-1918).
Trabalho de pós-gradução stricto
sensu. Belo Horizonte: UFMG, 2004.
ISOBE, Rogéria Moreira Rezende. Educação e Civilização no Sertão: práticas
de constituição do modelo escolar no Triângulo Mineiro (1906-1920). Tese de
doutorado. Campinas: PUC, 2008.
ISOBE, Rogéria Moreira Rezende. Instituição da Inspetoria Técnica no Âmbito
do Projeto de Modernização da Educação Implemento com a Reforma de 1906 em
Minas Gerais: estratégia de modelização do Ensino. In: Revista HISTEDBR On-line,
n. 44. Campinas, 2011.
MORAES, Juliana Lopes de. A Vida Moderna (1907-1922), O Periódico-
Vitrine da Cidade de São Paulo: tempos de modernidade com um leve toque
português. Dissertação de Mestrado. Assis: UNESP, 2007.
PAIVA, Taís Iniz de; BORGES FILHO, Oziris. Revista de Uberaba: Um Esboço Histórico.
In: InterteXto, v.4 n.1. Uberaba: UFTM, 2011.
RICCIOPPO FILHO, Plauto. Ensino Superior e Formação de Professores em Uberaba / MG (1881-1938):
uma trajetória de avanços e retrocessos. Trabalho de pós graduação stricto sensu. Uberaba: Uniube, 2007.
TRIBUNA DA IMPRENSA. Saudades de Muzambinho. In: A
Tribuna da Imprensa, 8 de março de 1951. Rio de Janeiro, 1951.
DESCRIÇÃO DAS FONTES
1
Foi publicado na revista InterteXto,
da UFTM, em Uberaba, v.4 n.1, p. 52-65, 2011 – jan./jul., com o título “Revista
de Uberaba: Um Esboço Histórico”, de Taís Iniz de Paiva e Oziris Borges Filho
que Atanásio Saltão foi um dos diretores daquela revista, se qualquer outro comentário.
2
Na “Revista HISTEDBR On-line”, de
Campinas, n.44, p. 107-130, dez2011, o artigo “Instituição da Inspetoria
Técnica no Âmbito do Projeto de Modernização da Educação Implementado com a
Reforma de 1906 em Minas Gerais: estratégia de modelização do Ensino”, de
autoria de Rogéria Moreira Rezende Isobe, da UFTM, em pesquisa financiada pelo
CNPq:
Nas
representações construídas, os técnicos do ensino desqualificam os
estabelecimentos de ensino que se distanciam do modelo da moderna escola
primária: os Grupos Escolares. Desta forma, ao relatar sobre as condições das
escolas primárias do Triângulo Mineiro, os inspetores ressaltam a precariedade
das mesmas:
A escola do
professor Sebastião Vieira Albernaz continua a funcionar no mesmo prédio, isto
é, no mesmo pardieiro de que falei a V. Exa. no meu primeiro relatório.
Disse-me ele que lhe tem sido impossível encontrar outro prédio na cidade, o
que quer dizer que a sua escola irá ficando no mesmo casebre arruinado (MINAS
GERAIS. Secretaria do Interior. Relatório de Inspeção. Inspetor
Athanasio Saltão. Araguari, 06 de abril de 1907).
Inspecionando
a escola estadual de Araguari, o inspetor Athanasio Saltão expõe um dos grandes
problemas apresentados na maioria dos relatórios de inspetoria: o espaço
inadequado — as escolas funcionavam em ―pardieiros sendo difícil encontrar
prédios adequados para que a escola cumprisse os propósitos do governo estatal.
No projeto republicano, era de fundamental importância que a escola causasse
―boa impressão‖, para atestar a modernidade educacional a ser instaurada. [...]
Documentos
pesquisados no Arquivo Público Mineiro:
MINAS
GERAIS. Secretaria do Interior. Relatório de Inspeção. Inspetor
Athanasio Saltão. Araguari, 06 de abril de 1907.
3
No
trabalho de pós-graduação stricto sensu
de Plauto Riccioppo Filho, da Uniube, sob o título “Ensino Superior e Formação
de Professores em Uberaba/MG (1881-1938): uma trajetória de avanços e
retrocesso”, defendido em 2007.
Há
várias referências à Saltão, que dividiremos em algarismos romanos, colocados
por nossa conta:
I
Uma
das principais escolas fundadas em Uberaba, no final do século XX, foi o Colégio
Uberabense, aberto em 15/07/1889 pelo professor Paulo Frederico Barthes ,
lente titular da Escola Normal local. O novo estabelecimento, que criou fama na
região, oferecia os cursos primário e secundário para jovens do sexo masculino.
O colégio aceitava alunos em regime de internato ou externato e oferecia, em
seu curso secundário, todas as matérias exigidas para a matrícula nas
faculdades do Império, além de Escrituração Mercantil teórica
e prática (GAZETA DE UBERABA, 16/04/1890). A proposta pedagógica do Colégio Uberabense,
onde transparece a influência dos ideais positivistas e conservadores, foi
assim exposta em um periódico local:
Tendo
por objectivo preparar devidamente o alumno para a grande lucta pela vida, e
d’ella sahir com honra e dignidade, infundindo-lhe o amor que deve á Patria, á
Família e a Deus, isto quanto a parte moral, e preparal-o para submetter-se aos
exames de preparatorios necessarios para matricularem-se nos cursos superiores
(GAZETA DE UBERABA, 10/10/1889, p. 3)
Inicialmente,
o colégio funcionou no prédio localizado na Rua do Imperador (atual rua Governador
Valadares), que havia abrigado o Primeiro Liceu Uberabense (MENDONÇA,
1974). Em 13/03/1890, a escola transferiu-se para a casa da rua Municipal
(atual rua Manoel Borges), que pertencera ao barão da Ponte Alta e se
localizava em frente ao Largo da Matriz –nesse local, atualmente, existe o
prédio da loja Têxtil Abril. Na visão da imprensa da época, “O prédio é
bem situado, está reformado e possue vastas acommodações bem arejadas, grande quintal,
etc.” (GAZETA DE UBERABA, 17/03/1890, p. 1).
Paulo
Barthes permaneceu na direção da escola por cerca de dois anos e teve como
companheiros os professores
Joaquim Dias Soares84, Alexandre de Souza Barbosa, Manoel Filipe de Souza,
Ilídio Salatiel dos Santos, Frei Vicente de la Coste, João Frederico Gaede, Henrique
Blackeyse, José de Albuquerque, Antônio Eusébio, José Soares Junior e Gustavo Lutz
(MENDONÇA, 1974). Além desses, atuou na escola, em sua fase inicial, o
professor Atanásio Ferreira Saltão (GAZETA DE UBERABA, 20/07/1889).
II
No
final do século XIX, persistindo a velha tendência, muitas escolas particulares
de curta duração foram criadas em Uberaba, dentre os quais destacamos o Colégio
Progresso Brasileiro, inicialmente fundado em Bagagem pelos professores Theophilo
Barbosa e Atanásio Saltão, e posteriormente transferido para Uberaba, quando
ficou sob a direção do primeiro professor. Um anúncio publicitário feito no
jornal Tribuna do Povo (05/02/1894) informava que o currículo da escola incluía
o Curso Inicial (Leitura, Caligrafia, Cálculo Mental,
Elementos de Desenho e Declamação), Curso Elementar Primário (Português,
Francês, Inglês, Espanhol, Geografia, História do Brasil, Aritmética, Desenho e
Declamação) e Curso Primário Superior (Português, Francês, Inglês,
Latim, Italiano, Geografia, História do Brasil, Elementos de Geometria,
Aritmética, Desenho, Declamação, Alemão, História Universal e Álgebra).
III
Segundo
Mendonça (1974), no ano de 1899, foi criada uma nova escola para meninas, o Colégio
Maria Isabel, fundado pelo Sr. Antônio Joaquim Pinto da Fonseca e dirigido por
sua filha, D. Maria Isabel Coutinho da Fonseca. A imprensa local assim noticiou
a chegada dos fundadores da escola a Uberaba:
Acabam
de chegar a esta cidade o sr. Antonio Joaquim Pinto da Fonseca e sua dilecta
filha a exma. Sra. D. Maria Isabel Coutinho da Fonseca, cunhada e sogro do sr.
Alberto de Moraes Castro, tabellião substituto do 2º officio deste foro. A exma
sra. d. Maria Isabel, que dirigiu em Tres Pontas um excelente collegio,
pretende fundar aqui um outro para meninas e, segundo somos informados, tem os
mais sobejos requisitos para o espinhoso ministério a que se dedica. O seu
velho pai foi professor da Escola Normal daquella cidade e dirigiu alguns
collegios em Juiz de Fora e Rio de Janeiro, com muita aptidão (GAZETA DE
UBERABA, 14/05/1899, p. 1)
A
escola, que possuía os ensinos primário e secundário, tinha como professores Antonio
Joaquim P. Fonseca, Joaquim Dias Soares, Atanásio Saltão, D. Maria Isabel C. Fonseca,
Maria Ameno Ribeiro e Joaquina Gomes, e funcionou por apenas seis anos. Ficava no
Largo da Matriz, esquina da rua São Sebastião, no local onde posteriormente foi
erguida residência do Cel. João Caetano Borges (TOTI, 1956). O colégio foi
fechado no início de 1906, com a mudança dos proprietários para a cidade de
Águas de São Lourenço (LAVOURA E COMÉRCIO, 11/01/1906, p. 3).
IV
A
primeira Escola Normal oficial de Uberaba terminava, então, a sua existência, depois
de quase 23 anos de funcionamento contínuo, sendo seus arquivos enviados para o
governo estadual, estando parte deles, ainda hoje, preservados no Arquivo
Público Mineiro. Durante esses anos, a instituição teve diversos diretores
(Apêndice 3) e um grande corpo docente (Apêndice 4). Pelas listas de docentes e
de diretores da 1ª Escola Normal de Uberaba, percebe-se que ela atraiu para a
cidade, provenientes de outros pontos do Brasil e mesmo do exterior,
professores de alto nível como Alexandre Barbosa, Arthur Lobo, Atanásio Saltão,
José Artiaga, Georges de Chirée, Alberto Parton e Paulo Barthes, intelectuais
que tiveram destacada atuação cultural e política na cidade, numa época em que
Uberaba carecia desse material humano. Desses personagens, destacamos Alexandre
Barbosa, professor em diversas instituições de ensino, político, pesquisador,
militante sindical, etc.
V
Em
1919, o professor Francisco de Mello Franco fundou o Colégio
São Sebastião, escola que, em janeiro de 1923, foi adquirida por Hildebrando
Pontes e sua esposa, Salvina Barra Pontes, proprietários do Externato
Santa Filomena. As duas escolas foram fundidas, dando origem ao Colégio
Santa Filomena. Faziam parte do corpo docente do novo colégio os diretores
(Hildebrando e Salvina), suas duas filhas normalistas (Rosita e Odette),
Athanásio Saltão (ex-professor da Escola Normal) e frei Reginaldo Tournier.
Um
jornal local descreve o Colégio Santa Filomena:
O
collegio está installado em logar aprasivel, na collina do Fabrício, em enorme
prédio de estylo colonial, com capacidade para duzentos alumnos, 50% dos quaes
poderão ser de internos, isto é, 66 meninos e 34 meninas e mais as pessoas do
director, sua família e creados. Para a recreação dos alumnos há amplos pateos,
cujo declive de 4 a 5% permite a prompta escoação das águas pluviaes, e,
dest’arte, o desapparecimento rápido da humidade. Para as meninas há,
inteiramente separada dos meninos, uma área egualmente vasta, ensombrada por bello
pomar. O serviço de hygiene é rigoroso. [...] São cuidados rigorosamente a
educação cívica, moral e religiosa, o ensino de portuguez e de francez (a cargo
do proficientíssimo prof. Athanasio Saltão), a educação do caracter e da
vontade (pelo estimulo que sábia e carinhosamente o impõem o dr. Hildebrando
Pontes e sua senhora, dois vivos exemplos nesse sentido), a cultura physica,
não só pela gymnastica sueca como pelos sports, numa dosagem sábia e methodica. Os dois
sexos nesse excellente Collegio recebem instrucção primaria e scundaria, a
primeira de accôrdo com o programma official dos grupos escolares, e a ultima
amoldada ás escolas normaes do Estado (LAVOURA E COMÉRCIO, 03/01/1924, p. 2).
VI
VII
4
Em fonte
incerta:
Assim,
no Grupo Escolar de Uberaba (apesar de não haver referências, nos jornais, de
que houvera suspensão das aulas por epidemia da cidade), o ano letivo de 1918,
só terminaria em 1919. Datado de 08 de janeiro, ocorre publicação do convite do
diretor interino, para que os pais levassem seus filhos para os exames, na data
definida na lei. E há também uma rápida nota: “A fim de assumir a direção do
Grupo Escolar local, chegou ontem à cidade o nosso prezado e ilustre
colaborador, Atanásio Saltão, proficiente educador e brilhante jornalista”
(LAVOURA E COMMÉRCIO, ed.2149, 09/01/1919, p.5).
Veja a íntegra do texto, que localizamos no
site do jornal. Conheça no site: http://www.codiub.com.br/lavouraecomercio/pages/edicoes.xhtml
5
Em
“A Tribuna da Imprensa”, de Carlos Lacerda, em 8 de março de 1951, no célebre
“Muzambinho: o martírio de uma cidade”:
SAUDADES DE MUZAMBINHO
Venho lendo com saudade e emoção
suas crônicas sobre Muzambinho, a graciosa cidade mineira do Liceu Municipal de
Muzambinho, o velho estabelecimento fundado por Salathiel Ramos de Almeida, o
saudosíssimo e queridíssimo Beca.
Tudo verdade, tudo certo. Reuniu, no
começo do século, Salathiel, esse educador extraordinário, uma verdadeira
plêiade de mestres: Carlos Góes, Júliio Bueno, G. A. Nixon, Max Heine, Mário
Duarte, Vilhena de Moraes, Atanásio Saltão, João Baptista (que me ensinou o
b-a-ba) Ernani Domingos, Lycurgo Leite, Fernando Corrêa, J. Tocqueville e
muitos e muitos outros cujos nomes agora não me ocorrem.
Ficamos
em dúvida: teria Athanázio Saltão lecionado no Lyceu do Prof. Salathiel de
Almeida ou é um equívoco?
6
O
Centro de Referência Virtual do Professor, em 27 de outubro de 2009, publicou
um histórico da EE Brasil, de Uberaba – MG.
Os primeiros professores ‐ O Grupo
iniciou seu funcionamento com oito professores regentes: Arlindo Costa, João
Augusto Chaves, Bertholina dos Santos, Francisco de Mello Franco, Alcina Maria
Coutinho, Maria Julieta Campos, Maria Carmilieta Campos e Marcilieta Campos.
Havia ainda: Arnold Magalhães, homem de muitas habilidades, professor do Ensino
Técnico. Inúmeros outros professores vieram depois. O primeiro diretor foi o
inspetor regional Ernesto de Melo Brandão. Em 1910, a direção efetiva passou às
mãos de Francisco de Melo Franco que dirigiu a instituição até 1918. Os outros
diretores a seguir foram: Athanásio Saltão, Eurico Silva, Fernando Vaz de Melo,
Corina de Oliveira, Hilda N. Martins, Therezinha P. Valle, Norma Moisés, Nilda
G. Abdala Miguel, Fernanda A. S. Santos, Maria Helena Angotti, Edna Márquez
Luz.
7
No LIVRO DE MATRÍCULA DO COLÉGIO CARAÇA, em setembro
30, 1876, numero 974, Athanasio Ferreira Lins Saltão (18), do município de –
Bagagem, disponível no site do Colégio Caraça.
8
O Almanak Administrativo, Mercantil
e Industrial do Rio de Janeiro, um dos mais importantes do país, conhecido como
Almanaque Lemmert, publicou o nome de Saltão, várias vezes.
Em 1916, como Diretor do Collégio
Renascença, em Araguary, tendo como professores, D. Argimira Rizzo, Miguel
Rizzo e Theodulo Eurich.
Em 1924, o mesmo almanaque o
descreve como diretor do Grupo Cesário Coimbra em Muzambinho, porém, sabemos de
fonte primária, que em junho de 1916 ele deixou Muzambinho passando a direção
para Francisco Jacy de Assis. A mesma informação constava dos mesmos almanaques
em 1919 e 1921.
Aqui temos
os prováveis primeiros professores do Grupo Escolar Cesário Coimbra: D. Camilla
Cecília Coimbra, Deolinda de Oliveira Poli, Elvina de Magalhães Prado, Julieta
Duarte Pereira Ventura, Júlio Bueno, Lucrécia Bressane, Maria Antonieta Pereira
Lopes, Maria Cordélia Coimbra, Maria Itália Cordélia, Maria Pereira da Silva e
Pedro Claudino dos Santos, provavelmente sendo esses os professores que
aparecem na foto do Fom Fom (verifique!).
Na época era
inspetor escolar (não confunda com inspetor de aluno), Dr. João de Abreu e
Silva (seria José de Abreu e Silva, o promotor morto em legítima defesa por
Gustavo Avelino Correia em 1919?). O porteiro era Polycarpo Luz e servente
Adelaide C. da Silva.
O texto
ainda apresenta os diretores Salathiel de Almeida do Liceu Municipal, a
diretora do Colégio de N. S. da Conceição (primário feminino anexo ao Lyceu),
como D. Olympia Pereira da Silva, e, diretores da Escola Normal, Dr. Salathiel
de Almeida e sua esposa Dr. Lila de Almeida.
Também lista
professores de escolas isoladas: Hemetria Maria de Jesus e Rosa Ricardina e
Lima. E também Escolas Municipais com professores Uriel Tavares de Souza
Magalhães, Urias Cornélio de Araújo, Philadelpho Pereira Cardozo, Rita Albanina
da Silva, Israel Antonio Silvestre, Carlos Augusto de Souza, João Baptista
Baldini.
8
ISOBE (2011)[1] apresenta três
trechos que falta de Saltão e um que fala de Amanda de Rezende Carvalho.
Notamos, também conferindo o Almanaque Lemmert que Amanda e Saltão moraram NA MESMA ÉPOCA em Araguary.
Numa carta anterior a 1915, ou seja,
antes da abertura do Grupo Escolar Cesário Coimbra, Amanda de Rezende Carvalho
diz que já havia dirigido uma escola em Muzambinho. Sabemos que ela faleceu nos
anos 30 em Muzambinho, diretora do Grupo Escolar Cesário Coimbra. Em 1914 tanto
Amanda quanto Athanázio lecionavam em ARaguary. A nossa hipótese, quase certa,
foi que Amanda trouxe Athanázio para Muzambinho ou lhe indicou para nomeação.
Amanda volta para Muzambinho após 1919, não tendo convivido com Athanázio por
aqui.
Curioso que nenhum biógrafo ou
artigo científico conta que Athanázio lecionou em Muzambinho. Há várias
referências dele ter trabalhado em escolas do Triângulo Mineiro: Uberaba,
Estrela do Sul, Araguari, e inspeção em Araxá, Frutal e região. Fora do
Triângulo, apenas em Muzambinho, não constante em nenhuma de suas biografias!
E, ele lecionou em Araguari, onde deve ter ficado apenas dois anos, trabalhando
com uma professora de Muzambinho!!!
O primeiro trecho é:
A
estreita relação entre as famílias e a escola singular pode ser observada
também na existência de certa cumplicidade entre os professores, alunos e pais.
Note-se, por exemplo, o episódio da professora Francisca da Costa Souza,
regente da escola isolada de Conquista. A docente recebeu um ofício de
admoestação da Secretaria do Interior em razão das acusações do inspetor
técnico Athanásio Saltão sobre o não cumprimento do programa pela professora no
que se refere ensino de trabalhos manuais e canto. A professroa respondeu,
então, o ofício, dizendo serem falsas as denúncias do inspetor e assevera:
“Posso provar com todos os pais d emeus alunos e demais habitantes desta
localidade que, desde a instalação da minha escola até esta data, nem um só dia
deixei de ministrar o ensino como exige o programa em vigor, inclusive o canto
e trabalhos manuais” [101]. Observa-se que a professora contava com o apoio dos
pais de seus alunos para defendê-la das acusações do inspetor. [...]
[101] MINAS GERAIS, Secretaria do Interior. Correspondências 19 de Abril de 1908.
Códice 3262.
O segundo trecho fala sobre o o folclórico professor em
Uberlândia (então distrito de Uberabinha), onde o professor Sebastião Vieira
Albernaz, de boa fé, mas, péssimo professor, chamado por Honório Guimarães e no
anedotário popular como “filósofo”. Cita que Athanázio Saltão o chamou também
de filósofo em um relatório oficial.
O terceiro trecho fala: “O Agente Executivo de Araguari também pede a nomeação de Athanásio
Saltão para diretor do grupo escolar e assegura que não é por “partidarismo
político” mas “pela competência e simpatia que ele goza nesta cidade””.
Isto consta de Correspondências da Secretaria do Interior de Araguari, 6 de
outubro de 1917, sob códice 3647.
Sobre Amanda de Carvalho, diretora do Grupo Escolar
Cesário Coimbra na época de sua morte nos anos 30, há o texto que se refere de
quanto ela trabalhava em Araguari (fato confirmado pelo Almanaque Lemmert). Ao
ler o texto de Isobe, fique atendo a saber que na época o único curso de
formação de professores era os ministrados em Escola Normal, geralmente logo
após o primário, sem que os formandos frequentassem o ensino secundário – iam
direto das escolas de primeiras letras ao curso de formação de magistério.
Ainda assim, haviam muitos professores leigos, não formados. Eis o trecho:
Em várias situações, o secretário do Interior
solicitava informações a respeito dos professores indicados observando-se as
notas que ficavam arquivadas na secretaria [22]. Outras vezes, indagava se o
professor era normalista. Ao que parece, havia uma preocupação em não tornar
totalmente explícita a lógica de noemações e não descartar inteiramente os
critérios determinados pelo regulamento que dava preferência ao professor
normalista e àqueles que eram avaliados como “bons” docentes pelos inspetores
técnicos. No entando, nota-se que a prática cotidiana se distancia da prática
discursiva e muitos professores não-normalistas eram nomeados. No grupo escoalr
de Araguari, por exemplo, em 1909, não tinha nenhum professor normalista em seu
quadro do magistério [23]. Por outro lado, nem sempre os professores
normalistas conseguiam efetividade no cargo. A respeito dessa questão, deve-se
sublinhar o caso da docente Amanda de Rezende Carvalho, normalista, nomeada
para professora interina do grupo escolar de Araguari em 1914. Quatro anos
depois, a professora enviou um ofício ao Secretário do Interior, sem mediadores, requerendo efetividade
naquele cargo e obteve resposta de que não seria atendida por faltarem
“predicados indispensáveis a uma boa professora”. A professora retorquiu:
Permita-me V. Excia, e sem nenhuma desconsideração,
ligeiro reparo aos ternos daquele ofício e que consiste em pedir a preciosa
atenção de V. Excia para o fato de eu ser Normalista diplomada por escola
oficial de Minas Gerais e constar com 17 anos de magistério, sendo oito em S.
Paulo e nove em Minas. O título de nomeação para o professorado público em S.
Paulo, obtive em concurso perante banca examinadora constituída pelo govenro.
Se isso não bastar, poderei referir que dirigi o internato feminino a Escola
Normal de Muzambinho, onde lecionei durante alguns anos quando era Presidente
de Minas o inesquecível defensor e propugnador da instrução – Dr. João
Pinheiro, tendo ao seu lado como Secretário do Interior, o digno mineiro
Carvalho Brito. Orgulho-me da maneira por que exerci o professorado e fácil
será V. Ecia conhecer esse meu modo de proceder, como zelosa e mui zelosa dos
meus deveres, pesando bastante a competência técnica e moral para o exato
cumprimento de minha nobre missão. [...] As razões apresentadas levam-se a
insistir perante V. Excia pela minha efetividade com o que V Excia praticar um
ato e inteira justiça [24].
À
vista de tal ofício, o Secretário do Interior solicitou que os inspetor
técnicos oferecessem informações a respetio da professora. O funcionário
Turiano Pereira informa que os inspetores Alceu de Souza Novares e Alberto
Costa Matos tinham a mesma opinião: “D. Amanda é muito estudiosa, tem aptidão
didática e uma dedicação pouco comum no magistério, porém, seu preparo
profissional é medíocore”. O Diretor da Secretaria opina: “O bom preparo do
professor deve ser condição essencial para sua efetividae. Sou, pois pelo
adiamanto da concessão solicitada até que a requerente adquira melhor preparo”.
E o Secretário ratifica: “De acordo”.
[22] Conforme mencionado no capítulo 2, os inspetors
técnicos foram incumbidos de avaliar os professores que atuavam nas escolas
estaduais, municipais e particulares cujas “notas” ficavam arquivadas na
Secretaria do Interior.
[23] Cf. MINAS GERAIS. Secretaria do Interior. Correspondências. 30 de abril de 1909.
códice 3300.
[24] MINAS GERAIS. Secretaria do Interior. Correspondências. 30 de março de 1918.
códice 3243.
Talvez
esse indeferimento foi o motivo da vinda de Amanda para Muzambinho, onde foi
por longo tempo, em gestões alternadas, diretora do Grupo Escolar Cesário
Coimbra.
O
Presidente João Pinheiro da Silva teve gestão entre 1906 e 1908. Ele também
presidiu o estado em 1890, porém, não é possível que Amanda tenha lecionado
naquela época em Muzambinho, e, além disso, não era Secretario de Interior
Carvalho Brito naquela época.
Provavelmente
Amanda atuou no Externato do Lyceu, provavelmente, na Escola Normal. Mas isso
não tem qualquer documentação que indique ser verdadeiro. Note que o Grupo
Escolar Cesário Coimbra foi criado em 1909, e inaugurado em 1915, portanto,
impossível que Amanda tenha lecionado nesse Grupo Escolar em Muzambinho antes
de lecionar no Grupo Escolar de Araguary, onde a mesma atuou pelo menos de 1914
a 1918.
9
O
Diário Oficial da União, de 17 de setembro de 1898, Página 2, Seção 1, apresenta o 46º batalhão da reserva, cujo
capitão da companhia era Pedro José da Silva Dirceu. Athanázio Saltão seria
tenente. Nada os biógrafos falam sobre isso.
10
O jornal “A República”, de Curitiba, 13 de dezembro
de 1902, publicou o seguinte artigo:
Esse
texto consta o nome de sua esposa como Maria Luiza de Almeida. Já vimos a mesma
com o nome de Mariana Paes de Almeida. Esta teria sido operada em 1899, no dia
21 de dezembro, pelo cirurgião Dr. João Teixeira, na operação de retirada de
bócio, thyroidectomia.
11
Gonçalves (2004)[2]
cita a existência de 40 circunscrições literárias (uma espécie de delegacias de
ensino no passado) em 1909.
Saltão nesse ano foi
inspetor no 1º Semestre da 27ª circunscrição literária, com cidades de Araxá,
Carmo do Parnaíba, Patrocínio e Sacramento. No 2º semestre assumiu a
circunscrição Antônio Loureiro Gomes.
No 2º Semestre foi
inspetor técnico na 28ª circunscrição literária, constando as cidades de
Frutal, Monte Alegre, Prata e Vila Platina, substituindo Miltino Pinto e
Carvalho.
Naquele ano, Muzambinho
seria parte da 24ª Circunscrição Literária, com municípios de Cabo Verde,
Jacuí, Guaranésia, Monte Santo, Muzambinho e Vila Nova de Rezende, sendo
inspetores no 1º Semestre, Ernesto Carneiro Santiago e no 2º Semestre,
Francisco José da Paixão. Em todas circunscrições houve troca de inspetores no
meio do ano.
12
Moraes
(2007)[3],
a Tabela 5 mostra “Colaboradores de destaque na publicação: breves comentários”,
citando Athanásio Saltão, que publicava crônicas e também contribuía em outro
periódico: Careta, Paiz e Malho
13
O
site My Heritage, apresenta o nome Athanásio Saltão, filho de Joaquim Luiz
Saltão e Antônia Ferreira Lima Saltão, casado com Mariana Paes de Almeida (ou
Maria Luiza de Almeida). Filhos, Carmem de Almeida Saltão (1890-1974), Mariana
Saltão Freitas Souza (1906-1940), Antônio de Almeida Saltão, Luiza Almeida
Saltão, Zélia Saltão Hungfer, Athanásio Almeida Saltão e mais a 3ª filha, com
sobrenome Martins de Barros. Carmem nasceu em 26 de maio de 1890 e faleceu em
17 de outubro de 1974 em São Paulo – SP. Mariana nasceu em 10 de março de 1906
e morreu em 27 de novembro de 1940, casada com José Freitas Souza teve 8
filhos, no máximo 2 estão vivos.
14
Há
um processo 0804469-92.2013.8.12.0001 de
inventário de partilha que reflete um personagem muitas vezes comum na
Internet, inclusive com vídeo no Youtube, com nome Athanasio Saltão, que teria
inventariante Fernando Saltão. Não sabemos qual a relação do mesmo com o
personagem por nós biografado. No Mato Grosso do Sul.
15
Artigo em Lavoura e Comércio:
Não
vasculhamos as edições disponíveis na Internet (mais de 10 mil edições
disponíveis) no site http://www.codiub.com.br/lavouraecomercio/pages/edicoes.xhtml.
LIVRO DO
PROF. GUIDO BRILHARINO
Enviei
e-mail para o autor livro recém publicado do Dr. Guido Brilharinho, “Personalidades Uberabenses”, onde o
Prof. Saltão foi biografdo. Muitíssimo atencioso, ele enviou rapidamente uma
obra para a EE Cesário Coimbra, que atualmente faz 100 anos de que Athanázio
foi dirigente:
Descrevemos o texto na íntegra:
Estrela do Sul, Bélgica e
Rio de Janeiro
Guido Bilharinho
Magistério e
Jornalismo
Estrela do
Sul, Bélgica e Rio de Janeiro
Segundo Quintiliano Jardim (em
artigo inicialmente publicado na Revista
de Uberaba nº 12, março de 1905, reproduzido em Convergência, Ano III, nº 4/5, 1973, e, posteriormente, na seção
“História e Cultura”, de Lavoura e
Comércio, de 14, 15 e 16 de setembro de 2000), Atanásio Saltão nasceu na
cidade de Cachoeira/MG, em 1859. Mudou-se depois com a família para a cidade de
Bagagem, hoje Estrela do Sul, na região do Triângulo. Após as primeiras letras
foi estudar no colégio Caraça, onde fez o curso de humanidades por cinco anos.
Em
Ouro Preto prestou exames para se matricular na faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro. Seu pai, no entanto, o encaminhou para estudar na Bélgica, onde
escolheu o curso de engenharia, em Louvain, por ser de quatro anos enquanto o
de medicina era em seis. Ao saber disso quase dois anos depois, seu pai
discordou de sua atitude e o obriou a seguir medicina, isto após já ter feito
dois anos de engenharia.
Contudo,
por ter deixado a Universidade Católica de Louvain e optado pela Universidade
Livre de Bruxelas para cursar medicina, o jesuíta brasileiro padre Gama
escreveu a seu genitor longa carta em que o descreveu, conforme Quintiliano, do
modo mais desairoso possível. Face a isso, foi-lhe determinado voltar ao
Brasil, tendo suspensa sua mesada, de nada adiantando inúmeros atestados e
declarações a seu favor de professores e de autoridades brasileiras residentes
no país.
De
volta ao Brasil com passagem paga pelo embaixador brasileiro na Bélgica,
Atanásio estabeleceu-se no Rio de Janeiro, onde conseguiu emprego em escritório
comercial.
Nessa
cidade relacionou-se com diversos intelectuais, entre os quais Valentim
Magalhães, Filinto de Almeida, Olavo Bilac, Guimarães Passos, Joaquim Serra e
outros, passando a colaborar assiduamente no jornal O País, então dirigido por Serra, com artigos políticos, crônicas e
poesias.
Depois
de dois anos, por insistência de amigos de seu pai, voltou à Bagagem, onde foi
por ele bem recebido, indo trabalhar em sua firma comercial.
Todavia,
como registrou Quintiliano, não cessaram aí os infortúnios de Saltão,
ocasionados, todos, pelos exacerbado patriacarlismo e rigidez mental paternos,
matrizes de sua incompreensão e imposição.
Quanto
seu pai se ausentou de Estrela do Sul, permanecendo por uns seis meses no Rio,
Atanásio resolveu fundar um jornal, que intitulou O Palácio. Ao tomar conhecimento do fato, seu genitor escreveu-lhe
ordenando suspender a publicação. Diante de mais essa violência, Atanásio não
quis continuar em sua companhia, e, depois de sua volta, retornou ao Rio, onde
permaneceu até 1888, ano em que seu pai faleceu, o que motivou sua
transferência para Estrela do Sul, onde se casou.
Posteriormente
veio para Uberaba, onde montou estabelecimento comercial que, não prosperando,
obrigou-o a retornar à sua cidade para, como afirmou Quintiliano, “dispor do stok”, recebendo nessa
ocasião convite para lecionar e dirigir escola fundada pela municipalidade, sendo
também nomeado inspetor escolar. Algum tempo depois fundou, com outro
professor, o colégio Progresso.
Vinda em
Definitivo para Uberaba
Porém,
o destino de Atanásio foi Uberaba, para onde, a convite, retornou,
desenvolvendo na cidade, com brilhantismo, atividade nas áreas educacional,
política, literária e jornalística.
Magistério
Convidado pelo professor Antônio
Pereira de Artiaga, então diretor da Escola Normal de Uberaba – criada pela lei
estadual nº 2.783, de 22 de setembro de 1881, de iniciativa o senador Pena e
instalada em julho do ano seguinte – para concorrer à vaga do professor de
português, Atanásio foi aprovado e nomeado, assumindo também o cargo de
inspetor escolar. Alguns anos depois, ao mesmo tempo em que regia a cadeira de francês,
dirigia a Escola Normal, que teve como primeiros diretores, sucessivamente,
conforme José Mendonça (História de
Uberaba, p. 109), Joaquim José de Oliveira Pena (senador Pena), Antônio
Borges Sampaio, Ilídio Salatiel dos Santos, Joaquim Antônio Rosa do Nascimento
Júnior, Gabriel Orlando Teixeira Junqueira, Ilídio Salatiel Guaritá, Antônio
Pereira de Artiaga, Alexandre de Souza Barbosa, Militino Pinto de Carvalho,
Antônio Mamede de Oliveira Coutinho e Atanásio Saltão.
Ministrou,
ainda, a cadeira de francês no colégio Uberabense, fundado, em 1889, consoante
José Mendonça (p. 104 e 230), pelo professor Paulo Frederico Barthes e de cujo
corpo docente fizeram parte alguns dos mais conceituados professores
uberabenses como Joaquim Dias Soares, Manuel Filipe de Sousa, Alexandre
Barbosa, Ilídio Salatiel dos Santos, frei Vicente de la Coste e Gustavo Lutz,
funcionando, inicialmente, na rua do Imperador (atual Governador Valladares) e,
posteriormente, no local onde hoje se localiza o colégio Marista.
Segundo
ainda José Mendonça (p. 108), Atanásio Saltão, lecionou também no colégio Maria
Isabel, fundado em 1899 e extinto em 1905, onde exerceram o magistério, entre
outros, os professores Joaquim Dias Soares e Joaquim Antônio Pinto da Fonseca,
este seu fundador. Foi ainda diretor do grupo escolar Brasil, atual escola
estadual Brasil (1º grau).
No
exercício do magistério, Atanásio Saltão destacou-se como um dos melhores, mais
cultos e competentes professores de seu tempo por força de estudo e dedicação
constante à cultura e às letras.
Política
Atanásio
Saltão, como republicano, participou em Uberaba das providências que se
seguiram à proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, registrou
Hildebrando Pontes (História de Uberaba,
p. 131), sendo um os signatários – juntamente com Alexandre Barbosa, Venceslau
Pereira de Oliveira, Ilídio Salatiel Guaritá, Joaquim José de Oliveira Pena
(senador Pena), José Augusto de Paiva Teixeira (Casusa), Tobias Rosa e outros –
da proclamação feita aos uberabenses no dia 11 de junho de 1890 para criação de
“um partido político que servisse de
apoio à ação oficial e de porta-voz dos grandes interesses regionais”,
partido efetivamente fundado no dia 13, sob a presidência de honra de Venceslau
Pereira de Oliveira e presidência de Gabriel Orlando Teixeira Junqueira e
comissão executiva presidida pelo senador Pena e secretariada por José Augusto
de Paiva Teixeira, tendo como vice-presidente Alexandre Barbosa.
Em
1894, afirmou ainda Hidelbrando (p. 133), Atanásio filiou-se ao então “partido
situacionista” com, entre outros, João Quintino Teixeira, Manuel Borges,
Antônio Pereira de Artiaga, Desidério Ferreira de Melo, Antônio Garcia Adjuto e
Artur Lobo, que, este, algum tempo depois assassinaria Artiaga, diretor da
Escola Normal, num dos crimes de maior repercussão no Brasil Central à época e
que teve a defende-lo o advogado criminalista paulistano Alfredo Pajol, autor
do livro, que o celebrizou , Machado de
Assis, de 1917, um dos primeiros publicados no país sobre o grande
romancista.
Literatura
Além
de articulista, cronista, muitas vezes mordaz e satírico, Atanásio foi poeta,
como assinalou Quintiliano Jardim, que, inclusive, transcreveu, em seu ensaio
biográfico, além do fragmento de um de seus poemas parnasianos, o soneto
“Cismando”, “escrito às pressas para um
certo álbum”.
José
Mendonça, ao descrever o carnaval em Uberaba em suas diversas fases e
manifestações (p. 133), informou que as músicas tinham versos de Atanásio
Saltão e de outros escritores uberabenses da época, como Artur Lobo, Desidério
Ferreira de Melo, Antônio Cesário da Silva e Oliveira Júnior (também compositor
na juventude), João Caetano de Souza e Silva, José Augusto Avelino (autor de
diversos livros, sendo os mais conhecidos Memórias
de João Barriga, Téia de Penélope e Escritos de Um Impressionista), Artur
Costa, Gaspar de Silva (futuro visconde de São Boaventura, em Portugal), Egídio
de Sousa Andrade e Moisés Santana.
Jornalismo
Atanásio Saltão atuou
intensamente na imprensa de Uberaba.
Além
de colaborar na Gazeta de Uberaba,
integrou o corpo redatorial do jornal Cidade
de Uberaba, órgãos hebdomadário do partido Republicano Constitucional,
fundado de acordo com Hidelbrando Pontes
(A Imprensa de Uberaba, em 1895, com
tiragem de 2.400 (dois mil e quatrocentos exemplares, durando 18 (dezoito)
meses. Nesse jornal participaram como colaboradores os principais republicanos
uberabenses, a exemplo do dr. José Ferreira, Desidério Ferreira de Melo, Artur
Lobo, Antônio Cesário da Silva e Oliveira Júnior (major Cesário), Venceslau
Pereira de Oliveira e ainda Alexandre Cunha Campos, João Quintino Teixeira,
Aurélio de Araújo Vaz de Melo e um monarquista histórico como Antônio Borges
Sampaio.
Durante
alguns anos fez parte também da redação da Lavoura
e Comércio, onde, juntamente com artigo e crônicas, redigiu, ainda segundo
José Mendonça (p. 231), a seção humorística intitulada ora “Musa Alegre”,
assinada por Jean Qui Ri, ora “Musa Triste”, por Jean Qui Pleure, de conformidade
com a natureza do tema enfocado.
Na
Revista de Uberaba, dirigida por
Felício Buarque, escreveu a “Crônica Mensal”, sob o pseudônimo de “Atas”
(“Athas”, como se grafava ao tempo), onde focalizou assuntos e acontecimentos
da cidade em nível redacional e conteudístico que transcendeu em muito os
limites provincianos (aliás, ocorrentes em qualquer parte, porque, como disse
alguém, “provincianismo não é um lugar
geográfico, mas, um estado de espírito”).
O
valor dessas crônicas e pertinência e alcance dos comentários que enfeixaram,
fizeram que fossem, mais de quarenta anos depois (com duas guerras mundiais e o
Movimento de 1930 de entremeio), republicadas num periódico da importância e da
atualidade da revista Graça e Beleza, dirigida na década de 1940 e incisos dos
anos 50 por Nicanor de Sousa Júnior e redatoriada sucessivamente por Vitor de
Carvalho Ramos e Iná de Sousa.
As Crônicas
Mensais
Os
assuntos enfocados por Atanásio Saltão em sua “Crônica Mensal” publicada na Revista de Uberaba constituíram alguns dos principais
acontecimentos ocorridos na cidade nos meses a que se referem.
No
nº 02 da revista, atinente a abril
de 1904, Saltão iniciou sua colaboração permanente, comentando a inauguração do
gabinete de leitura do grêmio literário Bernardo Guimarães, a equiparação do
colégio do Sagrado Coração de Jesus ao então ginásio Nacional (denominado
anterior e posteriormente colégio Pedro II), e a visita a Uberaba de Venceslau
Brás, na ocasião líder da bancada mineira no Congresso Nacional e futuro vice-presidente
da República no governo do marechal Hermes da Fonseca (novembro/1910 a
novembro/1914) e presidente da República (quatriênio novembro/1914 a
novembro/1918), a quem foi oferecido banquete por Artur Machado, que foi seu
condiscípulo e amigo desde a juventude.
No
nº 03, de maio, tratou da
organização de novo diretório político, de corrida de cavalos no prado de São
Benedito, da apresentação na cidade de vaudevilles e operetas pela
atriz/cantora Candelária Couto e, ainda, tanto da falta quanto da fraca
comemoração, respectivamente, dos dias 1º e 13 de maio.
No
nº 04,
de junho, além de aduzir, já àquela época que “esta terra é a terra das festas”, aludiu à abertura do Congresso
Mineiro, às acres discussões sobre espiritismo e romanismo nos jornais Lavoura e Comércio, Gazeta de Uberaba e Correio Católico, à “desunião” da banda
de música União Uberabense com a criação de outra banda, fato que considerou
positivo, visto que a partir daí Uberaba teria duas e não apenas uma banda,
desunião que afirma decorrente da divisão política da cidade entre Araras e
Pacholas e que também atingiu os músicos, referindo-se ainda à passagem por
Uberaba de três andarilhos que se dirigiam à cidade de São Luís, nos Estados
Unidos, bem como à proibição de jogos de azar pelo delegado de polícia.
Em
julho, no nº 05, comentou inesperada
e torrencial chuva, arrombamento de sua casa comercial, três corridas de
cavalos no prado de São Benedito, pendência entre o agente executivo e a Câmara
Municipal e o excesso de pó na cidade.
Em
agosto, no nº 06, registrou o fato
da troupe de Candelária ter aqui
ficado três meses, a festa da Abadia e uma fraca corrida de cavalos no prado.
Já
nº 07, de setembro, sua crônica
abrangeu vários acontecimentos, como concerto musical do maestro Bourdot,
sessão literária do grêmio literário Bernardo Guimarães comemorativa do 07 de
Setembro, oferta do pintor e escultor Joaquim Gasparino ao citado grêmio de
quadro retratando seu patrono, chegadas e recepções a D. Eduardo, vindo da
Europa, e de João Quintino Teixeira, oriundo de Belo Horizonte, onde exercia
mandato parlamentar, surgimento do jornal O
Município, dos Pacholas, carta de monsenhor Inácio Xaviera da Silva a
respeito de seus comentários sobre a festa da Abadia e, finalmente, a
apresentação no teatro São Luís da atriz Judite Rodrigues e do autor Narciso
Costa, ambos de Portugal.
Em
outubro, no nº 08, focalizou também série variada de temas, desde a inauguração
da Igreja São Domingos, passando pela eleição municipal descambada para ataques
pessoais, pela apresentação no teatro São Luís da peça política Homem Arara e Mulher Pachola, cujo autor
apenas designou por Machado, pelos espetáculos dos mencionados artistas
portugueses, até o aparecimento do Almanaque
Uberabense para 1905, observando que “o
lugar onde menos volumes se vendem é justamente esta cidade”, no que
Uberaba continuou a mesma.
No
nº 09, de novembro, referiu-se à
eleição municipal ocorrida no dia primeiro, ao dia dos mortos, afirmando que é “por convicção pela cremação dos cadáveres,
mais pela purificação pelo fogo que pelo apodrecimento subterrâneo”, além
de lhe repugnar ser o culto aos mortos indicado por almanaques e folhinhas, com
dia marcado para essa homenagem, revelando, ainda, que a data de 15 de novembro
“passou quase completamente despercebida
por aqui”, bem como registrou as sessões de encerramento do ano letivo no
ginásio Diocesano e na Escola Normal, ressaltando naquele os discursos de frei
Jacinto Lacome e de d. Eduardo.
Em
dezembro de 1904, no nº 10, por
faltar as últimas cinco páginas, não se sabe se publicada a coluna, mas, quase
certamente que sim, o que não ocorreu no nº
11, de janeiro de 1905, no qual a secção não foi publicada.
No
nº 12, de março de 1905, último
número editado, antes de iniciar a abordagem dos principais acontecimentos da
cidade no mês de maro, Saltão informou que “no
número passado” sua coluna não foi publicada por “abundância de matéria, falta de espaço”, dizendo em seguida que “quase nada houvesse de cronicável no mês de
fevereiro e no princípio deste”, o que confirma que quando escreveu que “se esse último número do ano sai um pouco
atrasado e datado do mês seguinte é porque se quis dar um mais aumentado [...]
para mais dignamente se celebrar o próximo aniversário do bebê”, referiu-se
a fevereiro como o “último mês do ano”
de edição da revista e não do ano do calendário.
Na
continuação da crônica abordou, como sempre, as principais ocorrências da
cidade, como o aniversário da revista, que não tinha o apoio (diz “amparo”) dos leitores de Uberaba,
espetáculo no teatro São Luís em benefício do grêmio literário Bernardo
Guimarães, suspensão do funcionamento das escolas normais do Estado de Minas,
entre elas a de Uberaba, “por economia”,
suicídio ocorrido no mês, loucura do professor da Escola Normal, Antônio Mamede
de Oliveira Coutinho, a quem iria suceder na direção daquela escola, quermesse
em benefício da Santa Casa de Misericórdia, reforma do jardim municipal,
divergência entre os jornais Lavoura e
Comércio e Gazeta de Uberaba a
respeito do político dr. Bulhões, e, por fim, referencias sobre o carnaval, com
seus carros alegóricos, sociedades carnavalescas, uma delas nominada “Filhos
das Trevas”, bisnagas, limões de borracha e de cera, cuias e baldes de água,
além da homenagem em carro alegórico prestada à Revista de Uberaba, à semelhança da que também seria consagrada,
quase um século depois, pela escola de samba Bambas do Fabrício às Artes em
Uberaba, destacando em carro alegórico a revista de poesia Dimensão e cujo samba-enredo, com letra e música de Adélio Leocádio
Silva, constaram, ambas, do nº 27 da citada publicação.
*
Não
se obteve informação se Atanásio Saltão deixou algum livro, publicado ou mesmo
inédito, nem também onde e quando faleceu.
Fim do Mundo
Numa de suas Musas Alegres
publicou, na edição de Lavoura e Comércio
de 21 de novembro de 1918, o poema “Fim do Mundo” em cinco estrofes sobre a
gripe espanhola que também atingiu – e fundamente – a cidade:
“Se estamos livres da guerra
Não o estamos da
espanhola
Que percorre toda terra,
Sempre a tocar
castanhola.
E vai dançando um bolero
Sem dar ouvido a
clamores,
E a morte bate o pandeiro,
E o compasso os bons
doutores.
E
o mais triste é que atrás dela,
Segundo é crença geral,
Vêm vindo o tifo, a
amarela.
E o cólera sepulcral.
Então um vivo bailado,
Todos juntos dançarão
Com a fome que, de bom
grado,
Já faz parte da função.
Parece que o fim do
mundo
Vai chegando – o que faz
medo.
- Leitor, se tens olho
fundo.
Vai chorando enquanto é
cedo.”
(apud José
Soares Brilharinho, História da Medicina
em Uberaba, vol. III, p.1004)
Páginas de 141 a 151.
Texto enviado por e-mail para mim pelo Dr. Guido
Brilharinho.
[1]
ISOBE,
Rogéria Moreira Rezende. Instituição da
Inspetoria Técnica no Âmbito do Projeto de Modernização da Educação Implemento
com a Reforma de 1906 em Minas Gerais: estratégia de modelização do Ensino. In: Revista
HISTEDBR On-line, n. 44. Campinas, 2011.
[2] GONÇALVES, Irlen Antônio. Cultura Escolar: práticas e produção dos
grupos escolares em Minas Gerais (1891-1918).
Trabalho de pós-gradução stricto
sensu. Belo Horizonte: UFMG, 2004.
[3]
MORAES,
Juliana Lopes de. A Vida Moderna
(1907-1922), O Periódico- Vitrine da Cidade de São Paulo: tempos de modernidade
com um leve toque português. Dissertação de Mestrado. Assis: UNESP, 2007.