ATHANÁZIO SALTÃO


Athanázio Saltão: o primeiro diretor do Grupo Escolar Cesário Coimbra
Otávio Luciano Camargo Sales de Magalhães

UMA BREVE BIOGRAFIA

Atanásio Saltão
Fonte: Guido Brilharino

            Nessa edição vamos falar sobre Athanázio Saltão, que ficou em Muzambinho por 1 ano e meio como primeiro diretor do Grupo Escolar Cesário Coimbra, em 1915 e 1916. Intelectual de primeira categoria e influente pedagogo, jornalista e poeta, tem uma história incrível, mas cercada de lacunas.    
            Athanázio Ferreira Lins Saltão nasceu em Cachoeira/MG em 1859, filho de Joaquim Luiz Saltão e Antônia Ferreira Lima Saltão, porém, ainda garoto fixou residência na cidade de Bagagem (atual Estrela do Sul). Filho de família influente e abonada, com 17 anos foi enviado por seu pai para o mais famoso dos colégios mineiros, o Caraça, onde foi matriculado sob o número 974, no dia 30 de setembro de 1876.
            Prestou exames para fazer medicina no Rio de Janeiro, mas foi enviado para Bélgica pelo seu pai, para fazer medicina na Universidade Católica de Louvain, porém, ao chegar naquele país trocou de curso, fazendo por 2 anos engenharia na Universidade Livre de Bruxelas, não concluído o curso de quatro anos.
            Com curso incompleto, voltou ao Brasil, inicialmente residindo no Rio de Janeiro, Bagagem (Estrela de Sul) e Uberaba, alternadamente. Sofreu com a rigidez de seu pai, que quase nada lhe permitia fazer, até falecer em 1888. Nesse tempo se dedicou principalmente ao comércio, não tendo sucesso em nenhuma empreitada, no Rio e em Uberaba.
            Antes do falecimento de seu pai se relacionou com vários poetas, inclusive Olavo Bilac, colaborou com o jornal “O País” no Rio e fundou em Bagagem o jornal “O Palácio”.
            Após sua morte casou-se com Mariana Luiza Paes de Almeida, tendo como filhos Carmem, Mariana, Antônio, Luiza, Zélia, Athanásio Almeida e mais uma filha.
            Atuou em muitas escolas, sendo
·        Fundador – Colégio Progresso (1894, Bagagem).
·        Diretor – Primeira Escola Normal de Uberaba (1905), Colégio Renascença em Araguari (antes de 1915), Grupo Escolar Cesário Coimbra, Grupo Escolar de Uberaba (1919).
·        Professor de Português e Francês – Colégio Uberabense (final séc XIX), Escola Normal de Uberaba (final séc XIX), Colégio Maria Isabel (1899, Uberaba), Colégio Santa Filomena (1923).
·        Inspetor – Escola Normal de Uberaba (final séc XIX), Araguari (pelo menos em 1907 e 1908), Regiões de Araxá e Frutal (1909).
            Foi republicano, assinando manifesto juntamente com o senador Pena em 1890. Também se filiou ao Partido Situacionista.
            Participou, após a morte de seu pai, como colaborador dos seguintes jornais: Lavoura e Comércio, Gazeta de Uberaba, Cidade de Uberaba, A Vida Moderna de São Paulo, Careta Paiz e Malho. Também compôs versos para o Carnaval de Uberaba.
Foi várias vezes biografado, porém, ninguém conta quando e onde morreu.
            Há uma pessoa de nome Atanázio Saltão, falecido em 2006, no Mato Grosso, do qual não conseguimos descobrir qual relação de parentesco com nosso personagem.



REFERÊNCIAS ONDE ENCONTRAMOS SALTÃO

1859
Nasceu em Cachoeira/MG, tendo mudado para Estrela do Sul (então Bagagem), na infância.
Revista de Uberaba (1905) apud BILHARINHO (2014)
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Estudou no famoso Colégio Caraça, fazendo humanidades por 5 anos (ensino secundário)
Revista de Uberaba (1905) apud BILHARINHO (2014)
1876
Foi matriculado em 30 de setembro, sob o número 974, no Colégio Caraça
Página do Santuário do Caraça
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Prestou exames para fazer Medicina no Rio de Janeiro, em Ouro Preto
Revista de Uberaba (1905) apud BILHARINHO (2014)
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Foi estudar na Universidade Livre de Bruxelas na Belgica, onde fez 2 anos de Engenharia (o curso eram 4 anos). Seu pai o havia enviado para estudar medicina da Universidade Católica de Louvain.
Revista de Uberaba (1905) apud BILHARINHO (2014)
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Estabeleceu no Rio de Janeiro, e se empregou em escritório comercial, onde se relacionou com Olavo Bilac e outros poetas, sendo colaborador do jornal “O País”. Ficou por lá 2 anos e voltou para Estrela do Sul (então Bagagem)
Revista de Uberaba (1905) apud BILHARINHO (2014)
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Fundou em Estrela do Sul o jornal “O Palácio”
Revista de Uberaba (1905) apud BILHARINHO (2014)
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Voltou para o Rio de Janeiro
Revista de Uberaba (1905) apud BILHARINHO (2014)
1888
Seu pai faleceu e ele voltou para  Estrela do Sul e posteriormente casou.
Revista de Uberaba (1905) apud BILHARINHO (2014)
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Se mudou para Uberaba, onde montou estabelecimento comercial. Voltou para Estrela do Sul ao quebrar.
Revista de Uberaba (1905) apud BILHARINHO (2014)
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Dirigiu escola em Estrela do Sul.
Revista de Uberaba (1905) apud BILHARINHO (2014)
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Fundou o Colégio Progresso em Estrela do Sul
Revista de Uberaba (1905) apud BILHARINHO (2014)
1894
Fundou com Atanásio Saltão, em Estrela do Sul (na época, Bagagem), o Colégio Progresso Brasileiro.
RICCIOPPO FILHO (2007)
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Assumiu simultaneamente o cargo de inspetor escolar e professor de português da Escola Normal de Uberaba
Revista de Uberaba (1905) apud BILHARINHO (2014)
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Lecionou francês e foi diretor da Escola Normal de Uberaba
Revista de Uberaba (1905) apud BILHARINHO (2014)
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Lecionou francês no Colégio Uberabense.
BILHARINHO (2014)
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Lecionou na Escola Normal de Uberaba as disciplinas de português e francês.
RICCIOPPO FILHO (2007)
1889
Lecionou no Colégio Uberabense
RICCIOPPO FILHO (2007)
1890
Nasceu sua primeira filha, Carmem de Almeida Saltão
My Heritage
1890
Foi um dos signatários com outros, inclusive o senador Joaquim José de Oliveira Pena, de um manifesto republicano em Uberaba.
BILHARINHO (2014)
1894
Filou-se ao Partido Situacionista em Uberaba.
BILHARINHO (2014)
1898
Era tenente da reserva do 46º Batalhão de Reservistas
Diário Oficial da União de 17 de setembro de 1898.
?
Lecionou no Colégio Maria Isabel em Uberaba.
BILHARINHO (2014)
1899
Lecionava no Colégio Maria Isabel, em Uberaba.
RICCIOPPO FILHO (2007)
1899
O cirurgião João Teixeira operou a Sra. Maria Luiza de Almeida, extirpando o baço, no dia 16 de dezembro, na residência de Athanázio Saltão em Uberaba.
Jornal “A República”, de Curitiba, 13 de dezembro de 1902.
1904/
1905
Escreveu a coluna “Crônica Mensal”, com pseudônimo Athas, na “Revista de Uberaba”.
ISOBE (2008)
1905
Entre janeiro e março foi diretor da Primeira Escola Normal de Uberaba (o último diretor)
RICCIOPPO FILHO (2007)
1906
Nasceu sua filha Mariana Saltão Freitas Souza.
My Heritage
1907
Era inspetor em escola em Araguari.
ISOBE (2011)
1908
Denuncia professora em Araguari, na condição de inspetor

1909
Inspetor, no 1º semestre na 27ª Circunscrição Eleitoral, em Araxá, Carmo do Parnaíba, Patrocínio e Sacramento. No 2º semestre em Frutal, Monte Alegre, Prata e Vila Platina.
GONÇALVES (2004)
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Autor do Soneto “Cismando”
BILHARINHO (2014)
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Redigia versos para o Carnaval de Uberaba.
BILHARINHO (2014)
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Colaborou com “Gazeta de Uberaba”, foi redador do “Cidade de Uberaba”, foi redator do “Lavoura e Comércio”.
BILHARINHO (2014)
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Foi autor da coluna humorística em “Lavoura e Comércio” chamada e “Musa Alegre” e “Musa Triste” com pseudônimo Jean Qui Ri ou Jean Qui Pleure
BILHARINHO (2014)
?
Diretor da Revista de Uberaba
PAIVA e BORGES FILHO (2011)
-1916
Foi diretor do Colégio Renascença em Araguari
Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1916.
1915
Em 1915 e 1916, em Muzambinho, dirigiu a EE Cesário Coimbra, sendo indicado pela Profa. Amanda Rezende de Carvalho.
Fonte primária.
1917
O Agente Executivo de Araguari pede nomeação de Athanásio Saltão como diretor do Grupo Escolar.
ISOBE (2008)
1918
Publicou em 21 de novembro, em “Lavoura e Comércio” o poema “Fim do Mundo”.
BILHARINHO (2014)
+1918
Foi diretor do Grupo Escolar de Uberaba, atual EE Brasil
CENTRO DE REFERÊNCIA VIRUTAL DO PROFESSOR, 2009.
1919
Era diretor do Grupo Escolar de Uberaba, na data de 9 de janeiro de 1919
Jornal “Lavoura e Comércio”, ed. 2149, de 9 de janeiro de 1919.
1923
Lecionou no Colégio Santa Filomena, na Colina do Fabrício, em Uberaba, as disciplinas de educação cívica, moral e religiosa, português e francês.
RICCIOPPO FILHO (2007)
?
Contribuiu com crônicas para os periódicos “A Vida Moderna” de São Paulo e depois em “Careta, Paiz e Malho”.
MORAES (2007)

Sites:

- Jornal “Lavoura e Comércio”
- Jornal “Fom-Fom” da Biblioteca Nacional
- Santuário do Caraça
- Diário Oficial da União
- My Heritage

BRILHARINHO, Guido. Estrela do Sul, Bélgica e Rio de Janeiro. In: Personalidades de Uberaba. Uberaba, 2014.
CENTRO DE REFERÊNCIA VIRTUAL DO PROFESSOR. EE Brasil de Uberaba. In: Notícias, 27 de outubro de 2009. Belo Horizonte, 2009.
GONÇALVES, Irlen Antônio. Cultura Escolar: práticas e produção dos grupos escolares em Minas Gerais (1891-1918).  Trabalho de pós-gradução stricto sensu. Belo Horizonte: UFMG, 2004.
ISOBE, Rogéria Moreira Rezende. Educação e Civilização no Sertão: práticas de constituição do modelo escolar no Triângulo Mineiro (1906-1920). Tese de doutorado. Campinas: PUC, 2008.
ISOBE, Rogéria Moreira Rezende. Instituição da Inspetoria Técnica no Âmbito do Projeto de Modernização da Educação Implemento com a Reforma de 1906 em Minas Gerais: estratégia de modelização do Ensino. In: Revista HISTEDBR On-line, n. 44. Campinas, 2011.
MORAES, Juliana Lopes de. A Vida Moderna (1907-1922), O Periódico- Vitrine da Cidade de São Paulo: tempos de modernidade com um leve toque português. Dissertação de Mestrado. Assis: UNESP, 2007.
PAIVA, Taís Iniz de; BORGES FILHO, Oziris. Revista de Uberaba: Um Esboço Histórico. In: InterteXto, v.4 n.1. Uberaba: UFTM, 2011.
RICCIOPPO FILHO, Plauto. Ensino Superior e Formação de Professores em Uberaba / MG (1881-1938): uma trajetória de avanços e retrocessos. Trabalho de pós graduação stricto sensu. Uberaba: Uniube, 2007.
TRIBUNA DA IMPRENSA. Saudades de Muzambinho. In: A Tribuna da Imprensa, 8 de março de 1951. Rio de Janeiro, 1951.

DESCRIÇÃO DAS FONTES

1

            Foi publicado na revista InterteXto, da UFTM, em Uberaba, v.4 n.1, p. 52-65, 2011 – jan./jul., com o título “Revista de Uberaba: Um Esboço Histórico”, de Taís Iniz de Paiva e Oziris Borges Filho que Atanásio Saltão foi um dos diretores daquela revista, se qualquer outro comentário.

2

            Na “Revista HISTEDBR On-line”, de Campinas, n.44, p. 107-130, dez2011, o artigo “Instituição da Inspetoria Técnica no Âmbito do Projeto de Modernização da Educação Implementado com a Reforma de 1906 em Minas Gerais: estratégia de modelização do Ensino”, de autoria de Rogéria Moreira Rezende Isobe, da UFTM, em pesquisa financiada pelo CNPq:
Nas representações construídas, os técnicos do ensino desqualificam os estabelecimentos de ensino que se distanciam do modelo da moderna escola primária: os Grupos Escolares. Desta forma, ao relatar sobre as condições das escolas primárias do Triângulo Mineiro, os inspetores ressaltam a precariedade das mesmas:
A escola do professor Sebastião Vieira Albernaz continua a funcionar no mesmo prédio, isto é, no mesmo pardieiro de que falei a V. Exa. no meu primeiro relatório. Disse-me ele que lhe tem sido impossível encontrar outro prédio na cidade, o que quer dizer que a sua escola irá ficando no mesmo casebre arruinado (MINAS GERAIS. Secretaria do Interior. Relatório de Inspeção. Inspetor Athanasio Saltão. Araguari, 06 de abril de 1907).
Inspecionando a escola estadual de Araguari, o inspetor Athanasio Saltão expõe um dos grandes problemas apresentados na maioria dos relatórios de inspetoria: o espaço inadequado — as escolas funcionavam em ―pardieiros sendo difícil encontrar prédios adequados para que a escola cumprisse os propósitos do governo estatal. No projeto republicano, era de fundamental importância que a escola causasse ―boa impressão‖, para atestar a modernidade educacional a ser instaurada. [...]
Documentos pesquisados no Arquivo Público Mineiro:
MINAS GERAIS. Secretaria do Interior. Relatório de Inspeção. Inspetor Athanasio Saltão. Araguari, 06 de abril de 1907.
3

            No trabalho de pós-graduação stricto sensu de Plauto Riccioppo Filho, da Uniube, sob o título “Ensino Superior e Formação de Professores em Uberaba/MG (1881-1938): uma trajetória de avanços e retrocesso”, defendido em 2007.
            Há várias referências à Saltão, que dividiremos em algarismos romanos, colocados por nossa conta:

I
Uma das principais escolas fundadas em Uberaba, no final do século XX, foi o Colégio Uberabense, aberto em 15/07/1889 pelo professor Paulo Frederico Barthes , lente titular da Escola Normal local. O novo estabelecimento, que criou fama na região, oferecia os cursos primário e secundário para jovens do sexo masculino. O colégio aceitava alunos em regime de internato ou externato e oferecia, em seu curso secundário, todas as matérias exigidas para a matrícula nas faculdades do Império, além de Escrituração Mercantil teórica e prática (GAZETA DE UBERABA, 16/04/1890). A proposta pedagógica do Colégio Uberabense, onde transparece a influência dos ideais positivistas e conservadores, foi assim exposta em um periódico local:
Tendo por objectivo preparar devidamente o alumno para a grande lucta pela vida, e d’ella sahir com honra e dignidade, infundindo-lhe o amor que deve á Patria, á Família e a Deus, isto quanto a parte moral, e preparal-o para submetter-se aos exames de preparatorios necessarios para matricularem-se nos cursos superiores (GAZETA DE UBERABA, 10/10/1889, p. 3)
Inicialmente, o colégio funcionou no prédio localizado na Rua do Imperador (atual rua Governador Valadares), que havia abrigado o Primeiro Liceu Uberabense (MENDONÇA, 1974). Em 13/03/1890, a escola transferiu-se para a casa da rua Municipal (atual rua Manoel Borges), que pertencera ao barão da Ponte Alta e se localizava em frente ao Largo da Matriz –nesse local, atualmente, existe o prédio da loja Têxtil Abril. Na visão da imprensa da época, “O prédio é bem situado, está reformado e possue vastas acommodações bem arejadas, grande quintal, etc.” (GAZETA DE UBERABA, 17/03/1890, p. 1).
Paulo Barthes permaneceu na direção da escola por cerca de dois anos e teve como
companheiros os professores Joaquim Dias Soares84, Alexandre de Souza Barbosa, Manoel Filipe de Souza, Ilídio Salatiel dos Santos, Frei Vicente de la Coste, João Frederico Gaede, Henrique Blackeyse, José de Albuquerque, Antônio Eusébio, José Soares Junior e Gustavo Lutz (MENDONÇA, 1974). Além desses, atuou na escola, em sua fase inicial, o professor Atanásio Ferreira Saltão (GAZETA DE UBERABA, 20/07/1889).

II
No final do século XIX, persistindo a velha tendência, muitas escolas particulares de curta duração foram criadas em Uberaba, dentre os quais destacamos o Colégio Progresso Brasileiro, inicialmente fundado em Bagagem pelos professores Theophilo Barbosa e Atanásio Saltão, e posteriormente transferido para Uberaba, quando ficou sob a direção do primeiro professor. Um anúncio publicitário feito no jornal Tribuna do Povo (05/02/1894) informava que o currículo da escola incluía o Curso Inicial (Leitura, Caligrafia, Cálculo Mental, Elementos de Desenho e Declamação), Curso Elementar Primário (Português, Francês, Inglês, Espanhol, Geografia, História do Brasil, Aritmética, Desenho e Declamação) e Curso Primário Superior (Português, Francês, Inglês, Latim, Italiano, Geografia, História do Brasil, Elementos de Geometria, Aritmética, Desenho, Declamação, Alemão, História Universal e Álgebra).

III
Segundo Mendonça (1974), no ano de 1899, foi criada uma nova escola para meninas, o Colégio Maria Isabel, fundado pelo Sr. Antônio Joaquim Pinto da Fonseca e dirigido por sua filha, D. Maria Isabel Coutinho da Fonseca. A imprensa local assim noticiou a chegada dos fundadores da escola a Uberaba:
Acabam de chegar a esta cidade o sr. Antonio Joaquim Pinto da Fonseca e sua dilecta filha a exma. Sra. D. Maria Isabel Coutinho da Fonseca, cunhada e sogro do sr. Alberto de Moraes Castro, tabellião substituto do 2º officio deste foro. A exma sra. d. Maria Isabel, que dirigiu em Tres Pontas um excelente collegio, pretende fundar aqui um outro para meninas e, segundo somos informados, tem os mais sobejos requisitos para o espinhoso ministério a que se dedica. O seu velho pai foi professor da Escola Normal daquella cidade e dirigiu alguns collegios em Juiz de Fora e Rio de Janeiro, com muita aptidão (GAZETA DE UBERABA, 14/05/1899, p. 1)
A escola, que possuía os ensinos primário e secundário, tinha como professores Antonio Joaquim P. Fonseca, Joaquim Dias Soares, Atanásio Saltão, D. Maria Isabel C. Fonseca, Maria Ameno Ribeiro e Joaquina Gomes, e funcionou por apenas seis anos. Ficava no Largo da Matriz, esquina da rua São Sebastião, no local onde posteriormente foi erguida residência do Cel. João Caetano Borges (TOTI, 1956). O colégio foi fechado no início de 1906, com a mudança dos proprietários para a cidade de Águas de São Lourenço (LAVOURA E COMÉRCIO, 11/01/1906, p. 3).

IV
A primeira Escola Normal oficial de Uberaba terminava, então, a sua existência, depois de quase 23 anos de funcionamento contínuo, sendo seus arquivos enviados para o governo estadual, estando parte deles, ainda hoje, preservados no Arquivo Público Mineiro. Durante esses anos, a instituição teve diversos diretores (Apêndice 3) e um grande corpo docente (Apêndice 4). Pelas listas de docentes e de diretores da 1ª Escola Normal de Uberaba, percebe-se que ela atraiu para a cidade, provenientes de outros pontos do Brasil e mesmo do exterior, professores de alto nível como Alexandre Barbosa, Arthur Lobo, Atanásio Saltão, José Artiaga, Georges de Chirée, Alberto Parton e Paulo Barthes, intelectuais que tiveram destacada atuação cultural e política na cidade, numa época em que Uberaba carecia desse material humano. Desses personagens, destacamos Alexandre Barbosa, professor em diversas instituições de ensino, político, pesquisador, militante sindical, etc.

V
Em 1919, o professor Francisco de Mello Franco fundou o Colégio São Sebastião, escola que, em janeiro de 1923, foi adquirida por Hildebrando Pontes e sua esposa, Salvina Barra Pontes, proprietários do Externato Santa Filomena. As duas escolas foram fundidas, dando origem ao Colégio Santa Filomena. Faziam parte do corpo docente do novo colégio os diretores (Hildebrando e Salvina), suas duas filhas normalistas (Rosita e Odette), Athanásio Saltão (ex-professor da Escola Normal) e frei Reginaldo Tournier.
Um jornal local descreve o Colégio Santa Filomena:
O collegio está installado em logar aprasivel, na collina do Fabrício, em enorme prédio de estylo colonial, com capacidade para duzentos alumnos, 50% dos quaes poderão ser de internos, isto é, 66 meninos e 34 meninas e mais as pessoas do director, sua família e creados. Para a recreação dos alumnos há amplos pateos, cujo declive de 4 a 5% permite a prompta escoação das águas pluviaes, e, dest’arte, o desapparecimento rápido da humidade. Para as meninas há, inteiramente separada dos meninos, uma área egualmente vasta, ensombrada por bello pomar. O serviço de hygiene é rigoroso. [...] São cuidados rigorosamente a educação cívica, moral e religiosa, o ensino de portuguez e de francez (a cargo do proficientíssimo prof. Athanasio Saltão), a educação do caracter e da vontade (pelo estimulo que sábia e carinhosamente o impõem o dr. Hildebrando Pontes e sua senhora, dois vivos exemplos nesse sentido), a cultura physica, não só pela gymnastica sueca como pelos sports, numa dosagem sábia e methodica. Os dois sexos nesse excellente Collegio recebem instrucção primaria e scundaria, a primeira de accôrdo com o programma official dos grupos escolares, e a ultima amoldada ás escolas normaes do Estado (LAVOURA E COMÉRCIO, 03/01/1924, p. 2).

VI

VII


4

Em fonte incerta:
            Assim, no Grupo Escolar de Uberaba (apesar de não haver referências, nos jornais, de que houvera suspensão das aulas por epidemia da cidade), o ano letivo de 1918, só terminaria em 1919. Datado de 08 de janeiro, ocorre publicação do convite do diretor interino, para que os pais levassem seus filhos para os exames, na data definida na lei. E há também uma rápida nota: “A fim de assumir a direção do Grupo Escolar local, chegou ontem à cidade o nosso prezado e ilustre colaborador, Atanásio Saltão, proficiente educador e brilhante jornalista” (LAVOURA E COMMÉRCIO, ed.2149, 09/01/1919, p.5).

Veja a íntegra do texto, que localizamos no site do jornal. Conheça no site: http://www.codiub.com.br/lavouraecomercio/pages/edicoes.xhtml



5

            Em “A Tribuna da Imprensa”, de Carlos Lacerda, em 8 de março de 1951, no célebre “Muzambinho: o martírio de uma cidade”:

SAUDADES DE MUZAMBINHO

            Venho lendo com saudade e emoção suas crônicas sobre Muzambinho, a graciosa cidade mineira do Liceu Municipal de Muzambinho, o velho estabelecimento fundado por Salathiel Ramos de Almeida, o saudosíssimo e queridíssimo Beca.
            Tudo verdade, tudo certo. Reuniu, no começo do século, Salathiel, esse educador extraordinário, uma verdadeira plêiade de mestres: Carlos Góes, Júliio Bueno, G. A. Nixon, Max Heine, Mário Duarte, Vilhena de Moraes, Atanásio Saltão, João Baptista (que me ensinou o b-a-ba) Ernani Domingos, Lycurgo Leite, Fernando Corrêa, J. Tocqueville e muitos e muitos outros cujos nomes agora não me ocorrem.

            Ficamos em dúvida: teria Athanázio Saltão lecionado no Lyceu do Prof. Salathiel de Almeida ou é um equívoco?

6

            O Centro de Referência Virtual do Professor, em 27 de outubro de 2009, publicou um histórico da EE Brasil, de Uberaba – MG.

Os primeiros professores ‐ O Grupo iniciou seu funcionamento com oito professores regentes: Arlindo Costa, João Augusto Chaves, Bertholina dos Santos, Francisco de Mello Franco, Alcina Maria Coutinho, Maria Julieta Campos, Maria Carmilieta Campos e Marcilieta Campos. Havia ainda: Arnold Magalhães, homem de muitas habilidades, professor do Ensino Técnico. Inúmeros outros professores vieram depois. O primeiro diretor foi o inspetor regional Ernesto de Melo Brandão. Em 1910, a direção efetiva passou às mãos de Francisco de Melo Franco que dirigiu a instituição até 1918. Os outros diretores a seguir foram: Athanásio Saltão, Eurico Silva, Fernando Vaz de Melo, Corina de Oliveira, Hilda N. Martins, Therezinha P. Valle, Norma Moisés, Nilda G. Abdala Miguel, Fernanda A. S. Santos, Maria Helena Angotti, Edna Márquez Luz.





7

            No LIVRO DE MATRÍCULA DO COLÉGIO CARAÇA, em setembro 30, 1876, numero 974, Athanasio Ferreira Lins Saltão (18), do município de – Bagagem, disponível no site do Colégio Caraça.

8

            O Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, um dos mais importantes do país, conhecido como Almanaque Lemmert, publicou o nome de Saltão, várias vezes.
            Em 1916, como Diretor do Collégio Renascença, em Araguary, tendo como professores, D. Argimira Rizzo, Miguel Rizzo e Theodulo Eurich.
            Em 1924, o mesmo almanaque o descreve como diretor do Grupo Cesário Coimbra em Muzambinho, porém, sabemos de fonte primária, que em junho de 1916 ele deixou Muzambinho passando a direção para Francisco Jacy de Assis. A mesma informação constava dos mesmos almanaques em 1919 e 1921.

Aqui temos os prováveis primeiros professores do Grupo Escolar Cesário Coimbra: D. Camilla Cecília Coimbra, Deolinda de Oliveira Poli, Elvina de Magalhães Prado, Julieta Duarte Pereira Ventura, Júlio Bueno, Lucrécia Bressane, Maria Antonieta Pereira Lopes, Maria Cordélia Coimbra, Maria Itália Cordélia, Maria Pereira da Silva e Pedro Claudino dos Santos, provavelmente sendo esses os professores que aparecem na foto do Fom Fom (verifique!).
Na época era inspetor escolar (não confunda com inspetor de aluno), Dr. João de Abreu e Silva (seria José de Abreu e Silva, o promotor morto em legítima defesa por Gustavo Avelino Correia em 1919?). O porteiro era Polycarpo Luz e servente Adelaide C. da Silva.
O texto ainda apresenta os diretores Salathiel de Almeida do Liceu Municipal, a diretora do Colégio de N. S. da Conceição (primário feminino anexo ao Lyceu), como D. Olympia Pereira da Silva, e, diretores da Escola Normal, Dr. Salathiel de Almeida e sua esposa Dr. Lila de Almeida.
Também lista professores de escolas isoladas: Hemetria Maria de Jesus e Rosa Ricardina e Lima. E também Escolas Municipais com professores Uriel Tavares de Souza Magalhães, Urias Cornélio de Araújo, Philadelpho Pereira Cardozo, Rita Albanina da Silva, Israel Antonio Silvestre, Carlos Augusto de Souza, João Baptista Baldini.

8

            ISOBE (2011)[1] apresenta três trechos que falta de Saltão e um que fala de Amanda de Rezende Carvalho. Notamos, também conferindo o Almanaque Lemmert que Amanda e Saltão moraram NA MESMA ÉPOCA em Araguary.
            Numa carta anterior a 1915, ou seja, antes da abertura do Grupo Escolar Cesário Coimbra, Amanda de Rezende Carvalho diz que já havia dirigido uma escola em Muzambinho. Sabemos que ela faleceu nos anos 30 em Muzambinho, diretora do Grupo Escolar Cesário Coimbra. Em 1914 tanto Amanda quanto Athanázio lecionavam em ARaguary. A nossa hipótese, quase certa, foi que Amanda trouxe Athanázio para Muzambinho ou lhe indicou para nomeação. Amanda volta para Muzambinho após 1919, não tendo convivido com Athanázio por aqui.
            Curioso que nenhum biógrafo ou artigo científico conta que Athanázio lecionou em Muzambinho. Há várias referências dele ter trabalhado em escolas do Triângulo Mineiro: Uberaba, Estrela do Sul, Araguari, e inspeção em Araxá, Frutal e região. Fora do Triângulo, apenas em Muzambinho, não constante em nenhuma de suas biografias! E, ele lecionou em Araguari, onde deve ter ficado apenas dois anos, trabalhando com uma professora de Muzambinho!!!
            O primeiro trecho é:
            A estreita relação entre as famílias e a escola singular pode ser observada também na existência de certa cumplicidade entre os professores, alunos e pais. Note-se, por exemplo, o episódio da professora Francisca da Costa Souza, regente da escola isolada de Conquista. A docente recebeu um ofício de admoestação da Secretaria do Interior em razão das acusações do inspetor técnico Athanásio Saltão sobre o não cumprimento do programa pela professora no que se refere ensino de trabalhos manuais e canto. A professroa respondeu, então, o ofício, dizendo serem falsas as denúncias do inspetor e assevera: “Posso provar com todos os pais d emeus alunos e demais habitantes desta localidade que, desde a instalação da minha escola até esta data, nem um só dia deixei de ministrar o ensino como exige o programa em vigor, inclusive o canto e trabalhos manuais” [101]. Observa-se que a professora contava com o apoio dos pais de seus alunos para defendê-la das acusações do inspetor. [...]
[101] MINAS GERAIS, Secretaria do Interior. Correspondências 19 de Abril de 1908. Códice 3262.

O segundo trecho fala sobre o o folclórico professor em Uberlândia (então distrito de Uberabinha), onde o professor Sebastião Vieira Albernaz, de boa fé, mas, péssimo professor, chamado por Honório Guimarães e no anedotário popular como “filósofo”. Cita que Athanázio Saltão o chamou também de filósofo em um relatório oficial.
O terceiro trecho fala: “O Agente Executivo de Araguari também pede a nomeação de Athanásio Saltão para diretor do grupo escolar e assegura que não é por “partidarismo político” mas “pela competência e simpatia que ele goza nesta cidade””. Isto consta de Correspondências da Secretaria do Interior de Araguari, 6 de outubro de 1917, sob códice 3647.

Sobre Amanda de Carvalho, diretora do Grupo Escolar Cesário Coimbra na época de sua morte nos anos 30, há o texto que se refere de quanto ela trabalhava em Araguari (fato confirmado pelo Almanaque Lemmert). Ao ler o texto de Isobe, fique atendo a saber que na época o único curso de formação de professores era os ministrados em Escola Normal, geralmente logo após o primário, sem que os formandos frequentassem o ensino secundário – iam direto das escolas de primeiras letras ao curso de formação de magistério. Ainda assim, haviam muitos professores leigos, não formados. Eis o trecho:

Em várias situações, o secretário do Interior solicitava informações a respeito dos professores indicados observando-se as notas que ficavam arquivadas na secretaria [22]. Outras vezes, indagava se o professor era normalista. Ao que parece, havia uma preocupação em não tornar totalmente explícita a lógica de noemações e não descartar inteiramente os critérios determinados pelo regulamento que dava preferência ao professor normalista e àqueles que eram avaliados como “bons” docentes pelos inspetores técnicos. No entando, nota-se que a prática cotidiana se distancia da prática discursiva e muitos professores não-normalistas eram nomeados. No grupo escoalr de Araguari, por exemplo, em 1909, não tinha nenhum professor normalista em seu quadro do magistério [23]. Por outro lado, nem sempre os professores normalistas conseguiam efetividade no cargo. A respeito dessa questão, deve-se sublinhar o caso da docente Amanda de Rezende Carvalho, normalista, nomeada para professora interina do grupo escolar de Araguari em 1914. Quatro anos depois, a professora enviou um ofício ao Secretário do Interior, sem mediadores, requerendo efetividade naquele cargo e obteve resposta de que não seria atendida por faltarem “predicados indispensáveis a uma boa professora”. A professora retorquiu:
Permita-me V. Excia, e sem nenhuma desconsideração, ligeiro reparo aos ternos daquele ofício e que consiste em pedir a preciosa atenção de V. Excia para o fato de eu ser Normalista diplomada por escola oficial de Minas Gerais e constar com 17 anos de magistério, sendo oito em S. Paulo e nove em Minas. O título de nomeação para o professorado público em S. Paulo, obtive em concurso perante banca examinadora constituída pelo govenro. Se isso não bastar, poderei referir que dirigi o internato feminino a Escola Normal de Muzambinho, onde lecionei durante alguns anos quando era Presidente de Minas o inesquecível defensor e propugnador da instrução – Dr. João Pinheiro, tendo ao seu lado como Secretário do Interior, o digno mineiro Carvalho Brito. Orgulho-me da maneira por que exerci o professorado e fácil será V. Ecia conhecer esse meu modo de proceder, como zelosa e mui zelosa dos meus deveres, pesando bastante a competência técnica e moral para o exato cumprimento de minha nobre missão. [...] As razões apresentadas levam-se a insistir perante V. Excia pela minha efetividade com o que V Excia praticar um ato e inteira justiça [24].
            À vista de tal ofício, o Secretário do Interior solicitou que os inspetor técnicos oferecessem informações a respetio da professora. O funcionário Turiano Pereira informa que os inspetores Alceu de Souza Novares e Alberto Costa Matos tinham a mesma opinião: “D. Amanda é muito estudiosa, tem aptidão didática e uma dedicação pouco comum no magistério, porém, seu preparo profissional é medíocore”. O Diretor da Secretaria opina: “O bom preparo do professor deve ser condição essencial para sua efetividae. Sou, pois pelo adiamanto da concessão solicitada até que a requerente adquira melhor preparo”. E o Secretário ratifica: “De acordo”.
[22] Conforme mencionado no capítulo 2, os inspetors técnicos foram incumbidos de avaliar os professores que atuavam nas escolas estaduais, municipais e particulares cujas “notas” ficavam arquivadas na Secretaria do Interior.
[23] Cf. MINAS GERAIS. Secretaria do Interior. Correspondências. 30 de abril de 1909. códice 3300.
[24] MINAS GERAIS. Secretaria do Interior. Correspondências. 30 de março de 1918. códice 3243.

            Talvez esse indeferimento foi o motivo da vinda de Amanda para Muzambinho, onde foi por longo tempo, em gestões alternadas, diretora do Grupo Escolar Cesário Coimbra.
            O Presidente João Pinheiro da Silva teve gestão entre 1906 e 1908. Ele também presidiu o estado em 1890, porém, não é possível que Amanda tenha lecionado naquela época em Muzambinho, e, além disso, não era Secretario de Interior Carvalho Brito naquela época.
            Provavelmente Amanda atuou no Externato do Lyceu, provavelmente, na Escola Normal. Mas isso não tem qualquer documentação que indique ser verdadeiro. Note que o Grupo Escolar Cesário Coimbra foi criado em 1909, e inaugurado em 1915, portanto, impossível que Amanda tenha lecionado nesse Grupo Escolar em Muzambinho antes de lecionar no Grupo Escolar de Araguary, onde a mesma atuou pelo menos de 1914 a 1918.


9

            O Diário Oficial da União, de 17 de setembro de 1898, Página 2, Seção 1,  apresenta o 46º batalhão da reserva, cujo capitão da companhia era Pedro José da Silva Dirceu. Athanázio Saltão seria tenente. Nada os biógrafos falam sobre isso.



10

O jornal “A República”, de Curitiba, 13 de dezembro de 1902, publicou o seguinte artigo:

            Esse texto consta o nome de sua esposa como Maria Luiza de Almeida. Já vimos a mesma com o nome de Mariana Paes de Almeida. Esta teria sido operada em 1899, no dia 21 de dezembro, pelo cirurgião Dr. João Teixeira, na operação de retirada de bócio, thyroidectomia.

11

            Gonçalves (2004)[2] cita a existência de 40 circunscrições literárias (uma espécie de delegacias de ensino no passado) em 1909.
            Saltão nesse ano foi inspetor no 1º Semestre da 27ª circunscrição literária, com cidades de Araxá, Carmo do Parnaíba, Patrocínio e Sacramento. No 2º semestre assumiu a circunscrição Antônio Loureiro Gomes.
            No 2º Semestre foi inspetor técnico na 28ª circunscrição literária, constando as cidades de Frutal, Monte Alegre, Prata e Vila Platina, substituindo Miltino Pinto e Carvalho.
            Naquele ano, Muzambinho seria parte da 24ª Circunscrição Literária, com municípios de Cabo Verde, Jacuí, Guaranésia, Monte Santo, Muzambinho e Vila Nova de Rezende, sendo inspetores no 1º Semestre, Ernesto Carneiro Santiago e no 2º Semestre, Francisco José da Paixão. Em todas circunscrições houve troca de inspetores no meio do ano.

12

            Moraes (2007)[3], a Tabela 5 mostra “Colaboradores de destaque na publicação: breves comentários”, citando Athanásio Saltão, que publicava crônicas e também contribuía em outro periódico: Careta, Paiz e Malho

13

            O site My Heritage, apresenta o nome Athanásio Saltão, filho de Joaquim Luiz Saltão e Antônia Ferreira Lima Saltão, casado com Mariana Paes de Almeida (ou Maria Luiza de Almeida). Filhos, Carmem de Almeida Saltão (1890-1974), Mariana Saltão Freitas Souza (1906-1940), Antônio de Almeida Saltão, Luiza Almeida Saltão, Zélia Saltão Hungfer, Athanásio Almeida Saltão e mais a 3ª filha, com sobrenome Martins de Barros. Carmem nasceu em 26 de maio de 1890 e faleceu em 17 de outubro de 1974 em São Paulo – SP. Mariana nasceu em 10 de março de 1906 e morreu em 27 de novembro de 1940, casada com José Freitas Souza teve 8 filhos, no máximo 2 estão vivos.

14

            Há um processo 0804469-92.2013.8.12.0001 de inventário de partilha que reflete um personagem muitas vezes comum na Internet, inclusive com vídeo no Youtube, com nome Athanasio Saltão, que teria inventariante Fernando Saltão. Não sabemos qual a relação do mesmo com o personagem por nós biografado. No Mato Grosso do Sul.

15

            Artigo em Lavoura e Comércio:


            Não vasculhamos as edições disponíveis na Internet (mais de 10 mil edições disponíveis) no site http://www.codiub.com.br/lavouraecomercio/pages/edicoes.xhtml.

LIVRO DO PROF. GUIDO BRILHARINO

            Enviei e-mail para o autor livro recém publicado do Dr. Guido Brilharinho, “Personalidades Uberabenses”, onde o Prof. Saltão foi biografdo. Muitíssimo atencioso, ele enviou rapidamente uma obra para a EE Cesário Coimbra, que atualmente faz 100 anos de que Athanázio foi dirigente:

            Descrevemos o texto na íntegra:


Estrela do Sul, Bélgica e Rio de Janeiro
Guido Bilharinho

Magistério e Jornalismo

Estrela do Sul, Bélgica e Rio de Janeiro

            Segundo Quintiliano Jardim (em artigo inicialmente publicado na Revista de Uberaba nº 12, março de 1905, reproduzido em Convergência, Ano III, nº 4/5, 1973, e, posteriormente, na seção “História e Cultura”, de Lavoura e Comércio, de 14, 15 e 16 de setembro de 2000), Atanásio Saltão nasceu na cidade de Cachoeira/MG, em 1859. Mudou-se depois com a família para a cidade de Bagagem, hoje Estrela do Sul, na região do Triângulo. Após as primeiras letras foi estudar no colégio Caraça, onde fez o curso de humanidades por cinco anos.
            Em Ouro Preto prestou exames para se matricular na faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Seu pai, no entanto, o encaminhou para estudar na Bélgica, onde escolheu o curso de engenharia, em Louvain, por ser de quatro anos enquanto o de medicina era em seis. Ao saber disso quase dois anos depois, seu pai discordou de sua atitude e o obriou a seguir medicina, isto após já ter feito dois anos de engenharia.
            Contudo, por ter deixado a Universidade Católica de Louvain e optado pela Universidade Livre de Bruxelas para cursar medicina, o jesuíta brasileiro padre Gama escreveu a seu genitor longa carta em que o descreveu, conforme Quintiliano, do modo mais desairoso possível. Face a isso, foi-lhe determinado voltar ao Brasil, tendo suspensa sua mesada, de nada adiantando inúmeros atestados e declarações a seu favor de professores e de autoridades brasileiras residentes no país.
            De volta ao Brasil com passagem paga pelo embaixador brasileiro na Bélgica, Atanásio estabeleceu-se no Rio de Janeiro, onde conseguiu emprego em escritório comercial.
            Nessa cidade relacionou-se com diversos intelectuais, entre os quais Valentim Magalhães, Filinto de Almeida, Olavo Bilac, Guimarães Passos, Joaquim Serra e outros, passando a colaborar assiduamente no jornal O País, então dirigido por Serra, com artigos políticos, crônicas e poesias.
            Depois de dois anos, por insistência de amigos de seu pai, voltou à Bagagem, onde foi por ele bem recebido, indo trabalhar em sua firma comercial.
            Todavia, como registrou Quintiliano, não cessaram aí os infortúnios de Saltão, ocasionados, todos, pelos exacerbado patriacarlismo e rigidez mental paternos, matrizes de sua incompreensão e imposição.
            Quanto seu pai se ausentou de Estrela do Sul, permanecendo por uns seis meses no Rio, Atanásio resolveu fundar um jornal, que intitulou O Palácio. Ao tomar conhecimento do fato, seu genitor escreveu-lhe ordenando suspender a publicação. Diante de mais essa violência, Atanásio não quis continuar em sua companhia, e, depois de sua volta, retornou ao Rio, onde permaneceu até 1888, ano em que seu pai faleceu, o que motivou sua transferência para Estrela do Sul, onde se casou.
            Posteriormente veio para Uberaba, onde montou estabelecimento comercial que, não prosperando, obrigou-o a retornar à sua cidade para, como afirmou Quintiliano, “dispor do stok”, recebendo nessa ocasião convite para lecionar e dirigir escola fundada pela municipalidade, sendo também nomeado inspetor escolar. Algum tempo depois fundou, com outro professor, o colégio Progresso.

Vinda em Definitivo para Uberaba

            Porém, o destino de Atanásio foi Uberaba, para onde, a convite, retornou, desenvolvendo na cidade, com brilhantismo, atividade nas áreas educacional, política, literária e jornalística.

Magistério

            Convidado pelo professor Antônio Pereira de Artiaga, então diretor da Escola Normal de Uberaba – criada pela lei estadual nº 2.783, de 22 de setembro de 1881, de iniciativa o senador Pena e instalada em julho do ano seguinte – para concorrer à vaga do professor de português, Atanásio foi aprovado e nomeado, assumindo também o cargo de inspetor escolar. Alguns anos depois, ao mesmo tempo em que regia a cadeira de francês, dirigia a Escola Normal, que teve como primeiros diretores, sucessivamente, conforme José Mendonça (História de Uberaba, p. 109), Joaquim José de Oliveira Pena (senador Pena), Antônio Borges Sampaio, Ilídio Salatiel dos Santos, Joaquim Antônio Rosa do Nascimento Júnior, Gabriel Orlando Teixeira Junqueira, Ilídio Salatiel Guaritá, Antônio Pereira de Artiaga, Alexandre de Souza Barbosa, Militino Pinto de Carvalho, Antônio Mamede de Oliveira Coutinho e Atanásio Saltão.
            Ministrou, ainda, a cadeira de francês no colégio Uberabense, fundado, em 1889, consoante José Mendonça (p. 104 e 230), pelo professor Paulo Frederico Barthes e de cujo corpo docente fizeram parte alguns dos mais conceituados professores uberabenses como Joaquim Dias Soares, Manuel Filipe de Sousa, Alexandre Barbosa, Ilídio Salatiel dos Santos, frei Vicente de la Coste e Gustavo Lutz, funcionando, inicialmente, na rua do Imperador (atual Governador Valladares) e, posteriormente, no local onde hoje se localiza o colégio Marista.
            Segundo ainda José Mendonça (p. 108), Atanásio Saltão, lecionou também no colégio Maria Isabel, fundado em 1899 e extinto em 1905, onde exerceram o magistério, entre outros, os professores Joaquim Dias Soares e Joaquim Antônio Pinto da Fonseca, este seu fundador. Foi ainda diretor do grupo escolar Brasil, atual escola estadual Brasil (1º grau).
            No exercício do magistério, Atanásio Saltão destacou-se como um dos melhores, mais cultos e competentes professores de seu tempo por força de estudo e dedicação constante à cultura e às letras.

Política

            Atanásio Saltão, como republicano, participou em Uberaba das providências que se seguiram à proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, registrou Hildebrando Pontes (História de Uberaba, p. 131), sendo um os signatários – juntamente com Alexandre Barbosa, Venceslau Pereira de Oliveira, Ilídio Salatiel Guaritá, Joaquim José de Oliveira Pena (senador Pena), José Augusto de Paiva Teixeira (Casusa), Tobias Rosa e outros – da proclamação feita aos uberabenses no dia 11 de junho de 1890 para criação de “um partido político que servisse de apoio à ação oficial e de porta-voz dos grandes interesses regionais”, partido efetivamente fundado no dia 13, sob a presidência de honra de Venceslau Pereira de Oliveira e presidência de Gabriel Orlando Teixeira Junqueira e comissão executiva presidida pelo senador Pena e secretariada por José Augusto de Paiva Teixeira, tendo como vice-presidente Alexandre Barbosa.
            Em 1894, afirmou ainda Hidelbrando (p. 133), Atanásio filiou-se ao então “partido situacionista” com, entre outros, João Quintino Teixeira, Manuel Borges, Antônio Pereira de Artiaga, Desidério Ferreira de Melo, Antônio Garcia Adjuto e Artur Lobo, que, este, algum tempo depois assassinaria Artiaga, diretor da Escola Normal, num dos crimes de maior repercussão no Brasil Central à época e que teve a defende-lo o advogado criminalista paulistano Alfredo Pajol, autor do livro, que o celebrizou , Machado de Assis, de 1917, um dos primeiros publicados no país sobre o grande romancista.

Literatura

            Além de articulista, cronista, muitas vezes mordaz e satírico, Atanásio foi poeta, como assinalou Quintiliano Jardim, que, inclusive, transcreveu, em seu ensaio biográfico, além do fragmento de um de seus poemas parnasianos, o soneto “Cismando”, “escrito às pressas para um certo álbum”.
            José Mendonça, ao descrever o carnaval em Uberaba em suas diversas fases e manifestações (p. 133), informou que as músicas tinham versos de Atanásio Saltão e de outros escritores uberabenses da época, como Artur Lobo, Desidério Ferreira de Melo, Antônio Cesário da Silva e Oliveira Júnior (também compositor na juventude), João Caetano de Souza e Silva, José Augusto Avelino (autor de diversos livros, sendo os mais conhecidos Memórias de João Barriga, Téia de Penélope e Escritos de Um Impressionista), Artur Costa, Gaspar de Silva (futuro visconde de São Boaventura, em Portugal), Egídio de Sousa Andrade e Moisés Santana.

Jornalismo

            Atanásio Saltão atuou intensamente na imprensa de Uberaba.
            Além de colaborar na Gazeta de Uberaba, integrou o corpo redatorial do jornal Cidade de Uberaba, órgãos hebdomadário do partido Republicano Constitucional, fundado de acordo com  Hidelbrando Pontes (A Imprensa de Uberaba, em 1895, com tiragem de 2.400 (dois mil e quatrocentos exemplares, durando 18 (dezoito) meses. Nesse jornal participaram como colaboradores os principais republicanos uberabenses, a exemplo do dr. José Ferreira, Desidério Ferreira de Melo, Artur Lobo, Antônio Cesário da Silva e Oliveira Júnior (major Cesário), Venceslau Pereira de Oliveira e ainda Alexandre Cunha Campos, João Quintino Teixeira, Aurélio de Araújo Vaz de Melo e um monarquista histórico como Antônio Borges Sampaio.
            Durante alguns anos fez parte também da redação da Lavoura e Comércio, onde, juntamente com artigo e crônicas, redigiu, ainda segundo José Mendonça (p. 231), a seção humorística intitulada ora “Musa Alegre”, assinada por Jean Qui Ri, ora “Musa Triste”, por Jean Qui Pleure, de conformidade com a natureza do tema enfocado.
            Na Revista de Uberaba, dirigida por Felício Buarque, escreveu a “Crônica Mensal”, sob o pseudônimo de “Atas” (“Athas”, como se grafava ao tempo), onde focalizou assuntos e acontecimentos da cidade em nível redacional e conteudístico que transcendeu em muito os limites provincianos (aliás, ocorrentes em qualquer parte, porque, como disse alguém, “provincianismo não é um lugar geográfico, mas, um estado de espírito”).
            O valor dessas crônicas e pertinência e alcance dos comentários que enfeixaram, fizeram que fossem, mais de quarenta anos depois (com duas guerras mundiais e o Movimento de 1930 de entremeio), republicadas num periódico da importância e da atualidade da revista Graça e Beleza, dirigida na década de 1940 e incisos dos anos 50 por Nicanor de Sousa Júnior e redatoriada sucessivamente por Vitor de Carvalho Ramos e Iná de Sousa.

As Crônicas Mensais

            Os assuntos enfocados por Atanásio Saltão em sua “Crônica Mensal” publicada na Revista de Uberaba  constituíram alguns dos principais acontecimentos ocorridos na cidade nos meses a que se referem.
            No nº 02 da revista, atinente a abril de 1904, Saltão iniciou sua colaboração permanente, comentando a inauguração do gabinete de leitura do grêmio literário Bernardo Guimarães, a equiparação do colégio do Sagrado Coração de Jesus ao então ginásio Nacional (denominado anterior e posteriormente colégio Pedro II), e a visita a Uberaba de Venceslau Brás, na ocasião líder da bancada mineira no Congresso Nacional e futuro vice-presidente da República no governo do marechal Hermes da Fonseca (novembro/1910 a novembro/1914) e presidente da República (quatriênio novembro/1914 a novembro/1918), a quem foi oferecido banquete por Artur Machado, que foi seu condiscípulo e amigo desde a juventude.
            No nº 03, de maio, tratou da organização de novo diretório político, de corrida de cavalos no prado de São Benedito, da apresentação na cidade de vaudevilles e operetas pela atriz/cantora Candelária Couto e, ainda, tanto da falta quanto da fraca comemoração, respectivamente, dos dias 1º e 13 de maio.
            No nº 04, de junho, além de aduzir, já àquela época que “esta terra é a terra das festas”, aludiu à abertura do Congresso Mineiro, às acres discussões sobre espiritismo e romanismo nos jornais Lavoura e Comércio, Gazeta de Uberaba e Correio Católico, à “desunião” da banda de música União Uberabense com a criação de outra banda, fato que considerou positivo, visto que a partir daí Uberaba teria duas e não apenas uma banda, desunião que afirma decorrente da divisão política da cidade entre Araras e Pacholas e que também atingiu os músicos, referindo-se ainda à passagem por Uberaba de três andarilhos que se dirigiam à cidade de São Luís, nos Estados Unidos, bem como à proibição de jogos de azar pelo delegado de polícia.
            Em julho, no nº 05, comentou inesperada e torrencial chuva, arrombamento de sua casa comercial, três corridas de cavalos no prado de São Benedito, pendência entre o agente executivo e a Câmara Municipal e o excesso de pó na cidade.
            Em agosto, no nº 06, registrou o fato da troupe de Candelária ter aqui ficado três meses, a festa da Abadia e uma fraca corrida de cavalos no prado.
            Já nº 07, de setembro, sua crônica abrangeu vários acontecimentos, como concerto musical do maestro Bourdot, sessão literária do grêmio literário Bernardo Guimarães comemorativa do 07 de Setembro, oferta do pintor e escultor Joaquim Gasparino ao citado grêmio de quadro retratando seu patrono, chegadas e recepções a D. Eduardo, vindo da Europa, e de João Quintino Teixeira, oriundo de Belo Horizonte, onde exercia mandato parlamentar, surgimento do jornal O Município, dos Pacholas, carta de monsenhor Inácio Xaviera da Silva a respeito de seus comentários sobre a festa da Abadia e, finalmente, a apresentação no teatro São Luís da atriz Judite Rodrigues e do autor Narciso Costa, ambos de Portugal.
            Em outubro, no nº 08, focalizou também série variada de temas, desde a inauguração da Igreja São Domingos, passando pela eleição municipal descambada para ataques pessoais, pela apresentação no teatro São Luís da peça política Homem Arara e Mulher Pachola, cujo autor apenas designou por Machado, pelos espetáculos dos mencionados artistas portugueses, até o aparecimento do Almanaque Uberabense para 1905, observando que “o lugar onde menos volumes se vendem é justamente esta cidade”, no que Uberaba continuou a mesma.
            No nº 09, de novembro, referiu-se à eleição municipal ocorrida no dia primeiro, ao dia dos mortos, afirmando que é “por convicção pela cremação dos cadáveres, mais pela purificação pelo fogo que pelo apodrecimento subterrâneo”, além de lhe repugnar ser o culto aos mortos indicado por almanaques e folhinhas, com dia marcado para essa homenagem, revelando, ainda, que a data de 15 de novembro “passou quase completamente despercebida por aqui”, bem como registrou as sessões de encerramento do ano letivo no ginásio Diocesano e na Escola Normal, ressaltando naquele os discursos de frei Jacinto Lacome e de d. Eduardo.
            Em dezembro de 1904, no nº 10, por faltar as últimas cinco páginas, não se sabe se publicada a coluna, mas, quase certamente que sim, o que não ocorreu no nº 11, de janeiro de 1905, no qual a secção não foi publicada.
            No nº 12, de março de 1905, último número editado, antes de iniciar a abordagem dos principais acontecimentos da cidade no mês de maro, Saltão informou que “no número passado” sua coluna não foi publicada por “abundância de matéria, falta de espaço”, dizendo em seguida que “quase nada houvesse de cronicável no mês de fevereiro e no princípio deste”, o que confirma que quando escreveu que “se esse último número do ano sai um pouco atrasado e datado do mês seguinte é porque se quis dar um mais aumentado [...] para mais dignamente se celebrar o próximo aniversário do bebê”, referiu-se a fevereiro como o “último mês do ano” de edição da revista e não do ano do calendário.
            Na continuação da crônica abordou, como sempre, as principais ocorrências da cidade, como o aniversário da revista, que não tinha o apoio (diz “amparo”) dos leitores de Uberaba, espetáculo no teatro São Luís em benefício do grêmio literário Bernardo Guimarães, suspensão do funcionamento das escolas normais do Estado de Minas, entre elas a de Uberaba, “por economia”, suicídio ocorrido no mês, loucura do professor da Escola Normal, Antônio Mamede de Oliveira Coutinho, a quem iria suceder na direção daquela escola, quermesse em benefício da Santa Casa de Misericórdia, reforma do jardim municipal, divergência entre os jornais Lavoura e Comércio e Gazeta de Uberaba a respeito do político dr. Bulhões, e, por fim, referencias sobre o carnaval, com seus carros alegóricos, sociedades carnavalescas, uma delas nominada “Filhos das Trevas”, bisnagas, limões de borracha e de cera, cuias e baldes de água, além da homenagem em carro alegórico prestada à Revista de Uberaba, à semelhança da que também seria consagrada, quase um século depois, pela escola de samba Bambas do Fabrício às Artes em Uberaba, destacando em carro alegórico a revista de poesia Dimensão e cujo samba-enredo, com letra e música de Adélio Leocádio Silva, constaram, ambas, do nº 27 da citada publicação.
*
            Não se obteve informação se Atanásio Saltão deixou algum livro, publicado ou mesmo inédito, nem também onde e quando faleceu.

Fim do Mundo

            Numa de suas Musas Alegres publicou, na edição de Lavoura e Comércio de 21 de novembro de 1918, o poema “Fim do Mundo” em cinco estrofes sobre a gripe espanhola que também atingiu – e fundamente – a cidade:
                        “Se estamos livres da guerra
                        Não o estamos da espanhola
                        Que percorre toda terra,
                        Sempre a tocar castanhola.

                        E vai dançando um bolero
                        Sem dar ouvido a clamores,
                        E a morte bate o pandeiro,
                        E o compasso os bons doutores.

                        E o mais triste é que atrás dela,
                        Segundo é crença geral,
                        Vêm vindo o tifo, a amarela.
                        E o cólera sepulcral.
                       
                        Então um vivo bailado,
                        Todos juntos dançarão
                        Com a fome que, de bom grado,
                        Já faz parte da função.

                        Parece que o fim do mundo
                        Vai chegando – o que faz medo.
                        - Leitor, se tens olho fundo.
                        Vai chorando enquanto é cedo.”

(apud José Soares Brilharinho, História da Medicina em Uberaba, vol. III, p.1004)




Páginas de 141 a 151.



Texto enviado por e-mail para mim pelo Dr. Guido Brilharinho.



[1] ISOBE, Rogéria Moreira Rezende. Instituição da Inspetoria Técnica no Âmbito do Projeto de Modernização da Educação Implemento com a Reforma de 1906 em Minas Gerais: estratégia de modelização do Ensino. In: Revista HISTEDBR On-line, n. 44. Campinas, 2011.
[2] GONÇALVES, Irlen Antônio. Cultura Escolar: práticas e produção dos grupos escolares em Minas Gerais (1891-1918).  Trabalho de pós-gradução stricto sensu. Belo Horizonte: UFMG, 2004.
[3] MORAES, Juliana Lopes de. A Vida Moderna (1907-1922), O Periódico- Vitrine da Cidade de São Paulo: tempos de modernidade com um leve toque português. Dissertação de Mestrado. Assis: UNESP, 2007.