#67 Mietta Santiago: uma das maiores feministas brasileiras cita Muzambinho Otávio Luciano Camargo Sales de Magalhães

#169 Ginásio São José - escola católica de Muzambinho entre 1941-1951
Otávio Luciano Camargo Sales de Magalhães

Foto Pousada Campo Primavera



MIETTA SANTIAGO

            Em Varginha residiu uma poeta admirada por Carlos Drummond de Andrade, batizada Maria Ernestina Carneiro Santiago de Souza, escolheu como pseudônimo Mietta Santiago.
            Ela se notabilizou por ser a primeira mulher a exercer plenamente os seus direitos políticos no Brasil, tendo conseguido após uma batalha judicial e política, uma decisão favorável para exercer o direito de votar e ser votada antes de que esse fosse um direito das mulheres previsto em Lei.
            Mietta Santiago militava pelo direito de todas as mulheres. Escritora, poeta, advogada, ativista feminista, nasceu em Varginha em 1903 onde viveu até 1995.
            O voto feminino foi liberado no Brasil após o fim da República Velha em 1930, mas em 1928 ela defendia que a Lei Eleitoral era inconstitucional, pois violava o artigo 70 da Constituição da República Federativa do Brasil, de 24 de fevereiro de 1891, em vigor, que dizia: “São eleitores os maiores de 21 anos que se alistarem na forma da Lei”. Com base nisso conseguiu uma liminar para que ela pudesse votar nela mesma para o cargo de deputada federal, tendo o voto considerado válido. Militou com ela também Celina Guimarães Viana. (Na época não era preciso ser inscrito ou filiado em partido para ser candidato, e, Mietta não pretendia ser eleita, apenas exercer o direito e lutar por todas as mulheres).
            O precedente de Mietta Santiago garantiu para que que Alzira Soriano Luiza Teixeira, do Partido Republicano do Rio Grande do Norte fosse eleita, antes mesmo das mulheres terem o direito de votar.
            Publicou vários livros, sendo os principais:
1.    Namorada de Deus (1936)
2.    Maria Ausência (romance, 1940)
3.    Uma Consciência unitária para a Humanidae (1981)
4.    Quase 7 poemas” (1981)

Carlos Drummond de Andrade, impressionado com a conquista do voto feminino, dedicou a Mietta o poema “Mulher Eleitora:

“Mietta Santiago loura
 poeta bacharel Conquista,
por sentença de Juiz,
direito de votar
e ser votada para vereador,
deputado, senador,
 e até Presidente da República,
Mulher votando?
Mulher, quem sabe,
 Chefe da Nação?
O escândalo abafa a Mantiqueira,
faz tremerem os trilhos da Central
e acende no Bairro dos Funcionários, melhor:
 na cidade inteira funcionária,
 a suspeita de que Minas endoidece,
 já endoideceu: o mundo acaba”.

E MUZAMBINHO?

            Ainda que feminista, ela não se desligou da religião católica totalmente, e, ainda mantinha as tradições mineiras, como mostra o seu poema “3” da coleção Poeminas, de 1981, na página 185:

vestida de anjo azul, seguindo a procissão
naquela fina Muzambinho transparente
como a geada-em-flor, gerando puro alvor
cedinho, bem cedinho, quando o sol é luar...
... eis-me na menininha de anjo azul vestida
asas de arminho rosa e nos cabelos louros
véu de filó dourado, preso na coroa
de botõezinhos tenros de cetim coral...

            Não há qualquer explicação do uso de Muzambinho no poema e nem sabemos qual a relação da poetiza com Muzambinho.


Dicionário crítico de escritoras brasileiras: 1711-2001 – Miêtta Santiago
Nelly Novaes Coelho



Há 80 anos a mulher brasileira tem direito de votar e ser votada
Sulamita Estelian[1]
 “MIETTA SANTIAGO/ loura poeta bacharel/ Conquista, por sentença de Juiz,/ direito de votar e ser votada/ para vereador, deputado, senador,/ e até Presidente da República,/ Mulher votando?/ Mulher, quem sabe, Chefe da Nação?/ O escândalo abafa a Mantiqueira,/ faz tremerem os trilhos da Central/ e acende no Bairro dos Funcionários,/ melhor: na cidade inteira funcionária,/ a suspeita de que Minas endoidece,/ já endoideceu: o mundo acaba.” (Carlos Drummond de Andrade)

Hoje, 24 de fevereiro, é dia de referenciar a memória das sufragistas, as pioneiras nos caminhos da democracia brasileira. Completa-se 80 anos da lei que deu direito ao voto à mulheres – no mundo, a Nova Zelândia saiu na frente, 1893, e nos Estados Unidos  o direito ao voto feminino chegou com a Constituição de 1920.
E este blogue nasceu, louvando a conquista em nossa Macondo, obra feminina, a partir da atitude de mulheres guerreiras –aquiaqui e aqui .
Uma potiguar, Celina Guimarães Viana, de Mossoró, no final de 1927, e uma mineira, Maria Ernestina Carneiro Santiago de Souza, em 1928. Mietta deu a si o primeiro voto para deputada federal. Não foi eleita, mas causou assombro, e ganhou o poema acima, de Carlos Drummond de Andrade.
A Lei nº 21.076 viria poucos anos depois, em 1932, pela caneta do então presidente Getúlio Vargas, ironicamente, responsável pela degola da democracia cinco anos mais tarde. E a primeira mulher eleita foi Carlota Pereira de Queiroz, médica paulistana, que assumiu em 1934, foi deputada constituinte, mas teve o mandato abortado pelo Estado Novo, em 1937.
Como se vê, as fragilidades da democracia brasileira são um pesadelo a nos assombrar. O que significa que, tudo bem, tudo certo, mas não se pode cochilar, mesmo em tempos atuais – a milicada anda com a lingua solta, pedindo um freio à sua Suprema Comandante, gostem ou não dela – aqui, no Sul21. E um bom remédio para isso é celebrar as conquistas, sim, mas cobrar os avanços e garantir a memória histórica a nos guiar na eterna vigilância.
Tais fragilidades, no plural, se corporificam na lei eleitoral, na organização partidária e na estrutura da política e na organização do trabalho na sociedade, de modo geral. Tudo isso junto faz da política um mundo essencialmente masculino, ainda.
Oitenta anos passados, elegemos uma mulher presidenta da República – o que não é pouca coisa -, mas a representação feminina nas cabeças do Executivo, nos três níveis, como nas bancadas do Legislativo municipal, estadual, federal, ainda é pífia. A despeito de nós mulheres sermos metade do eleitorado.
A Agência Patrícia Galvão publica artigo que recapitula a história do voto feminino no Brasil e no mundo e analisa o presente da participação política da mulher no país.Especialmente escrito por José Eustáquio Diniz, demógrafo e professor-doutor, titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da ENCE – Escola Nacional de Ciências Estatísticas/IBGE. Vale conferir.